ESTUDO-VIDA DE TIAGO
13/01/2012 14:56
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM UM
INTRODUÇÃO E VIRTUDES PRÁTICAS
DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(1)
Leitura da Escritura: Tg 1:1-12
Em nosso Estudo-Vida da Bíblia, temos coberto todos os livros do Novo Testamento,
exceto os livros de Tiago, Marcos, Lucas e Atos. Dos vinte e três livros que temos coberto até
aqui, dez são especialmente estratégicos: Mateus, João, Romanos, Gálatas, Efésios, Filipenses,
Colossenses, Hebreus, 1 João e Apocalipse. Podemos também considerar 1 e 2 Coríntios entre os
livros estratégicos do Novo Testamento, elevando o número desses livros a doze.
Eu encorajaria todos os santos a fazerem uma recapitulação completa dos vinte e três
livros do Novo Testamento que temos coberto em nossos Estudo-Vida. Eu encorajaria você a ler a
Versão Restauração com as notas e as referências cruzadas e também a ler as mensagens dos
Estudo-Vida sobre cada livro. Se fizer isto, você enriquecerá a si mesmo e também enriquecerá a
restauração do Senhor. Se estivermos saturados com essas riquezas, seremos capazes de
compartilhar essas riquezas com outros de três maneiras: pela pregação do evangelho, pela
apresentação da verdade, e pela vida ministradora. Então, se você encontrar alguém que se opõe
à restauração do Senhor, não precisará se justificar ou discutir. Ao invés, faça essas três coisas:
pregue o evangelho, apresente a verdade, e ministre vida. Contudo, a fim de fazer essas coisas,
nós mesmos devemos primeiro estar equipados.
Não há dúvida que os santos na restauração amam o Senhor. Todavia, mesmo que você
ame o Senhor Jesus, pode não ter ainda a habilidade espiritual ou o capital espiritual com o qual
pregar o evangelho, apresentar a verdade e ministrar vida. Esta é a razão por que eu encorajo
você a obter a educação espiritual e tornar-se saturado com todas as riquezas contidas nas
mensagens sobre os vários livros do Novo Testamento que temos coberto. Quanto mais estiver
saturado com essas riquezas, mais você estará equipado para pregar o evangelho de diferentes
maneiras a pessoas diferentes. Você também será capaz de apresentar a verdade a outros
cristãos. Cada cristão genuíno ama a verdade. Se você apresentar a verdade a um companheiro
crente, ele será atraído por ela. Muitos de nós viemos para a restauração do Senhor porque fomos
atraídos pela verdade. Ademais, em adição ao saber como pregar o evangelho e apresentar a
verdade, você será capaz de ministrar vida pelo testificar aos outros como tem experienciado
Cristo, o Todo-inclusivo, como sua vida e suprimento de vida.
O número dos santos na restauração do Senhor, nos Estados Unidos, ainda é pequeno,
apenas cerca de oito mil. Contudo, se todos os santos, na restauração, fossem saturados com as
riquezas da Palavra, tornar-se-iam testemunhas vivas. Então, a restauração do Senhor teria
milhares de repórteres, milhares de santos pregando o evangelho, apresentando a verdade, e
ministrando vida. Imagine que tipo de obra podia ser realizada se todos nós estivéssemos
equipados desta maneira!
Entretanto, um bom número de santos ainda não têm sido equipados para pregar o
evangelho, apresentar a verdade, ou ministrar vida. Quando esses santos entram em contato com
outros, parece que não têm a palavra para apresentar-lhes, embora tenham o coração para fazer
isto. Além do mais não são capazes de ministrar vida a outros. Esta é a razão por que eu
encorajo os santos a se tornarem saturados com as riquezas que o Senhor nos tem dado através
dos anos. Essas riquezas nos estão disponíveis nas mensagens dos Estudo-Vida.
ATITUDES DIFERENTES PARA COM O LIVRO DE TIAGO
Com esta mensagem, começamos o Estudo-Vida da Epístola de Tiago. Os crentes têm
sustentado atitudes diferentes para com este livro. Matinho Lutero, o grande reformador usado
Tradução não autorizada
2
pelo Senhor para iniciar a restauração, dizia que a Epístola de Tiago era uma “epístola de palha”.
Entretanto, certos cristãos, especialmente alguns cristãos chineses, apreciam este livro, pois ele se
encaixa com sua experiência ética, uma experiência que enfatiza a perfeição ética e moral. Esses
cristãos apreciam especialmente o livro de Tiago, no Novo Testamento, e o Livro de Provérbios no
Velho Testamento. No Ocidente, quando o Novo Testamento é impresso separado do Velho
Testamento, ele é geralmente impresso com o Livro de Salmos. Contudo, no Oriente, quando o
Novo Testamento é impresso separado, ele geralmente inclui o Livro de Provérbios. Parece que
os cristãos no Ocidente gostam de Salmos, ao passo que os cristãos no Oriente gostam de
Provérbios.
Conforme o conceito de alguns, o livro de Tiago é similar ao Livro de Provérbios. Esta
similaridade pode ser vista nas ilustrações que Tiago usa em sua epístola: a onda do mar (1:6), a
flor da erva (1:10), o sol com seu ardente calor (1:11). Conforme veremos quando chegarmos ao
capítulo três, no tratar com o problema da língua, Tiago usa vinte itens diferentes para suas
ilustrações (3:3-12). Em 4:14, Tiago usa a neblina como uma ilustração da vida humana, e em 5:7,
ele usa a ilustração de um lavrador esperando por sua safra amadurecer. Estas ilustrações dão à
Epístola de Tiago um caráter proverbial. Portanto, aqueles que apreciam especialmente o Livro de
Provérbios também apreciam essa epístola. Como veremos posteriormente neste Estudo-Vida, eu
também aprecio essa epístola, porém a aprecio por uma razão diferente.
UM ESCRAVO DE DEUS E DO SENHOR JESUS CRISTO
A Epístola de Tiago abre desta maneira: “Tiago, um escravo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo”. Tiago era um irmão na carne do Senhor Jesus (Mt 13:55) e de Judas (Judas 1). Ele não
era um dos doze apóstolos escolhidos pelo Senhor enquanto Ele estava na terra, mas ele se
tornou um dos apóstolos após a ressurreição do Senhor (Gl 1:19) e o presbítero líder na igreja em
Jerusalém (At 12:17; 15:2, 13; 21:18), reputado com Pedro e João ser uma coluna da igreja, e
mencionado por Paulo como o primeiro entre as três colunas (Gl 2:9).
Em 1:1, Tiago se refere a si mesmo como “um escravo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo”. Aqui, Tiago equipara o Senhor Jesus a Deus. Isto era contrário ao judaísmo, que não
reconheceu a Deidade do Senhor (Jo 5:18).
Quando Tiago estava com o Senhor Jesus na carne, ele provavelmente não O ouvia, e,
pelo menos em algum grau, pode tê-Lo desprezado. Vemos um exemplo disto em João 7.
Contudo, depois da crucificação, ressurreição e ascensão do Senhor, este irmão na carne do
Senhor Jesus tornou-se tal crente Nele que considerou seu irmão mais velho como tendo o mesmo
grau que Deus. Esta foi a razão por que Tiago pôde falar de si mesmo como um escravo de Deus
e do Senhor Jesus Cristo.
Tiago claramente reconheceu a Deidade do Senhor Jesus. Admiro Tiago por reconhecer
que Jesus, seu irmão na carne, é Deus e por dizer que ele era um escravo de Deus e Deste que é
o Senhor. Esta parte do escrito de Tiago é maravilhosa.
AS DOZE TRIBOS
Em 1:1, Tiago continua a dizer: “Às doze tribos na dispersão: Alegrai-vos!” As doze tribos
aqui se refere às tribos de Israel. Isto indica que essa epístola foi escrita aos cristãos judeus, que
tinham a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória (2:1) e foram justificados pela fé (2:24),
regenerados pela palavra da verdade (1:18) e habitados pelo Espírito de Deus (4:5) e que eram
membros da igreja (5:14), aguardando a vinda do Senhor (5:7-8). Entretanto, chamar esses
crentes em Cristo as doze tribos, como povo escolhido de Deus em Sua economia do Velho
Testamento, pode também indicar a carência de uma visão clara concernente à distinção entre
cristãos e judeus, entre a economia neotestamentária de Deus e a dispensação do Velho
Testamento, que Deus, no Novo Testamento, libertou e separou os crentes judeus em Cristo da
nação judaica, que fora então considerada por Deus uma “geração perversa” (At 2:40). Em Sua
economia neotestamentária, Deus não mais considera os crentes judaicos como judeus para o
judaísmo, mas como cristãos para a igreja. Eles, como a igreja de Deus, devem ser tão distintos e
separados dos judeus quanto dos gentios (1 Co 10:32). Contudo, Tiago, como uma coluna da
igreja, em sua epístola aos irmãos cristãos, ainda os chamou as doze tribos. (Esta pode ser a
Tradução não autorizada
3
razão por que ele dirigiu a palavra em 5:1-6 à classe rica entre os judeus em geral). Isto era
contrário à economia neotestamentária de Deus.
Em 1:1, Tiago não se dirigiu aos crentes dentre as doze tribos; ele simplesmente se dirigiu
às doze tribos. Estas doze tribos são a nação judaica. Contudo, no Dia de Pentecoste, Pedro
chamou a nação judaica uma “geração perversa”: “Com muitas outras palavras deu testemunho e
exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa” (At 2:40, lit.). Esta geração perversa era
composta das doze tribos de Israel. Alguns, entretanto, podem mostrar que, em 1:1, Tiago se
dirige às doze tribos na dispersão. Esta dispersão deve ter incluído a dispersão dos crentes judeus
de Jerusalém pela perseguição após o Pentecoste (At 8:1, 4). Contudo, com certeza, nem todos
aqueles na dispersão eram judeus cristãos. Por conseguinte, é, não obstante, um fato que Tiago
usa um termo dado por Deus a Seu povo escolhido na economia do Velho Testamento. Na
dispensação do Velho Testamento, Deus considerava os judeus as doze tribos. Todavia, no Dia
de Pentecoste, Pedro, falando por meio do Espírito Santo, considerou-os uma geração perversa e
os exortou a serem salvos.
Tiago estava errado em endereçar sua epístola às doze tribos na dispersão? Com
certeza, ele não pensava que estava errado. Entrementes, como temos mostrado, esta forma de
se dirigir pode indicar que Tiago não tinha clareza a respeito da distinção entre cristãos e judeus, e
da distinção entre a economia neotestamentária de Deus e a dispensação do Velho Testamento.
Em 1 Coríntios 10:32, vemos as três categorias de pessoas: “Não vos torneis causa de
tropeço nem para os judeus, nem para os gregos, nem para a igreja de Deus”. Aqui, vemos que,
nos tempos do Novo Testamento, as pessoas eram de três classes: os judeus – o povo escolhido
de Deus; os gregos – os gentios incrédulos; e a igreja – uma composição dos crentes em Cristo.
Isto indica que os crentes judeus devem ser considerados cristãos pela igreja, que é distinta e
separada tanto dos judeus quanto dos gentios. Portanto, os judeus que eram crentes em Cristo
eram parte da igreja e não deviam ser agrupados com aqueles judeus que ainda eram parte da
geração perversa. No último capítulo de sua epístola, Tiago considerou os recebedores membros
da igreja. Como, então, ele pôde agrupar os membros da igreja com os judeus que eram a
geração perversa? Isto certamente indica a falta de uma visão clara a respeito da economia
dispensacional de Deus.
PERFEIÇÃO CRISTÃ PRÁTICA
No final de 1:1, Tiago diz aos recebedores de sua epístola para se regozijarem. A palavra
“regozijar-se” é uma tradução da palavra grega chairein, que significa ficar feliz, regozijar-se,
saudar; era uma palavra usada para saudação ou despedida.
O assunto da Epístola de Tiago é a perfeição cristã prática. Tiago escreve não meramente
a respeito da perfeição cristã, mas concernente à perfeição cristã prática, isto é, uma perfeição que
não é teórica mas prática em nosso viver diário. É um ponto forte dessa epístola que Tiago ensina
a respeito dessa perfeição cristã prática. As muitas virtudes que ele cobre nesse livro estão
relacionadas a esta perfeição. Em 1:2, Tiago começa a nos apresentar essas virtudes.
SUPORTANDO PROVAÇÕES PELA FÉ
Em 1:2, Tiago diz: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias
provações”. Aqui, vemos que a primeira virtude relacionada à perfeição cristã prática coberta por
Tiago é a de suportar provações pela fé.
O mundo inteiro jaz no maligno, Satanás (1 Jo 5:19). Satanás se opõe continuamente a
Deus de toda maneira possível. Satanás fica descontente sempre que as pessoas se voltam para
Deus, e ele não tolerará isto. Uma vez que uma pessoa se volta para Deus, Satanás instigará os
outros a persegui-la. Paulo disse uma vez que nós cristãos somos escolhidos para sofrer
perseguição (Fp 1:29). Perseguição, portanto, é a porção escolhida para nós como crentes em
Cristo. Conseqüentemente, o primeiro aspecto da perfeição cristã prática é suportar provações,
uma palavra que inclui perseguição.
Perseguição é um sofrimento. Entretanto, provações não são meramente um sofrimento,
pois provações são um sofrimento que serve ao propósito de nos testar ou de nos provar.
Podemos usar as provas finais, na escola, como uma ilustração. Os estudantes sabem que as
Tradução não autorizada
4
provas finais podem ser um sofrimento e um teste verdadeiros. Contudo, tal teste é, na verdade,
uma ajuda aos estudantes. Se não houvesse provas finais, na escola, os estudantes
provavelmente ficariam descuidados a respeito de seus estudos. Porém, quando eles sabem que
uma prova final está chegando, eles se concentram em seus estudos com muita diligência. Por
conseguinte, uma prova final ajuda um estudante a aprender o material necessário. Por esta
razão, os pais daqueles que são estudantes devem ficar agradecidos pelas provas finais, sabendo
que isto ajuda seus filhos a tirarem proveito de sua educação.
Há também “finais” e outros tipos de “provas” na “escola de educação espiritual”. O
“diretor” dessa escola é nosso Pai celestial. Ele nos tem providenciado diferentes provações,
diferentes provas. Todas essas provações são-nos boas. Da mesma forma que as provas são
boas para os estudantes, igualmente as várias provações que enfrentamos como cristãos são
proveitosas para nós.
Talvez, depois que você creu no Senhor Jesus, você pensava que na vida cristã não
haveria quaisquer sofrimentos ou provações. Você pode ter dito a si mesmo: “Eu temo a Deus, eu
amo o Senhor Jesus, e sou um Filho de Deus. Com certeza, Deus me ama, e não permitirá que
nada mau me aconteça”. Este é o conceito de muitos crentes. Contudo, por fim, provações vêm.
Uma espécie de provação é a oposição da família e dos amigos. Tal provação é mais que mera
perseguição. A perseguição realiza o propósito do perseguidor, mas as provações são usadas por
Deus para realizar Seu propósito. Alguém pode perseguir você, porém Deus usa esta perseguição
como uma provação para testar você, para provar você.
Uma prova final serve a um propósito tríplice de experimentar, testar e provar um
estudante. Semelhantemente, as várias provações, por meio das quais devemos passar como
crentes, servem para o propósito de experimentar-nos, testar-nos e provar-nos. Essas provações
são, na verdade, uma ajuda em nossa perfeição cristã prática, pois Deus as usa para nos
aperfeiçoar.
APERFEIÇOADO POR MEIO DAS PROVAÇÕES
Deus usa as provações para nos aperfeiçoar. Se virmos isto, agradeceremos a Deus por
nos aperfeiçoar por meio de provações. As provações não são apenas para nos ajudar nas
questões de nossa educação espiritual e na experiência de vida, mas também nos ajuda com
nosso caráter e nosso comportamento em nosso viver diário. Antes de você crer no Senhor, você
pode ter sido semelhante a um leão selvagem. Contudo, depois de um espaço de tempo de
provação, o “leão” tem sido domesticado. Posso testificar que Deus tem usado provações para
“domesticar” a mim e, por meio disso, aperfeiçoar-me de uma maneira prática em minha vida
cristã.
Em 1:2, Tiago até nos encoraja a “termos por motivo de toda alegria” o passarmos por
várias provações. A razão por que podemos ter por motivo de toda alegria o passarmos por várias
provações é que essas provações nos aperfeiçoam. Note que em 1:2, Tiago fala não somente de
provações mas de “várias provações”. Isto indica que devemos considerar todas as provações
uma alegria, não somente certas provações. Por um lado, não gostamos de provações, oposição
e perseguição. Contudo, por outro lado devemos ter por motivo de toda alegria o experimentarmos
tais coisas, pois Deus as usa para nos aperfeiçoar.
Tradução não autorizada
5
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM DOIS
VIRTUDES PRÁTICAS
DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(2)
Leitura da Escritura: Tg 1:1-12
Em 1:2, Tiago nos exorta a ter por motivo de toda alegria o passarmos por várias
provações. No versículo 3, ele continua a dizer: “Sabendo que a provação da vossa fé produz
perseverança”. Fé aqui é a fé cristã dada por Deus em Cristo (2:1; Ef 2:8).
A PROVAÇÃO DA FÉ PRODUZ PERSEVERANÇA
Tiago diz no versículo 3 que a provação de nossa fé, o experimentar e testar de nossa fé,
produz perseverança. Posso testificar que minha perseverança tem aumentado como resultado de
oposição e provação. Os testes que sofremos produzem perseverança.
Perseverança é diferente de paciência. É possível ser paciente sem ter muita
perseverança. Nossa paciência pode ser frágil. O que necessitamos é de uma paciência
perseverante. Esta paciência perseverante é perseverança.
Quando você é maltratado por alguém, você pode primeiro exercitar a paciência.
Contudo, você aprenderá que a paciência somente não é adequada, pois no sofrimento de
provações, você também necessita de perseverança. Perseverança vem do provar, do
experimentar, do testar, nossa fé.
PERFEITOS E COMPLETOS
No versículo 4, Tiago continua: “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que
sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Embora Tiago possa não ter tido uma
visão clara a respeito da distinção entre graça e lei, sua epístola é notável e extraordinária a
respeito da conduta cristã, enfatizando a perfeição cristã prática, que os crentes devem ser
“perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. Isto pode ser considerado o assunto principal
de sua epístola. Tal perfeição no comportamento cristão requer as provações do tratamento
governamental de Deus, e a perseverança dos crentes pela virtude do nascimento divino, por meio
da regeneração pela palavra implantada (vs. 18, 21).
Qual é a diferença entre perfeito e completo? Como ajuda para responder esta pergunta,
podemos usar um quebra-cabeça de um quadro recortado como ilustração. Para tal quebracabeça
ficar completo significa que ele contém todas as peças. Se estiver faltando uma só peça
do quebra-cabeça, este não estará completo. Conseqüentemente, completar significa ter cada
parte de uma unidade plena. O corpo de uma pessoa são seria completo se qualquer parte
estivesse faltando. Ser completo é ter todas as partes ou peças de uma certa unidade.
Contudo, o que significa ser perfeito? Usando a ilustração do quebra-cabeça, podemos
dizer que quando todas as peças do quebra-cabeça são postas juntas, há um todo, uma entidade
perfeita. Suponha que um quebra-cabeça tenha cem peças. Se todas as peças estão à mão, o
quebra-cabeça está completo. Então, quando essas peças são postas juntas em seus lugares
certos, o quebra-cabeça está inteiro ou perfeito. Portanto, a palavra “perfeito” em 1:4 denota o
todo, a inteireza, de uma unidade.
Em 1:4, Tiago não está usando as palavras perfeitos e completos como sinônimas. O que
Tiago quer dizer aqui é que nós precisamos ter todos os itens da perfeição cristã prática. Se
tivermos cada item, seremos completos. Seguindo isto, teremos a perfeita perfeição cristã; isto é,
teremos a perfeição cristã prática como um todo.
Tradução não autorizada
6
Quando o escrito de Tiago toca a questão da perfeição cristã prática, aquele é muito
descritivo e também detalhado. Por um lado, esta perfeição deve ser completa, com cada item
presente; por outro lado, ela deve ser um todo, uma inteireza. Portanto, Tiago termina o versículo
4 com as palavras: “sem faltar em coisa alguma”. Seu desejo era que aqueles que recebessem
sua epístola fossem completos e perfeitos em sua perfeição cristã prática, sem faltar em coisa
alguma.
PEDINDO SABEDORIA A DEUS
No versículo 5, Tiago diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a
Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. Foi por Sua
sabedoria que Deus, em Cristo, fez Seu plano eterno e levou-o a cabo (1 Co 2:7; Ef 3:9-11; Pv
8:12, 22-31). E em Sua economia neotestamentária, Deus primeiro fez Cristo nossa sabedoria (1
Co 1:24, 30). A sabedoria de Deus é necessária para a perfeição cristã prática. Por esta razão,
precisamos pedir a Deus por ela.
Conforme a composição desta epístola, embora pareça que Tiago não tinha uma visão
clara a respeito da economia neotestamentária de Deus, ele tinha a sabedoria para descrever as
coisas concernentes à vida cristã prática.
Tiago foi reputado ser um homem de oração. Aqui, ele encarregou aqueles que
receberam sua epístola a orar por sabedoria. Isto implica que sua própria sabedoria foi dada por
Deus por meio da oração. Nessa epístola, Tiago enfatiza a oração (5:14-18). Oração é uma
virtude da perfeição cristã prática.
No versículo 5, Tiago nos diz que, se necessitamos de sabedoria, devemos pedir a Deus
por ela. A fim de sermos perfeitos em nosso comportamento, a necessidade básica é por
sabedoria. Uma pessoa tola não pode ser perfeita. Mas se somos cheios de sabedoria, então, em
toda atividade de nossa vida diária, comportar-nos-emos perfeitamente. Isto indica que a perfeição
é levada a cabo principalmente por meio da sabedoria. Uma pessoa sábia pode ser perfeita.
Entrementes, se carecemos de sabedoria, podemos ofender outros pelo nosso falar tolo. Nosso
falar pode indicar que não temos sabedoria adequada. Quando somos faltos de sabedoria,
devemos pedir a Deus por ela.
Tiago diz que se pedirmos sabedoria a Deus, Ele nos dará generosamente e não
improperará. Dar generosamente é dar com simplicidade e liberalidade, sem reserva (Rm 12:8; 2
Co 8:2).
A palavra de Tiago aqui indica que ele é piedoso e que conhece Deus. Nesse versículo,
Tiago não disse: “Se você carece de sabedoria, aprenda de mim. Deixe-me dar a você algumas
aulas expositivas ou alguns livros para ler. Então, você terá sabedoria”. Ao invés de falar desta
maneira, Tiago, sendo piedoso, encoraja os leitores de sua epístola a pedirem a Deus. Ele
conhece Deus e, em particular, sabe que Deus é generoso. Tiago nos diz, nesse versículo, que
quando Deus dá, Ele não censura. Contudo, uma pessoa mesquinha não quer dar nada. Se ela
verdadeiramente dá algo, ela pode dar com censura, com palavras que ferem. O Deus generoso
não é como tal homem. Deus dá generosamente, e Ele dá sem censura. Sendo um homem
piedoso, um homem que conhecia Deus, Tiago entendia isto.
PEDINDO COM FÉ
No versículo 6, Tiago continua a dizer: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o
que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento”. As palavras gregas
traduzidas “duvidando” e “duvida” também significam oscilando e oscila. Alguém que oscila na
oração é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento.
UMA PESSOA DE ÂNIMO DOBRE
Os versículos 7 e 8 dizem: “Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma
coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos”. Deus fez o homem
somente uma alma, com uma mente e uma vontade. Quando um crente duvida na oração, ele se
Tradução não autorizada
7
torna de ânimo dobre, semelhante a um navio com dois timões, inconstante na direção. Fé na
oração é também uma virtude da perfeição cristã prática.
Os versículos 6 a 8 indicam que Tiago verdadeiramente era um homem piedoso. Sem
dúvida, ele era um homem de sabedoria, um homem de fé e um homem de oração. Como tal
homem, ele conhecia Deus.
GLORIANDO-SE NA EXALTAÇÃO E EM SER
HUMILHADO
Nos versículos 9 e 10 Tiago continua: “Mas glorie-se o irmão de condição humilde na sua
exaltação, e o rico na sua humilhação; porque ele passará como a flor da erva”. A palavra grega
traduzida “glorie-se”, no versículo 9, também significa jactar-se ou regozijar-se. Quando um irmão
de condição humilde se gloria e se regozija na sua exaltação, esta o leva espontaneamente a
louvar o Senhor (5:13). Ele não deve gloriar-se de uma maneira secular sem louvar o Senhor.
Contudo, embora seja fácil para um irmão de condição humilde gloriar-se, regozijar-se e louvar o
Senhor em sua exaltação, em sua elevação ou em situação de soerguimento, não é fácil para um
rico fazer assim ao ser humilhado. Não obstante, quer seja em exaltação ou sendo humilhado,
regozijar-se e louvar é uma virtude da perfeição cristã prática.
Todos nós precisamos entender que não importa quão ricos possamos ser, nosso
ambiente pode mudar. Uma pessoa pode ser rica hoje, mas depois de um curto período de tempo
ela pode ser pobre. Por exemplo, um irmão pode ter uma alta posição no emprego, e rápida e
inesperadamente ele pode ser rebaixado ou mesmo demitido. Visto que tais coisas acontecem,
não devemos pôr nossa confiança em nosso ambiente, fortuna, posição ou educação.
No versículo 11, Tiago explica: “Porque o sol se levanta com seu ardente calor, e a erva
seca, e a sua flor cai, e desaparece a formosura do seu aspecto; assim também se murchará o rico
em seus caminhos”. Que palavra sensata àqueles que buscam riquezas! Contudo, é uma palavra
consoladora aos ricos que estão sendo humilhados por meio da perda de suas riquezas.
Tiago usou a onda do mar, no versículo 6, para ilustrar um coração duvidoso, e a flor da
erva, no versículo 10, para retratar o homem rico murchado. Assim sendo, no versículo 11, ele usa
o sol, nos céus, com seu ardente calor, para ilustrar o fator murchante das riquezas do homem sob
o tratamento governamental de Deus. Ele usou até o giro dos planetas, no versículo 17, para
ilustrar uma variação que está em contraste com Deus, com a invariabilidade do Pai. Ao tratar com
o problema de nossa língua, em 3:3-12, ele usou vinte espécies de coisas para ilustrações.
Ademais, ele usou a neblina, em 4:14, para retratar o breve aparecimento de nossa vida, e a
paciência do lavrador, em 5:7-8, para nos ensinar como aguardar a vinda do Senhor. Ele era um
homem sábio e experimentado, não somente com a experiência da vida humana, mas também
com a sabedoria da fonte divina, por meio da busca pela oração (v. 5; 3:13, 15, 17). Contudo,
parece que ele pode ter sido frustrado pela sua afinidade e compromisso com o judaísmo, de ter
uma visão plena da sabedoria a respeito da economia neotestamentária de Deus, como Paulo viu
e revelou em suas epístolas.
RECEBENDO A COROA DA VIDA
No versículo 12, Tiago diz: “Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque,
depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o
amam”. Os versículos 2 a 12 lidam com provações. Provações vêm do ambiente dos crentes para
provarem sua fé (vs. 2-3) por meio do sofrimento (vs. 9-11). Os crentes devem suportar as
provações com toda alegria (v. 2), por causa de seu amor pelo Senhor, para que possam receber a
bênção da coroa da vida. No versículo 12, a palavra “aprovado” refere-se à aprovação da fé dos
crentes (v. 3).
A coroa da vida é a glória, a expressão, da vida. Os crentes suportam as provações pela
vida divina, e isto se tornará sua glória, sua expressão, a coroa da vida, como um galardão para
eles, na aparição do Senhor, para seu desfrute, no reino vindouro (2:5).
A palavra “vida”, no versículo 12, indica que o pensamento subjacente dos versículos 12 a
27 é a necessidade crucial da vida divina. O Pai gerador e Seu gerar-nos, Seu fazer-nos as
Tradução não autorizada
8
primícias de Suas criaturas (vs. 17-18, 27), a palavra de vida implantada (v. 21) e a lei de vida
perfeita (v. 25) são todos confirmações disto.
No versículo 12, Tiago diz que a coroa da vida é prometida àqueles que amam o Senhor.
Crer no Senhor é receber a vida divina para nossa salvação; amar o Senhor é crescer na vida
divina para maturidade, para que possamos ser qualificados para um galardão – a coroa da vida –
para desfrutar a glória da vida divina no reino.
A MANEIRA DE SUPORTAR PROVAÇÕES
No versículo 2, Tiago diz: “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por
várias provações”. Então, no final dessa seção sobre o suportar provações pela fé, ele diz no
versículo 12: “Bem-aventurado o homem que suporta a provação“. Nos versículos 3 a 11, Tiago
mostra a maneira de suportar provações. Se desejamos suportar provações, primeiro devemos
pedir a Deus sabedoria. Se não suportamos provações, isto pode significar que carecemos de
sabedoria, pois um homem sábio sempre suporta provações. Por exemplo, suponha que um irmão
que está casado apenas por um curto período de tempo é ofendido por sua esposa. Ele então
começa a considerar a possibilidade de divórcio. Este é um pensamento tolo. Se esse irmão fosse
sábio, ele jamais consideraria o divórcio. Uma pessoa sábia não pensa desta maneira. Esse
irmão precisa de sabedoria a fim comportar-se adequadamente com sua esposa.
Sem sabedoria, nosso comportamento como cristãos não pode ser perfeito. A fim de
sermos perfeitos particularmente para suportar provações, precisamos de sabedoria. Se
desejamos suportar provações, a primeira coisa que necessitamos fazer é orar para que o Senhor
dê-nos sabedoria. Naturalmente, essa oração deve ser com fé.
Segundo, se desejamos suportar provações, não devemos ter qualquer confiança em
nosso ambiente, pois ele pode mudar. Quer sejamos soerguidos ou rebaixados, nossa atitude
para com o ambiente deve ser a mesma.
A fim de suportar provações, devemos pedir sabedoria, orando com fé. Por isto,
necessitamos de um entendimento genuíno da vaidade da vida humana. Quer sejamos ricos ou
pobres, nobres ou humildes, a vida humana é vã. Se entendermos isto, seremos capazes de
suportar provações e sermos bem-aventurados.
Tiago diz que o homem que suporta provações é bem-aventurado, pois, tendo se tornado
aprovado, ele receberá a coroa da vida. Esta é uma forte indicação de que Tiago considera a
perfeição cristã prática como emergindo da vida divina que recebemos no momento de nossa
regeneração, nosso nascimento divino. A vida que recebemos por meio da regeneração deve ser,
agora, desenvolvida para o âmbito de uma coroa. De que maneira é a vida divina desenvolvida
para o âmbito de uma coroa? Ela é desenvolvida pelo pedir a Deus sabedoria, e também pelo
entender a vaidade da vida humana. Por conseguinte, precisamos de sabedoria, oração, fé e o
entendimento da vaidade da vida humana. Todavia, a questão crucial é a vida divina.
Se não tivéssemos a vida divina, não seríamos capazes de suportar provações. Aqueles
santos que entendem que têm a vida divina dentro deles e que exercitam essa vida terão a vida
divina desenvolvida para o âmbito de uma coroa. Essa coroa é uma expressão gloriosa da vida
divina interior recebida por meio de nosso nascimento divino. Essa coroa será o galardão que o
Senhor dará àqueles que O amam.
A NECESSIDADE DE UMA VISÃO CLARA DA ECONOMIA
NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Temos visto que Tiago era um homem piedoso, um homem que conhecia a Deus e amava
o Senhor. Ademais, Tiago era um homem de sabedoria, um homem de oração e de fé, um homem
que entendia a situação verdadeira da vida humana, e também um homem que era capaz e estava
disposto a suportar sofrimentos com alegria. Entretanto, é possível, mesmo para um homem
piedoso, carecer de uma visão clara a respeito da economia de Deus. Por todos os séculos, tem
havido muitos crentes que eram pessoas piedosas como Tiago. Contudo, um após o outro eram
carentes de uma visão clara a respeito da economia de Deus. Pode haver milhares de crentes
dessa forma hoje. Alguns cristãos podem pensar que é suficiente ser piedoso como Tiago. Eles
pensam que é adequado conhecer a Deus, amar a Deus, ser um homem de oração e de fé, e ser
Tradução não autorizada
9
capaz de suportar provações com alegria. Porém, desejamos dizer que não é adequado ser tal
pessoa piedosa, pois mesmo tal homem como Tiago pode carecer de uma visão adequada a
respeito do mover de Deus nas várias dispensações.
A razão pela qual eu aprecio o livro de Tiago é que essa epístola mostra a possibilidade de
que podemos ser aqueles que conhecem a Deus, que amam a Deus, e que são cheios de
sabedoria e de fé, contudo não têm uma visão clara da economia de Deus. Todos nós
necessitamos saber o que a restauração do Senhor é. A restauração do Senhor é simplesmente a
restauração da economia de Deus.
Muitos crentes são piedosos como Tiago. Eles amam a Deus, confiam em Deus, e oram
com fé. Todavia, eles não sabem nada a respeito da economia de Deus. Esses crentes não
podem satisfazer o desejo de Deus. O desejo do coração de Deus só pode ser cumprido por
aqueles que conhecem a Deus e são piedosos, e que, como Paulo, também têm uma visão clara a
respeito da economia de Deus nesta era.
Temos mostrado que Tiago usa muitas figuras nessa epístola: a onda do mar, a erva da
terra, o sol com seu ardente calor, os planetas, a neblina, e a paciência do lavrador. Tiago,
seguramente, era um homem sábio e experimentado. Ele não tinha somente experiência da vida
humana, mas, mediante a oração, também tinha obtido sabedoria da fonte divina. Nada obstante,
parece que, por sua afinidade com o judaísmo e compromisso com ele, ele foi frustrado de ter uma
visão plena da economia neotestamentária de Deus.
Tiago era o filho de Maria, uma mulher que era santa e piedosa. Sua oração registrada no
capítulo um do Evangelho de Lucas indica que ela tinha conhecimento da Palavra de Deus, pois,
em sua oração, ela citou muitos versículos do Velho Testamento. Sem dúvida, ela deu a seus
filhos, incluindo Tiago, uma educação piedosa. Tiago, portanto, foi educado na atmosfera do
judaísmo. É plausível que Tiago amasse o judaísmo.
O fato que Tiago era simpatizante do judaísmo e compromissado com ele pode ser visto
no capítulo 21 de Atos. Tiago e os outros presbíteros disseram a Paulo que havia milhares de
crentes judeus que eram zelosos da lei. A partir da leitura desse capítulo, nós podemos ver que,
com Tiago e com aqueles em Jerusalém, o horizonte espiritual não era claro. Antes, o horizonte
era nebuloso. No caso de Tiago, o horizonte pode ter ficado nublado por sua piedade. Ele era
reputado, junto com João e Pedro, ser uma coluna da igreja, e, sem dúvida, ele era o líder.
Todavia, embora Tiago fosse considerado tão altamente, com ele havia mistura e falta de clareza
concernente ao mover de Deus. Essa mistura foi também a causa para Deus enviar Tito, um
general do Império Romano, com o exército romano, para destruir a cidade de Jerusalém, incluindo
o templo. Se isto não tivesse acontecido, a mistura de judaísmo com a economia
neotestamentária de Deus podia ter continuado por séculos. Deus, entrementes, jamais aprovaria
ou justificaria tal mistura.
Tradução não autorizada
10
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM TRÊS
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(3)
Leitura da Escritura: Tg 1:13-27
UMA VISÃO EQUILIBRADA DA EPÍSTOLA DE TIAGO
Depois de estudar os escritos de Paulo e todas as mensagens dos Estudos-Vida sobre
esses escritos, sem dúvida, não seremos influenciados para receber a luz concernente à economia
de Deus e para sermos decididamente por ela. Contudo, há a possibilidade de sermos
descuidados em nosso comportamento ou negligenciarmos a questão da perfeição cristã prática.
Por conseguinte, precisamos do equilíbrio proporcionado pelo livro de Tiago.
Lutero disse que a Epístola de Tiago era uma epístola de palha. Ao dizer isto, Lutero foi
tanto injusto, quanto estava errado. Precisamos entender que, depois da revelação nos escritos de
Paulo a respeito da economia de Deus, Deus encaixou o livro de Tiago, um dos sete livros do Novo
Testamento que não foi plenamente reconhecido até o Concílio de Cartago em 397 d. C. Antes
daquele tempo, havia incerteza se essa epístola devia ser considerada parte da Palavra Santa.
Finalmente, o livro de Tiago foi reconhecido como parte das Escrituras.
Uma Palavra Equilibrada
Uma característica notável da Epístola de Tiago é que ela indica que podemos ser muito
fortes na economia de Deus, contudo podemos não ser completos e íntegros em nosso
comportamento cristão, em nossa vida pessoal diária. Muitos de nós podemos testificar que
tivemos a visão concernente à economia de Deus, e que somos absolutos por essa visão.
Entrementes, ainda precisamos prestar atenção a nosso comportamento em nossa vida diária. Um
irmão pode ficar facilmente irado com sua esposa, ou uma irmã pode não ter a atitude adequada
para com seu marido. Em tais casos, tanto o irmão quanto a irmã não são completos nem
íntegros. Isto é uma ilustração do fato que precisamos da palavra equilibrada encontrada no livro
de Tiago.
Uma Forte Advertência
Em acréscimo ao equilíbrio fornecido, a Epístola de Tiago também serve como uma forte
advertência que é possível ser muito piedoso e, contudo, não ter clareza a respeito da visão da
economia neotestamentária de Deus. Conforme a história da igreja, Tiago foi notável por viver
uma vida piedosa. Um relato diz que Tiago passava muito tempo ajoelhado em oração, que seus
joelhos se tornaram calejados. Tiago, certamente, era um homem piedoso, um homem de oração,
e a oração é enfatizada em sua epístola. Não obstante, Tiago pode não ter tido uma visão clara a
respeito da distinção entre graça e lei; isto é, ele pode não ter tido uma visão clara concernente à
economia de Deus. Em seus escritos, há sinais de que essa era a situação. Entretanto, sua
epístola é notável e maravilhosa a respeito da conduta cristã e enfatiza a perfeição cristã prática.
Por esta razão, em 1:4, Tiago mostra que os crentes devem ser “perfeitos e íntegros, em nada
deficientes”.
É, entretanto, justo mostrar que, no livro de Tiago, temos tanto um equilíbrio quanto uma
advertência. Precisamos desse livro. Caso contrário, haveria um vácuo, uma carência, na
Palavra Santa.
É importante que não tenhamos uma visão desequilibrada da Epístola de Tiago. Por um
lado, precisamos ver que essa epístola mostra que Tiago pode ter carecido de uma visão clara da
economia de Deus. Por outro, esse livro mostra a necessidade da perfeição cristã prática. Dos
Tradução não autorizada
11
vinte e sete livros do Novo Testamento, catorze foram escritos por Paulo. As epístolas de Paulo
estão ocupadas com a economia de Deus, a dispensação de Deus. Essa economia é vital e
crucial. Contudo, a fim de levar a cabo a economia de Deus, precisamos da perfeição cristã
prática. Isto significa que não devemos ser descuidados em nosso viver diário. Podemos usar um
soldado do exército como ilustração. A responsabilidade principal de um soldado é lutar por seu
país. Todavia, a fim de ser um bom combatente, um soldado necessita estar adequado em sua
vida pessoal diária. Semelhantemente, embora sejamos soldados, combatentes, para a economia
de Deus, precisamos ainda ser completos e íntegros em nossa vida cristã diária.
A Posição de Tiago
O lugar do livro de Tiago é mostrado por sua posição no arranjo dos livros do Novo
Testamento: ele vem imediatamente depois das quatorze epístolas de Paulo. As epístolas de
Paulo, de Romanos a Hebreus, todas elas cobrem o assunto maior da economia de Deus.
podemos assemelhar essas epístolas à entrada principal de um edifício. Nós então podemos
comparar a Epístola de Tiago à uma pequena porta perto dessa entrada. Embora a “entrada” das
epístolas de Paulo seja crucial, nós ainda precisamos da “porta” da Epístola de Tiago.
A Importância de Ser Equilibrado em Nossa Vida Cristã
O livro de Tiago é um equilíbrio para aqueles que são desequilibrados em sua vida cristã.
Talvez, em sua vida cristã, você seja totalmente pela economia de Deus. Entrementes, em sua
vida pessoal diária, você pode estar muito aquém no modo que fala e manuseia os assuntos. A
respeito de muitas coisas, você pode necessitar de sabedoria. Embora seja um bom soldado
lutando pela economia de Deus, em sua vida diária, você pode não ser completo e íntegro. Você
pode não confiar muito em Deus, e não pode orar a Ele a respeito de suas necessidades. Visto
que você é bom na maioria das coisas, mas carente em certas coisas práticas, você precisa de
equilíbrio em sua vida cristã. A primeira coisa que a Epístola de Tiago nos fornece é este equilíbrio
necessário.
Como temos mostrado, o livro de Tiago também serve como uma advertência. Tiago foi
distinto na questão da perfeição cristã prática; ele era um homem piedoso que conhecia Deus, que
amava a Deus, e que orava a Deus. Contudo, Tiago foi estorvado por sua piedade e velado por
sua religião de ter uma visão plena concernente à economia neotestamentária de Deus.
Em 1:27, Tiago fala de “a religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai”. No que
diz respeito ao comportamento humano adequado, podemos precisar ser religiosos. Podemos ser
totalmente para a economia de Deus, e contudo podemos estar errados no modo como falamos
aos outros ou lidamos com eles. Suponha que um irmão diz: “Você não sabe que eu sou
totalmente para a economia de Deus? Tenho sacrificado tudo por isto. Dia após dia, entrego meu
futuro ao Senhor para Sua economia. Você não aprecia isto?” Sim, tal irmão pode ser para a
economia de Deus, mas ele ainda precisa da perfeição cristã prática em sua vida diária. Uma vez
mais, vemos que precisamos ser equilibrados: precisamos de uma visão clara a respeito da
economia de Deus, e precisamos da perfeição cristã prática.
Devemos ficar cautelosos a partir da Epístola de Tiago, pois podemos ser muito piedosos,
contudo ainda carentes de uma visão clara acerca da economia de Deus. Alguém pode ser
piedoso, humilde, e manso, em sua vida diária. Mas pode não ser capaz de batalhar pela
economia de Deus. A fim de batalhar pela economia de Deus, devemos aprender a estratégia
adequada. Paulo era uma pessoa que era equilibrada. Por um lado, ele era um excelente
combatente; por outro, era uma pessoa piedosa. Paulo até encorajou Timóteo, seu cooperador, a
exercitar-se na piedade (1 Tm 4:7). Ao prestar atenção às coisas maiores da economia de Deus,
não devemos negligenciar os detalhes práticos de nossa vida pessoal diária.
A maioria dos cristãos de hoje prestam mais atenção às questões menores, em sua vida
diária, do que às questões maiores da economia neotestamentária de Deus. De fato, muitos
cristãos buscadores se preocupam muito pouco com as coisas que são verdadeiramente maiores.
Esses cristãos podem ser religiosos e piedosos, podem orar muito, podem ter fé e perseverança, e
podem amar a Deus. Em sua vida cristã, eles são imitadores de Tiago. Contudo, não têm visto a
economia de Deus.
Tradução não autorizada
12
Visto que nos é possível ser essa espécie de cristão, precisamos da advertência de que
podemos ser piedosos e contudo não vermos a economia de Deus. Podemos ser completos e
íntegros a respeito da conduta cristã, mas podemos não saber como lutar a batalha para levar a
cabo a economia de Deus. Portanto, estou encarregado de enfatizar a importância de sermos
equilibrados em nossa vida cristã. Precisamos ver a economia de Deus, e precisamos ser
aperfeiçoados em nossa vida pessoal diária, de modo que possamos ser completos e íntegros.
Precisamos tanto do equilíbrio quanto da advertência encontrados no livro de Tiago. Considerando
esse livro, precisamos ser equilibrados, reconhecendo que a “entrada” das epístolas de Paulo
ainda precisa da ajuda da “porta” do livro de Tiago.
RESISTINDO À TENTAÇÃO PELA VIDA DIVINA
Em 1:2-12, consideramos a primeira das virtudes práticas da perfeição cristã cobertas
nesse livro ___ suportar provações pela fé. Em 1:13-18, chegamos a um segundo item ___ resistir à
tentação como nascidos de Deus.
Nos versículos 13 a 18, a primeira questão é resistir à tentação, e a segunda é Deus nos
gerando pela regeneração. Deus nos levou a termos um novo nascimento. Por meio dessa
espécie de nascimento, a vida é sempre impartida. Quando Deus nos regenerou, levando-nos a
ter um nascimento divino, a vida divina nos foi impartida. Nesses versículos, há a implicação de
que resistimos à tentação pela vida divina que recebemos em nosso nascimento divino. Por
conseguinte, o título desta seção é “Resistir à Tentação como Nascidos de Deus”.
Visto que nascemos de Deus, somos agora os filhos de Deus, possuindo a vida de Deus.
Esta vida divina é o meio, o “capital”, para resistirmos à tentação. A vida divina tem sido
depositada dentro de nós, e, assim, temos a competência, energia, força e poder para resistirmos
à tentação.
TENTADOS PELA COBIÇA
Tiago 1:13 diz: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não
pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a ninguém tenta”. A palavra grega para “tentado”, aqui,
também significa experimentado, testado. A palavra grega para provações ou provação, nos
versículos 2 e 12 é peirasmos, e para tentado é peiraso. As duas palavras são muito próximas,
ambas significam experimentar, testar, provar. Ser tentado, testado, provado, pelo sofrimento
ambiental exterior é uma provação (v. 2). Ser experimentado, testado, provado, pelo seduzir
lascivo interior é uma tentação (v. 14). A provação é tratada nos versículos 2 a 12; a tentação é
tratada nos versículos 13 a 21. Quanto à provação, devemos suportá-la pelo amar ao Senhor para
alcançar a bênção ___ a coroa da vida. Quanto à tentação, devemos resistir-lhe pelo receber a
palavra implantada para alcançar salvação, a salvação de nossa alma (v. 21).
No versículo 13, Tiago diz que Deus não pode ser tentado pelo mal e que Ele mesmo a
ninguém tenta. “Tentado” no grego, aqui, é apeirastos, não provado, por conseguinte, não sujeito
à tentação, não ser tentado, incapaz de ser tentado. A palavra grega para “tentar” aqui é peirazo.
O Diabo, não Deus, é o tentador (Mt 4:3, 1 Ts 3:5).
Nos versículos 14 e 15, Tiago continua: “Mas cada um é tentado pela sua própria cobiça,
quando esta o atrai e seduz; então a cobiça, havendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado,
sendo consumado, gera a morte”. O tentador, o Diabo, é o pai gerador do pecado (1 Jo 3:8, 10),
que tem o poder da morte (Hb 2:14) por meio do pecado (1 Co 15:56). Ele injetou o pecado em
Adão, por meio do qual a morte a passou a todos os homens (Rm 5:12).
PROVAÇÕES E TENTAÇÕES
Em nossa vida cristã, somos testados por duas categorias de coisas. A primeira categoria
é positiva, e a segunda categoria é negativa. A primeira categoria inclui provações e sofrimentos
que nos testam e nos provam. Perseguição, sofrimento, e um ambiente pobre nos provam, nos
testam, e provam onde nos encontramos diante de Deus. A segunda categoria, que é negativa,
inclui tentação. Por exemplo, seus colegas no trabalho podem ser usados por Satanás para tentar
Tradução não autorizada
13
você a se engajar numa certa forma de atividade mundana. Você pode também ser tentado de
muitas outras maneiras. Quando vê aquele carro, você deseja ter um igual. Isto é tentação.
Semelhante às provações, as tentações também nos testam e nos provam. Ser testado
pelo sofrimento ambiental externo é uma provação, mas ser testado pelo seduzir da cobiça interior
é uma tentação. O convite para engajar-se em atividades mundanas ou a visão do carro novo de
alguém pode excitar a cobiça dentro de nós. Isto não é uma provação; é uma tentação.
Precisamos suportar provações, porém necessitamos resistir à tentação. A fim de suportar
provações, precisamos de sabedoria. Entretanto, sabedoria não é suficiente para resistirmos à
tentação. A fim de resistir à tentação, precisamos da vida divina.
Em nossa vida cristã, as tentações são mais freqüentes que as provações. Podemos ter
provações periodicamente, mas podemos ter tentações diariamente, mesmo a cada hora.
Algumas vezes, as tentações vêm uma após outra. Por exemplo, na escola, um jovem pode ser
tentado quando vê um colega de sala com um tipo especial de caneta. Imediatamente, ele é
tentado e deseja ter uma caneta como aquela.
A razão de algo como uma caneta poder tornar-se-nos uma tentação é que temos os
“germes” da cobiça dentro de nós. Se não tivéssemos esses germes em nós, nada nos poderia
ser uma tentação. É a cobiça em nós que leva muitas coisas a nos serem tentações. Ao que
precisamos resistir não é verdadeiramente às coisas que nos tentam, mas à cobiça dentro de nós.
Conforme temos mostrado, sabedoria não é suficiente para isto. Podemos ter sabedoria, contudo
não temos o poder para resistir à cobiça. Se desejamos resistir à cobiça em nós, precisamos de
uma outra vida, a vida de Deus.
GERADOS PELA PALAVRA DA VERDADE
Conforme veremos, o versículo 18 diz que nosso Pai nos produziu, nos regenerou, pela
palavra da verdade, que é a palavra da realidade divina. Quando ouvimos o evangelho, ouvimos a
palavra da realidade de Deus. Quando recebemos essa palavra, fomos renascidos. Pelo
nascimento divino, a vida divina foi impartida a nosso ser. Agora, não somente possuímos a vida
divina, mas estamos desfrutando essa vida com sua natureza divina. Essa vida é a força, o poder
interior, pelo qual podemos resistir aos germes da cobiça que estão dentro de nós.
O PAI DAS LUZES
Nos versículos 16 e 17, Tiago continua a dizer: “Não vos enganeis, meus amados irmãos.
Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não
pode existir variação ou sombra de mudança”. Neste versículo, dádiva refere-se ao ato de dar, e o
dom refere-se à coisa dada. As luzes aqui se referem aos luminares celestiais. O Pai é o Criador,
a fonte, desses corpos celestiais. Com Ele não existe sombra de mudança, como existe com os
orbes celestiais na lua girando seu lado escuro para nós, ou no sol sendo eclipsado pela lua, pois
Ele não é variável, nem mutável. Como tal, Ele é incapaz de ser tentado pelo mal, nem tenta a
ninguém.
Conforme o versículo 17, tanto a dádiva quanto o dom são de cima, descendo do Pai das
luzes. Anos atrás, eu pensava que as luzes, no versículo 17, eram luzes espirituais e que, aqui,
Tiago estava dizendo que Deus é o Pai dessas luzes espirituais. Contudo, nos anos recentes,
descobri que essas não são luzes espirituais; antes, são corpos celestiais, tais como o sol, a lua,
os planetas e as estrelas.
Como Deus pode ser chamado o Pai desses corpos celestiais? Ele é chamado o Pai
dessas luzes porquanto elas foram criadas por Ele. Conforme Atos 17, tudo criado por Deus foi
produzido por Ele. Neste sentido, Ele é o Pai de tudo que Ele produziu. Visto que os corpos
celestiais foram criados por Deus, Ele é o Pai das luzes, dos luminares.
Tiago diz que com o Pai das luzes não existe variabilidade, nem variação, ou sombra de
mudança. Anos atrás, eu entendi que isto significa que, porquanto Deus nunca gira, nunca muda,
não existe qualquer sombra de trevas. Entretanto, mesmo quando eu peguei este entendimento
havia uma dúvida interior se esse era o significado real aqui. Tiago está dizendo que, porquanto
Deus nunca muda, não existe trevas com Ele? Finalmente, aprendi que, nesse versículo, Tiago
está se referindo ao movimento dos corpos celestiais, tal como aqueles dos planetas em suas
Tradução não autorizada
14
órbitas ou rotação. Tais movimentos podem causar escuridão, como durante um eclipse do sol.
Porém, Deus não muda. Com Ele não existe variabilidade como existe com os orbes celestiais.
Agora, podemos entender que Tiago se refere aos orbes no sistema solar para mostrar
que o Pai, Aquele que nos gerou é estável. Com Ele, não existe qualquer mudança. Por
conseguinte, não devemos dizer que somos tentados por Deus. Visto que Deus é estável, Ele não
tenta a ninguém, e Ele não pode ser tentado. Baseado no entendimento da estabilidade de Deus,
Tiago enfatiza o fato que nosso Pai gerador nunca nos tenta. Ao contrário, sempre que somos
tentados, somos tentados por nossa cobiça. Então, a cobiça tendo concebido, dá à luz o pecado.
O pecado quando está plenamente consumado, gera a morte. Cobiça é o fator de tentação que
produz pecado, e o pecado gera morte.
PRIMÍCIAS DAS SUAS CRIATURAS
No versículo 18, Tiago diz a respeito de Deus o Pai: “Tendo proposto, Ele nos gerou pela
palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das Suas criaturas”. O fato que Deus
propôs significa que Ele nos gerou por Sua própria vontade, por Sua intenção, para realizar Seu
propósito, pelo gera-nos, para que pudéssemos ser as primícias de Suas criaturas.
O pecado, a fonte das trevas, gera a morte. Contudo, o Pai das Luzes nos gerou para
sermos as primícias de Suas criaturas, cheios da vigorosa vida que amadurece primeiro. Isto se
refere ao nascimento divino, nossa regeneração (Jo 3:5-6), que é levado a cabo conforme o
propósito eterno de Deus.
Conforme o versículo 18, Deus nos gerou pela palavra da verdade. A palavra da verdade
é a palavra da realidade divina, a palavra daquilo que o Deus Triúno é (Jo 1:14, 17). Essa palavra
é a semente da vida, pela qual fomos regenerados (1 Pe 1:23).
Tiago diz que Deus nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que
primícias das Suas criaturas. Deus renovará toda a Sua criação para ter um novo céu e uma nova
terra com a Nova Jerusalém como o centro (Ap 21:1-2). Ele primeiro nos regenerou, para sermos
as primícias de Sua nova criação, pelo impartir de Sua vida divina ao nosso ser, por meio da
palavra de vida implantada, para que pudéssemos viver uma vida de perfeição. Esta deve ser a
semente da perfeição cristã prática. Essa vida consumar-se-á na Nova Jerusalém como o centro
vivo do novo universo eterno de Deus.
Tradução não autorizada
15
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM QUATRO
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(4)
Leitura da Escritura: Tg 1:19-27
PRONTO PARA OUVIR, TARDIO PARA FALAR, TARDIO PARA SE IRAR.
Nesta mensagem, consideraremos 1:19-27. No versículo 19, Tiago diz: “Sabeis estas
coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio
para se irar”. As palavras gregas traduzidas “sabeis estas coisas” podem também ser traduzidas
“sabei estas coisas”. O ouvir nos tenta a falar, e falar é o fogo que acende a ira (ver 3:6). Se
refreamos nosso falar (1:26), extinguimos nossa ira. A palavra de Tiago aqui, para o fortalecimento
da sua visão da perfeição cristã prática, se assemelha ao tom dos provérbios do Velho Testamento
(Pv 10:19; 14:17).
No versículo 20, Tiago continua: “Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus”.
A justiça de Deus não necessita da ajuda da ira do homem. A ira do homem é inútil em realizar a
justiça de Deus.
ACOLHER COM MANSIDÃO A PALAVRA IMPLANTADA
No versículo 21, Tiago continua a dizer: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e
acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa
para salvar a vossa alma”. Aqui, a palavra de Deus é assemelhada a uma planta de vida plantada
em nosso ser e crescendo em nós para produzir fruto para a salvação de nossas almas.
Precisamos receber a palavra de Deus em mansidão, em toda a submissão, sem resistência.
Conforme o contexto desse capítulo, a salvação de nossas almas implica o suportar as
provações ambientais (vs. 2-12), e o resistir à tentação da cobiça (vs. 13-21). A visão de Tiago
acerca da salvação de nossas almas é, de alguma forma, negativa, definitivamente não tão
positiva quanto aquela de Paulo, que diz que nossa alma pode ser transformada, pelo Espírito
renovador, à própria imagem do Senhor, de glória em glória (Rm 12:2; Ef 4:23; 2 Co 3:18).
Devemos apreciar Tiago por dizer que precisamos receber, em mansidão, a palavra
implantada, que é poderosa para salvar nossas almas. Em seus escritos, Paulo não usou a
expressão “palavra implantada”. Esta expressão indica que a palavra é de vida. Aqui, Tiago
assemelha a palavra a uma planta que é plantada no solo de nosso coração. Desta maneira, a
palavra torna-se a palavra implantada. Depois que a palavra de Deus tem sido plantada no solo de
nosso coração, ela crescerá e terá o poder para salvar nossa alma.
No versículo 21, é-nos dito para receber a palavra implantada com mansidão. Neste
versículo, mansidão não significa bondade; aqui, mansidão significa submissão, sem resistência.
Receber a palavra com mansidão é não rejeitá-la, mas ser submisso à palavra. Devemos receber
a palavra de Deus implantada em nosso ser com total submissão. Tudo o que a palavra de Deus
diz, devemos receber dizendo: “Amém”. Conforme diz o hino, devemos “Amém (concordar com) a
Palavra de Deus” (Hymns, 1218).
Se recebemos a palavra implantada com mansidão, com submissão, isto significa que
somos totalmente abertos para a palavra de Deus. Somos como a terra que está aberta para
receber a semente do agricultor e a chuva do céu. Deus planta, ou semeia, Sua palavra em nosso
coração, e devemos receber Sua palavra com mansidão. Isto é receber, em mansidão, a palavra
implantada. Porquanto essa palavra é viva, depois que ela foi plantada em nosso coração, ela
crescerá. Além do mais, à medida que a palavra cresce, ela salvará nossa alma.
Tradução não autorizada
16
A PALAVRA IMPLANTADA PODEROSA PARA SALVAR NOSSA ALMA
Em 1:14 e 15 Tiago diz: “Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando
esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado,
uma vez consumado, gera a morte”. Aqui, vemos que a tentação está relacionada à cobiça.
Ademais, a cobiça tem muito a ver com a alma. O salvar da alma envolve tanto o suportar
provações como o resistir às tentações.
Perseguição, provação, e tentação, para a maioria, afetam nossa alma. Por exemplo,
suponha que o carro novo de um irmão foi roubado, e ele está triste por causa disso; ele está
sofrendo em sua alma. Da mesma forma, se um irmão perde seu emprego, ele também sofrerá
em sua alma. A maioria dos sofrimentos afeta nossa alma. Como podemos resistir a esses
sofrimentos? Conforme temos mostrado, o poder para resistir ao sofrimento é por intermédio da
vida divina que está dentro de nós. Como nascidos de Deus, resistimos à tentação também pela
vida divina.
NUTRIDOS POR MEIO DA PALAVRA
Se desejamos resistir à tentação, precisamos ser nutridos por meio do receber a palavra
implantada. Podemos usar o comer alimento como uma ilustração. Embora possamos ser
fisicamente saudáveis, ainda precisamos comer alimentos nutricionais todo dia. Embora tenhamos
vida física, ainda precisamos diariamente de nutrição. Se eu não comesse o desjejum de manhã,
não teria força para trabalhar. O princípio é o mesmo com a vida divina. Por meio da regeneração,
Deus tem impartido Sua vida para dentro de nós. Contudo, esta vida requer nutrição, e a nutrição
de que precisamos é a palavra implantada. Cada dia, precisamos ir à Bíblia para receber a palavra
de Deus. Em nossa vida espiritual, necessitamos de um bom “desjejum” cada dia. Quando
comemos nosso desjejum espiritual, recebemos a palavra implantada. À medida que Deus planta
Sua palavra dentro de nós, cada manhã, essa palavra se torna nutrição para nosso homem
interior, e fortalece nosso espírito. Uma vez que nosso espírito tem sido fortalecido, ele sustentará
nossa alma. Como resultado, nossa alma terá a força para se opor ao sofrimento e resistir à
tentação. Isto significa que, por meio da nutrição da palavra implantada, experienciamos a
salvação de nossa alma.
Se nossa alma não está fortalecida dessa maneira, ela não será capaz de resistir às
provações e tentações. Por exemplo, se um irmão não é nutrido por intermédio da palavra
implantada, sua alma não será capaz de se opor à perda de um emprego ou à de uma quantia de
dinheiro. Tal perda sempre afetará nossa alma. Satanás usa tais sofrimentos para nos derrubar.
Como, então, nossa alma pode ser suprida em meio a tais sofrimentos? Nossa alma somente
pode ser suprida por um espírito que tem sido nutrido por meio da palavra implantada.
Percebendo isto, Paulo orou para que os santos fossem fortalecidos no homem interior (Ef 3:16).
Nossa alma necessita de ser fortalecida no homem interior, e o homem interior é o espírito.
Contudo, como pode o espírito ser fortalecido? O espírito é fortalecido pelo ser nutrido com a
palavra de Deus implantada.
Muitos de nós podem testificar que nosso espírito tem sido fortalecido pela palavra de
Deus implantada. Se gastarmos algum tempo pela manhã para tomar a palavra de Deus para
dentro de nós, nosso espírito será fortalecido. Uma vez que nosso espírito está fortalecido, ele
susterá nossa alma. Então nossa alma, estando fortalecida dessa maneira, será capaz de se opor
às provações e resistir às tentações.
Sabemos, por experiência, que se nosso espírito não está fortalecido e nossa alma não
está sustentada por um espírito forte, nós, facilmente, somos derrotados por provações ou
tentações. O resultado é fracasso. Isto significa que embora tenhamos sido salvos em nosso
espírito, não estamos sendo salvos diariamente em nossa alma. Antes, dia após dia, há uma
perda para nossa alma; até perdemos nossa alma. Você sabe por que perdemos nossa alma?
Perdemos nossa alma porquanto não recebemos sustento de nosso espírito. Se nosso espírito
está “vazio”, carente de ar celestial, ele não será capaz de suster nossa alma. Portanto,
precisamos da palavra implantada para “inflar” nosso espírito. Se nosso espírito estiver cheio com
o ar divino, ele estará fortalecido e capacitado a suster nossa alma. Como resultado, nossa alma
será salva.
Tradução não autorizada
17
Dia após dia, precisamos receber, em mansidão, a palavra implantada, que é poderosa
para salvar nossa alma. A palavra implantada é cheia de energia para salvar nossa alma. Essa
palavra, em 1:21, certamente é um excelente assunto no escrito de Tiago.
Cada dia, nossa alma é testada pelos sofrimentos do ambiente externo e pelas cobiças
sedutoras internas. Por esta razão, nossa alma precisa ser salva. Conforme temos mostrado, a
fim de que nossa alma seja salva, ela precisa ser abastecida, por meio do nosso alimentar diário, a
partir da palavra implantada. Isto requer que recebamos a palavra de Deus da mesma forma que
recebemos nosso alimento diário. Se uma criança se recusa a comer, ela se tornará fraca e
doentia. Se uma criança se recusa a comer o alimento nutritivo, ela não é submissa nem mansa
na questão do comer. Toda criança precisa receber, em mansidão, o alimento servido por sua
mãe. Se comer um alimento sadio, dessa maneira, ela ficará forte e sadia. De modo semelhante,
precisamos receber, em mansidão, a palavra implantada.
A LEI PERFEITA
Em 1:25, Tiago fala da lei perfeita, a lei da liberdade: “Aquele, porém, que atenta bem para
a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra,
este tal será bem-aventurado no seu feito”. A lei perfeita, a lei da liberdade, não é a lei de letras,
escritas em tábuas de pedra, fora de nós, contudo a lei da vida inscrita em nossos corações (Hb
8:10), o padrão moral que corresponde àquele da constituição do reino decretada pelo Senhor no
monte (Mt 5 ___ 7). Visto que a lei de letras foi incapaz de dar vida ao homem (Gl 3:21), mas foi
capaz apenas de expor a fraqueza e falha do homem, e mantê-lo em escravidão (Gl 5:1), ela foi
uma lei de escravidão. Uma vez que a lei perfeita de vida é a função da vida divina que foi
impartida para dentro do nosso ser, na regeneração, e nos supre plenamente, em nossa vida
cristã, com as riquezas insondáveis da vida divina para nos libertar da lei do pecado e da morte, e
cumpre todos os justos requisitos da lei de letras (Rm 8:2, 4), ela é a lei da liberdade. É a lei de
Cristo (1 Co 9:21), mesmo o próprio Cristo, vivendo dentro de nós para nos regular pela impartição
da natureza divina para dentro do nosso ser, para que possamos viver uma vida para expressar a
imagem de Deus. Tiago pode ter considerado que essa lei é a regra básica da vida cristã para a
perfeição cristã prática.
O Novo Testamento e a Lei da Vida
A respeito da lei perfeita, a lei da liberdade, uma interpretação é que a lei perfeita se refere
a todo o Novo Testamento. Nossas notas dizem que a lei perfeita, a lei da liberdade, é a lei da
vida dentro de nós. Na verdade, essas duas interpretações são uma. Ao usar a lei do Velho
Testamento como uma ilustração, podemos mostrar como isso é. Quando falamos da lei de
Moisés, nós, costumeiramente, temos em mente os Dez Mandamentos. Entrementes,
freqüentemente, todo o Velho Testamento é chamado a lei e os profetas (Mt 7:12; 22:40). Nos
tempos antigos, os judeus consideravam o Velho Testamento como consistindo de duas partes ___
a lei e os profetas. Os “profetas”, naturalmente, compreendiam todos os livros dos profetas.
Então, o restante do Velho Testamento, incluindo os Salmos, era considerado a “lei”. De modo
similar, podemos dizer que todo o Novo Testamento é uma nova lei para nós. A lei do Velho
Testamento foi escrita em tábuas de pedra. Ela não foi escrita dentro das pessoas. Contudo, o
Novo Testamento está escrito em nossos corações (Hb 8:10). Primeiramente, Deus escreveu a lei
perfeita, a lei da liberdade, nos vinte e sete livros do Novo Testamento. Segundo, quando Ele nos
gerou por meio da regeneração, Ele escreveu essa lei dentro do nosso ser. Agora, temos dentro
de nós uma lei de vida que corresponde a todo o Novo Testamento. Portanto, as duas
interpretações da lei perfeita ___ a que se refere ao Novo Testamento, e a que se refere à lei da
vida ___ são uma. Por um lado, a lei perfeita é todo o Novo Testamento; por outro, é a lei da vida
inscrita dentro do nosso ser.
A palavra “atenta” indica que a lei perfeita é algo que pode ser lido. Isto indica que a lei
perfeita se refere ao Novo Testamento e não apenas à lei da vida em nosso ser. A lei da vida pode
ser sentida, mas ela não é legível. O fato que a lei perfeita é legível indica que ela denota não
somente a lei da vida, mas também todo o Novo Testamento.
Tradução não autorizada
18
O princípio da lei do Novo Testamento foi escrito dentro do nosso ser e se tornou a lei da
vida dentro de nós. A diferença entre a velha lei e a nova é que a velha lei foi escrita apenas em
tábuas, ao passo que a nova foi escrita tanto a tinta quanto dentro do nosso ser. Conforme temos
mostrado, essa nova lei se tornou a lei da vida dentro de nós, e essa lei corresponde a todo o Novo
Testamento. Essa é a lei perfeita, a lei da liberdade.
A Lei da Liberdade
Embora a lei do Novo Testamento seja mais resumida que a lei do Velho Testamento, a
nova lei é perfeita, ao passo que a velha lei não é perfeita. Ademais, a nova lei é a lei da
liberdade, contudo a velha lei é a lei da escravidão. A lei do Velho Testamento era a lei da
escravidão, porquanto ela não tinha a capacidade de impartir vida. Essa lei podia fazer exigências
e condenar. Visto que ela levava as pessoas à servidão da escravidão, ela era a lei da escravidão.
Todavia, a lei do Novo Testamento dá vida; imparte vida para dentro do nosso ser. A vida
impartida para dentro de nós, por meio da lei do Novo Testamento, liberta-nos da lei do pecado e
da morte. Por conseguinte, essa lei, a lei perfeita, é a lei da liberdade.
RELIGIÃO PURA
No versículo 26, Tiago continua a dizer: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de
refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã”. Aqui, a palavra grega
traduzida “religioso” é threskos, um adjetivo; threskeia, o substantivo para religião, significa serviço
cerimonial e adoração a Deus, implicando o temor de Deus. O adjetivo é usado somente aqui, no
Novo Testamento. O substantivo é usado aqui e no versículo 27, num sentido positivo, em
Colossenses 2:18 (para adoração) num sentido negativo, e em Atos 26:5, num sentido geral.
O escrito de Tiago a respeito da economia neotestamentária de Deus não é tão notável
quanto o de Paulo, de Pedro e de João. Paulo foca Cristo vivendo e sendo formado em nós (Gl
2:20; 4:19), e Cristo magnificado em nós e vivido a partir de nós (Fp 1:20-21), para que nós, como
a igreja, Seu Corpo, nos tornemos Sua plenitude, Sua expressão (Ef 1:22-23). Pedro enfatiza o
fato que Deus nos regenerou por meio da ressurreição de Cristo (1 Pe 1:3), tornando-nos
participantes de Sua natureza divina, para que vivamos uma vida de piedade (2 Pe 1:3-7), e
sejamos edificados casa espiritual para expressarmos Suas virtudes (1 Pe 2:5, 9). João enfatiza a
vida eterna dada a nós para nossa comunhão com o Deus Triúno (1 Jo 1:2-3), e o nascimento
divino, que traz para dentro de nós a vida divina como a semente divina, para vivermos uma vida
como Deus (1 Jo 2:29; 3:9; 4:17), e sermos a igreja, como um candelabro portando o testemunho
de Jesus (Ap 1:9, 11-12), que se consumará na Nova Jerusalém para expressar Deus pela
eternidade (Ap 21:2-3, 10-11). Tiago enfatiza, como características do Novo Testamento, somente
o nosso gerar por Deus (Tiago 1:18), a lei perfeita da liberdade (1:25), o Espírito que habita
interiormente (4:5) e um pequeno ínfimo da igreja (5:14), sem falar de Cristo como nossa vida e da
igreja como a expressão de Cristo, as duas características do Novo Testamento mais notáveis e
dispensacionais. Conforme sua epístola, Tiago deve ter sido muito religioso. Deve ter sido devido
a isso e à sua perfeição cristã prática que ele foi reputado, junto com Pedro e João, coluna, mesmo
o primeiro, na igreja em Jerusalém (Gl 2:9). Entretanto, ele não era poderoso na revelação da
economia neotestamentária de Deus em Cristo, contudo ele ainda estava sob a influência do pano
de fundo da velha religião judaica ___ de adorar a Deus com cerimônias e viver uma vida no temor
de Deus. Isso é provado pelas palavras em Atos 21:20-24 e nesta epístola, 2:2-11.
Em 1:26, Tiago fala daquele que não refreia sua língua, mas engana seu próprio coração,
que sua religião é vã. Não refrear a língua é falar prontamente (v. 19) e livremente sem restrição.
Isto sempre engana o falar do coração de alguém, enganando sua consciência, a consciência de
seu coração.
No versículo 27, Tiago diz: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é
esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do
mundo”. Esta palavra de Tiago, para o fortalecimento de sua visão da perfeição cristã prática,
implica um elemento dos encargos do Velho Testamento (Dt 14:29; 24:19-21, 12-13).
Tradução não autorizada
19
Manter-se incontaminado do mundo é não ser mundano, não ser maculado pelo
mundanismo. Esta palavra acerca do guardar-se incontaminado do mundo é também uma parte
da visão do temor de Deus por Tiago da perfeição cristã prática. Visitar órfãos e viúvas é agir
conforme o coração amoroso de Deus, uma característica positiva da perfeição; e guardar-se
incontaminado do mundo é ser separado do mundo conforme a natureza santa de Deus, uma
característica negativa da perfeição.
OS TRÊS PONTOS PRINCIPAIS
No capítulo um da Epístola de Tiago, três pontos principais são cobertos: o nascimento
divino (v. 18), receber a palavra implantada (v. 21), e a lei perfeita da liberdade (v. 25). Primeiro,
Deus nos gerou, nos regenerou, pela palavra da verdade. Conseqüentemente, a palavra da
verdade é a semente da vida para nosso nascimento divino. Depois de sermos regenerados por
recebermos essa semente, precisamos continuar a receber a palavra implantada, que é poderosa
para salvar nossa alma na nossa vida diária. Conforme o versículo 18, a palavra da verdade é
para regeneração em nosso espírito. Conforme o versículo 21, precisamos da palavra implantada
para a salvação diária de nossa alma. Ademais, conforme os versículos 25 a 27, precisamos da lei
perfeita da liberdade, de modo que vivamos uma vida temente a Deus, uma vida que pode ser
considerada religiosa no sentido apropriado. Tal vida corresponde ao coração de Deus, que é
amor, e à natureza de Deus, que é santidade.
Negativamente, o capítulo um de Tiago trata com suportar provações e resistir às
tentações. Verdadeiramente, o conteúdo intrínseco desse capítulo compreende três aspectos da
palavra divina: a palavra da verdade para regeneração, a palavra implantada para a salvação da
alma, e todo o Novo Testamento como a palavra de Deus para ser a lei da liberdade. Temos visto
que a lei da liberdade se refere à lei da vida, que tem sido plantada dentro do nosso ser como um
princípio. Esta lei interior nos ajuda a viver uma vida de amor e santidade, uma vida que é
conforme o coração e a natureza de Deus.
Quero enfatizar o fato que cada um dos três pontos principais cobertos em Tiago 1 está
relacionado à palavra divina: primeiro, a palavra no aspecto da verdade para regeneração;
segundo, a palavra no aspecto da implantação para a salvação diária da alma; e terceiro, a palavra
se referindo a todo o Novo Testamento como a nova lei, a lei que tem sido trabalhada dentro do
nosso ser, para tornar-se um princípio interior pelo qual vivemos uma vida piedosa, conforme o
coração amoroso e a natureza santa de Deus.
Tradução não autorizada
20
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM CINCO
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(5)
Leitura da Escritura: Tg 1:18, 21, 25-27; At 21:17-26
Temos mostrado que precisamos ter uma visão equilibrada da Epístola de Tiago. Por um
lado, essa epístola é útil em enfatizar a perfeição cristã prática. Por outro, essa epístola serve
como uma advertência de que é possível, mesmo para um homem muito piedoso, não ter clareza a
respeito da economia neotestamentária de Deus.
O QUE TIAGO DIZ A RESPEITO DA ECONOMIA
NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
Em 1:26 e 27, Tiago diz: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua,
antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o
nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardarse
incontaminado do mundo”. Esses versículos, nos quais Tiago fala de religião, indica que a
escrita de Tiago a respeito da economia neotestamentária de Deus não é tão notável quanto a de
Paulo, Pedro ou João. Paulo enfoca Cristo vivendo e sendo formado em nós (Gl 2:20; 4:19) e
Cristo sendo magnificado em nós e vivendo a partir de nós (Fp 1:20-21), para que nós, como a
igreja, Seu Corpo, nos tornemos Sua plenitude, Sua expressão (Ef 1:22-23). Pedro enfatiza o fato
que Deus nos regenerou por meio da ressurreição de Cristo (1 Pe 1:3), fazendo-nos participantes
de Sua natureza divina, de modo que vivamos uma vida de piedade (2 Pe 1:3-7) e sejamos
edificados uma casa espiritual para expressar Suas virtudes (1 Pe 2:5, 9). João enfatiza a vida
eterna dada a nós para nossa comunhão com o Deus Triúno (1 Jo 1:2-3), e o nascimento divino,
que traz para dentro de nós a vida divina como a semente divina, para vivermos uma vida como
Deus (1 Jo 2:29; 3:9; 4:17) e sermos a igreja, como um candelabro, portando o testemunho de
Jesus (Ap 1:9, 11-12), que consumará na Nova Jerusalém para expressar Deus pela eternidade
(Ap 21:2-3, 10-11). Eu espero que todos os santos, especialmente os jovens, estudarão esse
resumo dos escritos de Paulo, Pedro e João a respeito da economia neotestamentária de Deus e
entrarão, totalmente, em cada ponto.
O que Tiago diz em sua epístola a respeito da economia neotestamentária de Deus?
Tiago enfatiza, como características do Novo Testamento, somente o sermos gerados por Deus
(1:18), a lei perfeita da liberdade (1:25), o Espírito intra-habitante (4:5), e uma breve referência à
igreja (5:14). Entretanto, ele menciona essas coisas sem falar de Cristo como nossa vida, e da
igreja como a expressão de Cristo, as duas características mais notáveis e dispensacionais do
Novo Testamento. Mostrar esses assuntos concernentes à Epístola de Tiago é ter uma visão clara
e equilibrada.
A RELIGIÃO PURA
Conforme sua epístola, Tiago deve ter sido muito religioso. Em 1:27, ele usa a palavra
“religião” num sentindo positivo quando fala a respeito de “a religião pura e imaculada diante de
nosso Deus e Pai”. Tiago continua a dizer que essa religião pura é visitar os órfãos e as viúvas em
suas aflições e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo. Visitar os órfãos e as viúvas em
suas aflições é agir conforme o coração amoroso de Deus, e guardar-se incontaminado do mundo
é comportar-se conforme a natureza santa de Deus. Sem dúvida, esta é uma religião muito boa,
mesmo a melhor religião, uma religião conforme o coração e a natureza de Deus. Não obstante,
embora Tiago pudesse escrever tal palavra acerca da religião pura, ele não tinha uma visão clara a
Tradução não autorizada
21
respeito da economia neotestamentária de Deus. Esta é uma questão que precisa ser enfatizada
sempre de novo.
A NECESSIDADE DE EQUILÍBRIO NA VIDA CRISTÃ
Em nossa vida cristã, precisamos ter equilíbrio entre a perfeição cristã prática e a
economia neotestamentária de Deus. O fato que o corpo humano tem dois ombros, dois braços,
duas mãos, duas pernas, e dois pés indica que há um equilíbrio na criação de Deus. Não
devemos ser cristãos desequilibrados. Precisamos ser equilibrados com a economia de Deus e
com nossa perfeição cristã prática. Naquilo que tenho escrito acerca da Epístola de Tiago, tenho
me esforçado para ser equilibrado, mostrando, do lado positivo, que nessa Epístola de Tiago
temos a perfeição cristã prática e, do lado negativo, temos uma advertência de que uma pessoa
piedosa pode não ter uma visão clara da economia neotestamentária de Deus.
Pode ter sido devido à religião de Tiago e à sua perfeição cristã prática que ele foi
reputado, junto com Pedro e João, ser uma coluna, mesmo o primeiro, na igreja em Jerusalém (Gl
2:9). Entretanto, ele não era forte na revelação da economia neotestamentária de Deus em Cristo.
Antes, ele ainda estava sob a influência do pano de fundo da velha religião judaica ___ de adorar a
Deus com cerimônias e viver uma vida no temor de Deus. Isto é provado pelo que ele disse em
2:2-11, e por suas palavras em Atos 21:10-24.
A SITUAÇÃO NO CAPÍTULO VINTE E UM DE ATOS
Consideremos agora a situação em Atos 21. O versículo 18 diz: “No dia seguinte Paulo foi
em nossa companhia ter com Tiago, e estavam presentes todos os presbíteros”. Depois que Paulo
os saudou, “contou minuciosamente o que Deus fizera entre os gentios por seu ministério” (v. 19).
Quando ouviram esse relato, “glorificaram ao Senhor e disseram-lhe: Bem vês, irmão, quantos
milhares de judeus há que crêem, e todos são zelosos da lei”. A palavra grega traduzida
“milhares”, na verdade, significa miríades, dezenas de milhares. Este versículo indica que Tiago,
que tomou a liderança para falar a Paulo acerca dos milhares de judeus que criam e contudo eram
zelosos da lei, cria no Senhor Jesus, mas ainda pregava e ensinava a lei de Moisés. Embora ele
tivesse sido salvo pela graça, ainda guardava a lei. O que temos aqui em Atos 21 ___ a
dispensação da lei ou a dispensação da graça? Nesse capítulo, temos uma mistura. Deus não
toleraria essa mistura da dispensação da lei com a dispensação da graça.
Ao avaliarmos Tiago, precisamos usar uma escala celestial, uma escala que tem os
escritos de Tiago acerca da perfeição cristã prática, por um lado, e sua palavra em Atos 21, por
outro. Somente quando temos ambos os lados, podemos ter uma visão equilibrada de Tiago. Por
exemplo, se tivéssemos somente o capítulo um de Tiago, mas não o capítulo vinte e um de Atos,
nossa avaliação de Tiago poderia ser muito elevada. Contudo, se tivermos também Atos 21,
nossa visão será mais equilibrada.
Tenho consultado alguns bons livros sobre a Epístola de Tiago. Porém, nos comentários
sobre Tiago, nenhum desses livros se refere a Atos 21. Por conseguinte, eu desejo enfatizar o fato
que, se desejamos ter uma visão equilibrada de Tiago, precisamos considerar sua epístola em
comparação com o pano de fundo de Atos 21. Quando lemos esse capítulo, podemos entender
por que Tiago endereçou sua epístola às doze tribos, e também por que, no capítulo dois, ele usa
o termo “sinagoga”. O fato que Tiago fala das doze tribos e da sinagoga indica que ele tinha
misturado as coisas do judaísmo com as questões da vida cristã segundo a economia
neotestamentária de Deus. A própria palavra de Tiago aponta para tal mistura.
Em Atos 21, Tiago aconselhou, até induziu, Paulo a ir para o templo com aqueles que
tinham feito voto: “Faze, pois, isto que te dizemos: temos quatro varões que fizeram voto. Toma
estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos
ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu
mesmo andas guardando a lei” (vs. 23-24). Por aquele tempo, Paulo já havia escrito os livros de
Romanos e Gálatas, livros nos quais ele diz que a lei havia sido anulada. Não obstante, ele agiu
conforme a sugestão de Tiago.
Paulo tinha ido a Jerusalém, onde a primeira igreja tinha sido estabelecida. Conforme
Atos 21, ele se encontrou com Tiago, que era uma coluna da igreja, e com todos os presbíteros.
Tradução não autorizada
22
Sem dúvida, Pedro e João estavam presentes. Paulo testemunhou de como Deus o havia usado
para trabalhar entre os gentios, e eles glorificaram o Senhor por isto. Então continuaram a mostrar
que, em Jerusalém, havia miríades de crentes que eram zelosos da lei. É difícil crer que Tiago, um
homem reputado ser tão piedoso, pudesse dizer tal palavra ao apóstolo Paulo, e que pudesse
induzi-lo a provar aos judeus que ele continuava a guardar a lei. Tiago disse a Paulo que os
judeus que eram zelosos da lei “já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus
que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar os
filhos, nem andar segundo o costume da lei” (v. 21). Andar segundo o costume da lei é andar
segundo as ordenanças. Então, Tiago, continuou a pedir a Paulo para ir com os quatro homens,
que tinham feito voto, para se purificar com eles. Provavelmente, o voto que eles haviam feito era
o voto de nazireu. Agora, lhes era exigido raspar suas cabeças e oferecer sacrifícios diariamente,
por um período de sete dias.
Quando li essa porção da Palavra pela primeira vez, anos atrás, achei difícil crer que
Paulo aceitara o conselho de Tiago. Não obstante, ele seguiu a palavra de Tiago e foi para o
templo com os outros e participou do voto. Parece que Paulo não pôde evitar ser influenciado por
aquele ambiente com sua mistura.
UMA POSSÍVEL RAZÃO PARA O COMPORTAMENTO DE PAULO
Paulo, entrementes, pode ter tido motivo para seu comportamento. Se isto lhe fosse
pedido, ele poderia ter se referido à sua palavra aos coríntios: “Procedi, para com os judeus, como
judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim
vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem
lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo,
para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de
ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”
(1Co 9:20-22). Ademais, Paulo podia ter dito: “Quando escrevi os livros de Romanos e Gálatas, eu
estava com os gentios, assim, comportei-me como um gentio. Porém, agora, em Jerusalém, eu
estou com os judeus, e me comporto como um judeu”. Todavia, qualquer que tenha sido o caso,
Paulo aceitou o conselho de Tiago e se uniu àqueles que tinham feito o voto.
Em Atos 21:26-28, vemos que quando os sete dias estavam por findar, certos judeus
viram Paulo no templo, alvoroçaram o povo, e agarraram a Paulo. Isto pode indicar que o Senhor
não concordava com o que Paulo estava fazendo e permitiu-lhe ser preso. Por fim, Paulo foi
enviado a Roma para ser julgado diretamente pelo César Nero. Embora Paulo fosse um apóstolo
forte, ele ainda era humano, e aceitou o conselho dos presbíteros judaicos em Jerusalém. Deus,
no entanto, não quis tolerar a situação.
UMA MISTURA DO NOVO COM O VELHO
Temos uma base sólida, na Bíblia, para dizer que Tiago não estava firme na revelação da
economia neotestamentária de Deus em Cristo. Na verdade, Tiago estava, de alguma forma, fora
da economia de Deus. Como temos mostrado, ele ainda estava sob a influência do pano de fundo
da velha religião judaica. Sua palavra em Atos 21 definitiva e claramente indica isto.
Podemos dizer que a visão de Tiago era obscura acerca da distinção entre a nova
economia de Deus e Sua velha dispensação. Esta obscuridade pode ter sido devido à forte
tradição na qual Tiago estava, e ao pano de fundo sob o qual estava. Essa tradição e o pano de
fundo operavam juntamente com a simpatia de Tiago pelo judaísmo para levá-lo a sacrificar a nova
economia de Deus e comprometer-se com a velha dispensação. Esse comprometimento produziu
uma mistura que era intolerável para Deus.
O princípio divino é sempre manter as dispensações de Deus distintas e separadas. Em
Atos 21 , mesmo Paulo tornou-se, de alguma maneira, envolvido nessa mistura por causa da
atmosfera, do céu nublado, em Jerusalém. A simpatia do homem pela tradição e o pano de fundo
sempre produzem uma mistura do novo com o velho. É uma vergonha que um homem temente a
Deus como Tiago tivesse tomado parte em tal mistura. Isto está registrado nas Escrituras, e é
certamente justo chamar nossa atenção para ela, de modo que possamos entender a necessidade
de ter uma visão clara a respeito da economia neotestamentária de Deus.
Tradução não autorizada
23
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM SEIS
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(6)
Leitura da Escritura: Tg 2:1-26
Nesta mensagem, consideraremos o capítulo dois da Epístola de Tiago.
NENHUMA ACEPÇÃO DE PESSOAS
O versículo 1 diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor
da glória, em acepção de pessoas”. Este versículo indica que esta epístola, especialmente este
capítulo, foi escrito aos crentes do Novo Testamento no Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória.
Aqui, Tiago nos diz para não termos a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em
acepção de pessoas. Isto certamente é uma virtude da perfeição cristã. Se temos a fé do glorioso
Senhor, não devemos fazer acepção de pessoas.
O RICO E O POBRE NA SINAGOGA
No versículo 2, Tiago continua: “Se, portanto, entrar na vossa sinagoga algum homem com
anéis de ouro nos dedos, em trajos de luxo, e entrar também algum pobre andrajoso”. Aqui,
“sinagoga” é a forma aportuguesada da palavra grega synagoge, composta de sun, junto, e ago,
trazer; portanto, uma reunião, um ajuntamento, uma congregação, uma assembléia; por transição,
o local de reunião. Ela foi usada no Novo Testamento para denotar a congregação (At 13:43; 9:2;
Lc 12:11) e o lugar de congregar (Lc 7:5) dos judeus, onde eles buscavam o conhecimento de
Deus pelo estudo das Santas Escrituras (Lc 4:16-17; At 13:14-15). Em Jerusalém, havia um
número regular de sinagogas de vários tipos de judeus (At 6:9). Esta palavra, usada aqui por
Tiago, pode indicar que os crentes judeus consideravam sua assembléia e o local de reunião
também uma das sinagogas entre os judeus. Se é assim, isto carrega, como faz toda a epístola,
um caráter judaico; e pode indicar que os cristãos judeus se consideravam ainda como uma parte
da nação judaica, como o povo escolhido de Deus conforme o Velho Testamento, e, de tal modo,
eles careciam de uma visão clara a respeito da distinção entre o povo escolhido de Deus, do Velho
Testamento, e os crentes em Cristo do Novo Testamento.
Vemos, uma vez mais, que embora Tiago fosse um homem muito piedoso, ele não tinha
uma visão clara a respeito da economia neotestamentária de Deus. Eu estou preocupado que, nos
anos por vir, certos santos pensem que é muito bom ser como Tiago, piedoso e perfeito em caráter
e comportamento. Conforme temos mostrado, precisamos ser equilibrados em nossa vida cristã;
isto é, precisamos cuidar da economia neotestamentária, e também ter, em nosso viver diário, a
perfeição cristã prática necessária. Temos visto, a partir dessa epístola, que, por um lado, Tiago
indica que precisamos da perfeição cristã prática e que, por outro, essa epístola serve como uma
advertência que mesmo um homem piedoso pode não ter uma visão clara da economia de Deus.
Isto foi a razão por que, na mensagem precedente, consideramos a palavra de Tiago em Atos 21.
A mistura, em Jerusalém, entre as dispensações velha e nova foi a causa para Deus permitir, ao
exército romano, destruir a cidade. Nada é mais ofensivo para Deus que opor-se à Sua economia.
Naturalmente, se temos um caráter pobre, ser-Lhe-emos ofensivos. Contudo, um caráter pobre
não é uma questão tão séria quanto ser contrário à economia de Deus.
A respeito de um homem rico e de um homem pobre que possam entrar na sinagoga,
Tiago perguntou aos recipientes de sua epístola: “E tratardes com deferência o que tem os trajos
de luxo e lhe disserdes: Tu, assenta-te aqui em lugar de honra; e disserdes ao pobre: Tu, fica ali
em pé ou assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés, não fizestes distinção entre vós
mesmos e não vos tornastes juízes tomados de perversos pensamentos?” (vs. 3-4). Quaisquer
Tradução não autorizada
24
distinções que existiram entre o rico e o pobre entre os irmãos cristãos foram uma vergonha para o
Senhor e para a salvação de Sua vida divina.
Um irmão pobre ao ler esses versículos pode elogiar Tiago. Entretanto, alguém com uma
visão clara concernente à distinção entre a economia de Deus no Antigo Testamento e no Novo
pode dizer: “Tiago, você tem clareza que não deve haver qualquer distinção entre rico e pobre,
porém você não tem tanta clareza que existe uma distinção entre as duas dispensações”.
HERDEIROS DO REINO
No versículo 5, Tiago continua a dizer: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus
os que para o mundo são pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que Ele prometeu
aos que O amam?” O reino de Deus aqui é também o reino de Cristo, que será herdado pelos
crentes vencedores na era vindoura (Ef 5:5; Gl 5:21; 1 Co 6:10; Ap 20:4, 6). A realidade desse
reino não deve ser praticada na sinagoga judaica, mas na igreja cristã, que é o Corpo de Cristo
(Rm 14:17).
No versículo 5, Tiago fala a segunda vez acerca do Deus amoroso (ver 1:12). Nós cremos
no Senhor para nossa salvação (At 16:31); amamos a Deus (1 Jo 2:5, 15) para nosso vencer, de
modo que possamos receber o reino prometido como galardão.
Não podemos receber o reino simplesmente pelo crer. Conforme o Evangelho de Mateus,
o reino será um galardão. Receber este galardão requer que amemos a Deus. A fim de receber
salvação, é adequado que creiamos no Senhor. Contudo, se desejamos receber o galardão do
reino, precisamos amar a Deus.
Em 2:2, Tiago fala sobre a sinagoga, e em 2:5, sobre o reino. Isto indica que ele pôs
esses dois assuntos juntos. Que sério engano! Isto é uma indicação a mais que Tiago era
deficiente a respeito da economia de Deus. Não é possível praticar a realidade do reino numa
sinagoga judaica. Isto só pode ser praticado na vida da igreja.
OPRIMIDOS PELOS RICOS
Nos versículos 6 e 7, Tiago diz: “Vós, porém, desprezastes o pobre. Não são os ricos os
que vos oprimem e os que vos arrastam perante os tribunais? Não são eles os que blasfemam o
bom Nome pelo qual sois chamados?” A palavra de Tiago no versículo 6 é também uma mistura.
Eu não creio que os irmãos em Cristo ricos arrastassem os irmãos pobres perante os tribunais.
Antes, creio que Tiago está se referindo, aqui, aos judeus ricos, incrédulos, que levavam certos
irmãos ao tribunal. Conforme o versículo 7, esses ricos blasfemavam o bom nome pelo qual os
crentes são chamados. Literalmente, “pelo qual sois chamados” é “invocado sobre vós”. Aqui,
Tiago indica que é um incrédulo rico que blasfema o nome do Senhor.
A LEI RÉGIA
O versículo 8 diz: “Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o
teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem”. A lei régia se refere ao mandamento: “Amarás o teu
próximo como a ti mesmo”. Esta é a rainha de todas as leis, e cobre e cumpre todas as leis (Gl
5:14; Rm 13:8-10). Amar a Deus e amar nosso próximo são as maiores exigências da lei. Toda a
lei depende destas (Mt 22:36-40).
No versículo 9, Tiago diz: “Se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado,
sendo argüidos pela lei como transgressores”. Isto indica que fazer acepção de pessoas é
contrário à lei, e qualquer coisa contrária à lei é pecado. Fazer acepção de pessoas é contra a lei
régia, o mandamento para amar nosso próximo como a nós mesmos. Dizer a um pobre, “Tu, fica
ali em pé ou assenta-te aqui abaixo do estrado dos meus pés”, é não amar. Não gostaríamos de
ser tratados desta maneira. O ponto principal, no versículo 9, é que aqueles que fazem acepção
de pessoas cometem pecado, e são argüidos pela lei como transgressores.
No versículo 10, Tiago continua a dizer: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça
em um só ponto, se torna culpado de todos”. A palavra nos versículos 8 a 11 indica que os crentes
judeus, na época de Tiago, ainda estavam praticando o guardar da lei do Velho Testamento. Isto
corresponde à palavra em Atos 21:20 falada por Tiago e pelos presbíteros em Jerusalém a Paulo.
Tradução não autorizada
25
Tiago, os presbíteros em Jerusalém e muitos milhares de crentes judeus ainda permaneciam numa
mistura da fé cristã com a lei mosaica. Eles até mesmo advertiram a Paulo para praticar tal mistura
semi-judaica (At 21:17-26). Eles não perceberam que a dispensação da lei terminara totalmente, e
que a dispensação da graça devia ser plenamente honrada, e que qualquer negligência da
distinção entre essas duas dispensações estaria contra a administração dispensacional de Deus, e
seria um grande prejuízo ao plano econômico de Deus para a edificação da igreja como a
expressão de Cristo. Portanto, a Epístola de Tiago foi escrita sob a nuvem de uma mistura semijudaica,
sob um pano de fundo que tornava os assuntos obscuros.
JULGADOS PELA LEI DA LIBERDADE
No versículo 11, Tiago diz: “Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também
ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei”.
Conforme o contexto, este versículo indica que dizer a um irmão pobre para sentar abaixo do
estrado dos nossos pés é semelhante a matá-lo. Tratar um irmão pobre desta maneira é cometer
assassinato, pois desprezar um irmão pobre é matá-lo.
O versículo 12 continua: “Assim falai e assim procedei, como devendo ser julgados pela lei
da liberdade.” “Assim”, ambas as vezes, não se refere àquilo que foi dito antes, mas àquilo que se
segue. A lei da liberdade, aqui, e em 1:25, refere-se à mesma lei, que é a lei da vida. Tiago 2:8-
11, bem como 4:11, fala de guardar a lei de letras. Tiago 2:12 fala de julgamento sobre os crentes
pela lei da vida. Os crentes devem falar e agir de acordo com a lei da vida, que ultrapassa a lei de
letras. Eles devem viver conforme a lei da vida. Este tipo de viver sobrepuja o guardar a lei de
letras. Os incrédulos serão julgados pela lei de letras, que é a lei de Moisés, no grande trono
branco (Ap 20:11-15). Os crentes serão julgados pela lei da vida, a lei da liberdade, que é a lei de
Cristo, em Seu tribunal (2 Co 5:10).
Quando eu era jovem, não podia entender 2:11 e 12. Eu sabia que, no Novo Testamento,
Deus não quer que guardemos a lei do Velho Testamento. Contudo, aqui, Tiago fala acerca do
guardar a lei do Velho Testamento. Sua palavra corresponde àquilo que está registrado em Atos
21. Porém, então, no versículo 12, Tiago nos diz que seremos julgados por outra lei, pela lei
perfeita. Agora, entendo que, na mente de Tiago, a lei do Velho Testamento e a lei do Novo
Testamento estavam misturadas. Tiago não fazia distinção entre a lei do Velho Testamento e a lei
do Novo Testamento.
Primeiro, Tiago fala sobre o guardar a lei, e, então, fala sobre o ser julgado por Cristo
conforme a lei da liberdade, conforme a lei do Novo Testamento. Isto indica que Tiago misturava
essas duas leis.
Segundo a clara revelação da Bíblia, haverá três julgamentos principais no futuro. O
primeiro será o julgamento no tribunal de Cristo (2 Co 5:10). Esse julgamento será levado a cabo
no ar, e será executado sobre todos os crentes arrebatados e ressuscitados. Esse julgamento não
estará relacionado à salvação ou à perdição. Visto que esse julgamento dirá respeito aos crentes,
a questão de salvação terá sido eternamente estabelecida. Esse julgamento determinará se os
crentes receberão um galardão ou sofrerão perdas. O plano de Deus é primeiramente dar-nos
salvação. Então, se vivermos pela salvação de Deus, receberemos galardão de Deus.
Recebemos salvação nesta era, a era da igreja, e recebemos o galardão na próxima era, na era do
reino milenar. Esse julgamento dos crentes é o primeiro julgamento principal que está por vir.
O segundo julgamento principal está registrado em Mateus 25. Esse julgamento terá lugar
depois que o Senhor volte com os santos vencedores e destrua o Anticristo e seu exército no
Armagedom. Então, o Senhor Jesus estabelecerá Seu trono de glória em Jerusalém. Todos os
gentios vivos serão reunidos diante do Senhor para serem julgados. Enquanto o Senhor os julga,
Ele os dividirá em ovelhas e cabritos. Os cabritos irão para o lago de fogo, e as ovelhas serão
transferidas para o reino milenar a fim de se tornarem as nações. Segunda a Timóteo 4:1 diz que
Deus ungiu o Senhor Jesus para julgar os vivos e os mortos. Conforme Mateus 25, Ele julgará os
vivos no trono de Sua glória no início dos mil anos.
No término dos mil anos, haverá o terceiro julgamento principal. Esse será o julgamento
de todos os incrédulos mortos, um julgamento que acontecerá no grande trono branco. Por meio
desses três julgamentos, o Senhor porá em ordem a situação entre os seres humanos.
Tradução não autorizada
26
Quando o Senhor julgar os crentes em Seu tribunal, Ele não os julgará conforme a lei de
Moisés, ou conforme Seu evangelho. Ao invés, Ele os julgará segundo a lei da liberdade, isto é,
conforme a lei perfeita. Em 2:12, Tiago se refere ao julgamento dos crentes de acordo com a lei da
liberdade, no tribunal de Cristo.
Por um lado, Tiago adverte os crentes que eles serão julgados por Cristo conforme o Novo
Testamento. Por outro, ele encarrega os recipientes desta epístola a guardar a lei do Velho
Testamento. Isto indica, novamente, a carência de Tiago de uma visão clara a respeito da
economia de Deus. Mostra que ele não tinha uma visão clara acerca da distinção entre o Velho e
o Novo Testamentos. Ele misturava as duas dispensações; isto é, misturava a lei do Velho
Testamento com a lei do Novo Testamento.
JULGAMENTO SEM MISERICÓRDIA
Em 2:13, Tiago diz: “Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de
misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o juízo”. Desprezar um irmão pobre é não ter
misericórdia. Qualquer um que despreze um irmão pobre dessa maneira, não receberá
misericórdia quando comparecer diante do tribunal de Cristo.
Aqui, Tiago está nos dizendo para não desprezarmos nosso irmão. Se desprezamos um
irmão, isto significa que não temos misericórdia dele. Então quando comparecermos diante do
Senhor para Ele nos julgar, Ele não mostrará misericórdia a nós, visto que não mostramos
misericórdia a nosso irmão. Portanto, necessitamos mostrar misericórdia, pois, como diz Tiago, a
misericórdia triunfa sobre, vangloria-se sobre, o juízo. Se tivermos misericórdia de nosso irmão
hoje, receberemos misericórdia do Senhor em Seu tribunal.
Aprecio a palavra de Tiago, no versículo 13. O que ele diz aqui pode ser assemelhado ao
ouro. Entretanto, em sua epístola, ele mistura ouro com barro. Por conseguinte, os leitores de sua
epístola precisam distinguir entre o ouro e o barro.
JUSTIFICADO PELAS OBRAS COM REFERÊNCIA AOS CRENTES
Chegamos agora a 2:14-16, uma seção que fala de ser justificados pelas obras com
referência aos crentes. Muitos falam sobre essa porção sem perceber que ela diz respeito a nosso
relacionamento com outros crentes. Se dizemos que temos fé, devemos amar os irmãos e as
irmãs. Isto significa que somos justificados pelas obras do amor com referência aos crentes.
O versículo 14 diz: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não
tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Aqui, Tiago não está falando sobre ser salvo
da perdição, mas está falando sobre ser salvo do juízo no tribunal de Cristo. O contexto indica isto.
Entretanto, quando muitos cristãos lêem a Bíblia, eles pensam que “salvo” significa ir para
o céu. Eles não podem perceber que o juízo no tribunal de Cristo não é uma questão de céu ou
inferno. Conforme temos visto, esse juízo diz respeito ao galardão, ou ao sofrimento da punição
dispensacional. Se alguém diz que tem fé, contudo não tem obras de amor, isto significa que ele
não ama os irmãos e as irmãs. Portanto, quando tal pessoa chegar diante do tribunal de Cristo,
ela será julgada sem misericórdia. Precisamos de obras de misericórdia e amor a fim de sermos
salvos do juízo sem misericórdia. Conseqüentemente, ser salvo, no versículo 14, é ser salvo do
juízo sem misericórdia no tribunal de Cristo. Todavia, se não mostrarmos misericórdia para com os
companheiros crentes, não receberemos misericórdia do Senhor em Seu tribunal.
Os versículos 15 e 16 provam que esse entendimento de “salvo”, no versículo 14, está
correto. “Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo,
lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” No versículo 14, Tiago está
preocupado conosco; nos versículos 15 e 16, sua preocupação é com aqueles que não estão
sendo cuidados adequadamente por nós. A palavra grega traduzida “estiverem” indica que o irmão
ou a irmã tem estado nessa condição por algum tempo. Se não cuidamos da necessidade dos
santos, não estamos cuidando deles nem de nós mesmos.
Um dia, seremos julgados por Cristo. Se cuidamos das necessidades dos santos,
exercendo misericórdia com eles, ao mesmo tempo, estamos tomando cuidado de nós mesmos
Tradução não autorizada
27
com referência ao nosso julgamento pelo Senhor. Em virtude de nossa obra misericordiosa e
amorosa para com os santos, seremos salvos do juízo sem misericórdia no tribunal do Senhor.
É vergonhoso que as necessidades dos santos pobres não sejam cuidadas na vida da
igreja. Entretanto, a palavra de Tiago, no versículo 16, para o fortalecimento de sua visão da
perfeição cristã prática, carrega o sabor da preocupação pelo povo necessitado contida no Velho
Testamento (Dt 15:7-8).
Nos versículos 17 a 19, Tiago continua a dizer: “Assim, também a fé, se não tiver obras,
por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as
obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé. Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até
os demônios crêem e tremem”. Fé é da vida; ela é viva e opera por meio do amor (Gl 5:6). Caso
contrário, é uma fé morta, não genuína (Tg 2:20, 26).
No versículo 20, Tiago diz: “Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem
as obras é inoperante?” A palavra grega traduzida “inoperante” também significa estéril. Em
alguns manuscritos se lê “morta”.
No versículo 20, Tiago usa a expressão “homem insensato”. De acordo com Tiago, uma
pessoa é insensata se crê somente, mas não tem amor. Qualquer pessoa que creia no Senhor
Jesus, contudo não ame os irmãos é insensata. Neste sentido, um homem insensato é aquele que
tem fé sem amor. Como diz Tiago, a fé sem obras é inoperante.
No versículo 21, Tiago pergunta: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi
justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” Imediatamente, Tiago continua,
no versículo 22: “Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras
que a fé se consumou”. Foi em Gênesis 15 que Abraão creu em Deus, e foi em Gênesis 22 que
ele ofereceu Isaque seu filho. Isto indica que houve um período de tempo no qual a fé de Abraão
foi consumada. Foi necessário ter essa fé testificada. Abraão primeiramente creu em Deus, e
posteriormente o seu crer foi testificado pelo oferecer Isaque a Deus. Semelhantemente, nosso
crer no Senhor Jesus também necessita ser testificado ou vindicado. Por exemplo, eu espero que
uma pessoa jovem que crê no Senhor tenha sua fé testificada ou vindicada a seus pais por meio
de uma mudança de atitude e comportamento. Isto significa que uma obra exterior de amor
testifica, vindica, a fé que está dentro de nós.
Nos versículos 23 e 24, Tiago diz: “e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu
em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma
pessoa é justificada por obras e não por fé somente”. No versículo 23, Tiago novamente mistura
as coisas. A primeira parte desse versículo se refere a Gênesis 15:6, quando Abraão creu em
Deus e isso lhe foi imputado para justiça; a segunda parte do versículo se refere a um tempo
posterior quando Abraão foi chamado amigo de Deus (2 Cr 20:7; Is 41:8);
No versículo 24, Tiago continua: “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não
por fé somente”. Ser justificado por fé é receber a vida divina (Rm 5:18); ser justificado por obras é
por meio do viver a vida divina. Visto que o viver é o resultado da vida, ser justificado por obras é o
resultado de ser justificado por fé. O fato de Abraão oferecer Isaque e de Raabe acolher os
emissários e os ter feito partir (Js 2:1-21; 6:23) são ambos obras que resultaram da fé viva deles.
Uma árvore viva certamente produz fruto. Ser justificado por obras não contradiz o ser justificado
pela fé. O último é a causa, produzindo o primeiro, e o primeiro é o efeito, o resultado e a prova do
último.
Nos versículos 25 e 26, Tiago conclui: “De igual modo, não foi também justificada por
obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? Porque,
assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta”. O espírito dá
vida ao corpo (Gn 2:7); as obras indicam e expressam a vida que está na fé.
Este capítulo começa com o não fazer acepção de pessoas (vs. 1-13), e chega ao cuidado
prático das necessidades dos santos pobres, que é a obra justificadora da fé (vs. 14-26).
Conforme a visão de Tiago, essas virtudes podem ser consideradas características da perfeição
cristã prática.
Tradução não autorizada
28
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM SETE
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(7)
Leitura da Escritura: Tg 2:1-26
Em 2 Timóteo 2:15, Paulo fala sobre o cortar retamente a palavra da verdade. Cortar
retamente a palavra da verdade significa desdobrar a Palavra de Deus, em suas várias partes,
correta e retamente, sem distorção. Por todos os séculos, muitos mestres têm tentado cortar
retamente, ou dividir corretamente, a Palavra santa. Entrementes, muitos mestres da Bíblia não
foram capazes de fazer isto muito bem.
Na época da Reforma, Lutero tomou a frente para dividir corretamente a Palavra santa.
Ele viu que a justificação pela fé devia ser separada das obras. Embora Lutero pudesse dividir a
Palavra no modo de uma quantidade de princípios, ou no modo de um esboço, ele não teve a
capacidade para dividir a Palavra em detalhes. Podemos dizer que ele conhecia as vias principais
da Palavra, mas não as ruas e travessas.
No século dezoito, Zinzendorf foi levantado pelo Senhor, e, até certo ponto, aperfeiçoou a
divisão da Palavra santa. No século dezenove, os irmãos britânicos, sob a liderança de John
Nelson Darby, foram levantados, e eles foram muito mais capazes de dividir a Palavra
adequadamente. Muito da teologia fundamentalista de hoje segue a linha da teologia dos irmãos
britânicos. Neste século, fomos levantados pelo Senhor, por Sua soberania e misericórdia.
Subimos nos ombros daqueles que vieram antes de nós, somos agora capazes de dividir a Palavra
santa não meramente conforme as vias principais, mas também conforme as ruas, travessas e
ruelas.
Temos mostrado que Lutero chamou a Epístola de Tiago uma “epístola de palha”. Lutero
disse isto, principalmente, em virtude do que está escrito no capítulo dois do livro de Tiago. Esta
palavra de Lutero indica que ele não compreendeu esse capítulo adequadamente, e que ele não
foi capaz de dividir a Palavra de uma maneira detalhada. Ele não percebeu que a palavra “salvar”,
em 2:14, não tem nada a ver com a salvação eterna. Este versículo diz: “Meus irmãos, qual é o
proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?”
Alguns tem usado erradamente este versículo para ensinar que essa salvação não é pela fé.
A palavra “salvar”, no versículo 14, está relacionada ao julgamento falado no versículo 13:
“Porque o juízo é sem misericórdia para com aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia
triunfa sobre o juízo”. Segundo o contexto, ser salvo, nesse capítulo, é ser salvo do juízo sem
misericórdia. O julgamento mencionado no versículo 13 não é o julgamento no trono branco. Este
julgamento determina se a pessoa será salva ou perecerá. O Julgamento, nesse versículo, é o
julgamento por Cristo em Seu tribunal, no ar, na época de Sua volta. Depois que todos os santos
forem arrebatados, eles comparecerão diante do tribunal de Cristo. A questão da salvação eterna
já terá sido estabelecida. Entrementes, o Senhor ainda julgará os santos conforme a lei da
liberdade, isto é, segundo todo o Novo Testamento, não segundo a lei de Moisés. Esse
julgamento não determinará nossa salvação eterna; antes, determinará se seremos galardoados
ou julgados sem misericórdia.
OBRAS DE MISERICÓRDIA E AMOR
A fim de sermos salvos do juízo sem misericórdia, precisamos ter as obras de misericórdia
e amor. Essas obras testificam que nossa fé resulta em sermos salvos, não somente da perdição,
mas também do juízo sem misericórdia no tribunal de Cristo. Aqueles que não têm as obras de
misericórdia e amor sofrerão juízo sem misericórdia. Isto significa que eles serão disciplinados
como resultado do juízo no tribunal de Cristo.
Tradução não autorizada
29
Muitos dos mestres das Escrituras no passado não viram a “travessa” nesses versículos.
Viram somente certas ruas principais. Pela misericórdia do Senhor, e por meio da ajuda que
recebemos daqueles que vieram antes de nós, podemos ver o modo apropriado de dividir a
Palavra aqui. Nesse capítulo, temos uma certa travessa. Visto que somos capazes de dividir essa
porção da Palavra adequadamente, podemos ver que salvação aqui não é salvação da perdição;
ao invés, é salvação da misericórdia sem juízo no tribunal de Cristo.
De acordo com esse capítulo, desprezar um irmão pobre é matá-lo (vs. 2:3, 11). Isto é
falhar em ter misericórdia do irmão. Se não mostrarmos misericórdia a um irmão pobre, quando o
Senhor voltar, Ele exercerá um juízo sem misericórdia sobre nós, e sofreremos como resultado.
Se desejamos ser salvos de tal juízo sem misericórdia, precisamos ter obras de misericórdia e
amor para com os irmãos. Essas obras para com os irmãos pobres testificarão que nossa fé é
viva, resultando em nós sermos salvos do juízo sem misericórdia no tribunal de Cristo. Este é o
entendimento adequado desses versículos, o entendimento que vem do dividir corretamente a
Palavra de um modo detalhado.
Através dos séculos, tem havido diferentes opiniões a respeito da Epístola de Tiago.
Enquanto Lutero dizia que esse livro é uma epístola de palha, diversas pessoas devotas e
piedosas tomaram o partido de Tiago. Os irmãos, especialmente Darby, escreveram sobre Tiago
do ponto de vista da dispensação. Darby mostrou fortemente que essa epístola tem um caráter
judaico. Entretanto, nem mesmo Darby viu a posição verdadeira e o conteúdo intrínseco desse
livro.
Há vários anos atrás, nós interpretávamos a Epístola de Tiago de tal modo como para
conciliar justificação pela fé com justificação pelas obras. Agora, vemos que, sob a luz que temos
hoje, essa interpretação não estava correta. No capítulo dois, Tiago fala de ser salvo pelas obras.
No passado, interpretávamos que isto significava que justificação pela fé é algo interior e que
justificação por obras é exterior. Justificação pela fé é a semente interiormente, e justificação pelas
obras é o fruto produzido exteriormente. Esta interpretação é muito geral, e a aplicação não está
correta. No capítulo dois de Tiago, ser salvo por obras está relacionado à salvação de nossa alma
(1:21). Esta não é uma questão da salvação da perdição eterna; é uma questão da salvação de
nossa alma do juízo sem misericórdia no tribunal de Cristo.
Em 2:9 e 10, Tiago diz: “Se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo
argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um
só ponto, se torna culpado de todos”. Fazer acepção de pessoas é menosprezar um irmão pobre e
enaltecer um irmão rico. Conforme aquilo que Tiago diz em 2:11, menosprezar um irmão pobre é
cometer assassinato.
No versículo 12, Tiago continua a dizer: “Falai de tal maneira e de tal maneira procedei
como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade”. Este julgamento não será aquele no
trono branco, pois o julgamento no trono branco será o julgamento dos incrédulos. No versículo
12, Tiago escreve a respeito do julgamento dos crentes no tribunal de Cristo. Precisamos ter
clareza de que esse julgamento não é para a salvação ou perdição eternas; pelo contrário, esse
julgamento diz respeito a galardão ou punição. Ademais, o julgamento no tribunal de Cristo não
será conforme a lei mosaica, mas será conforme a lei da liberdade, isto é, conforme o Novo
Testamento. A lei mosaica será usada para o julgamento no trono branco, todavia a lei da
liberdade será a base para o julgamento no tribunal de Cristo.
No versículo 13, Tiago diz que o julgamento será sem misericórdia para aquele que não
usou de misericórdia, e que a misericórdia triunfa sobre o juízo. Se menosprezamos um irmão
pobre, não usamos de misericórdia para com ele. Se não temos misericórdia com um irmão hoje,
quando estivermos diante do tribunal de Cristo, Cristo não usará de misericórdia para conosco.
No versículo 13, Tiago nos diz que a misericórdia triunfa sobre o juízo. Misericórdia é o
primeiro passo que leva ao amor. Se não temos misericórdia, não teremos amor. Precisamos
entender que, diante de Cristo, somos extremamente pobres. Se temos misericórdia para como os
pobres hoje, então, no tempo do julgamento no tribunal de Cristo, Cristo terá misericórdia de nós.
Isto é o que significa a misericórdia triunfa sobre o juízo.
Consideremos o versículo 14 novamente: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém
disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” Agora, entendemos
que este versículo se refere a ser salvo do julgamento sem misericórdia no tribunal de Cristo.
Podemos dizer que temos fé e, contudo, não temos misericórdia de um irmão pobre. Isto significa
Tradução não autorizada
30
que reivindicamos ter fé e, todavia, não amamos esse irmão. Esse tipo de fé pode salvar-nos do
juízo vindouro no tribunal de Cristo? Com certeza, esse tipo de fé não nos pode salvar desse
juízo.
Os versículos 15 e 16 apóiam esse entendimento: “Se um irmão ou uma irmã estiverem
carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em
paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito
disso?” Estes versículos são uma indicação adicional que o julgamento, no versículo 13, está
relacionado a como tratamos os irmãos. Esta é uma forte prova que o julgamento, aqui, não é uma
questão de salvação ou perdição eternas. Os versículos 15 e 16 falam de nossa atitude para com
os irmãos e o modo de tratá-los. Nossa atitude para com os santos será um fator decisivo a
respeito de sermos ou não galardoados no tribunal de Cristo.
Nos versículos 17 e 18, Tiago continua: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só
está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e
eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”. As obras, aqui, são obras de misericórdia e amor para
com os irmãos. Uma vez mais, nesses versículos, fé e obras não são uma questão de salvação
eterna, mas estão relacionadas a ser salvo do juízo no tribunal de Cristo.
TIAGO E A ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
A escritura de Tiago está muitíssimo envolvida com o assunto de dispensação. Todavia,
sua visão não era clara a respeito da dispensação de Deus. Por dispensação, aqui, queremos
dizer a economia de Deus no Novo Testamento. “Economia” é uma forma aportuguesada do
grego oikonomia, uma palavra que significa arranjo da casa e se refere à administração de Deus.
Tiago nasceu de Maria, que foi também a mãe do Senhor Jesus. Se você ler o louvor de
Maria registrado no capítulo dois do Evangelho de Lucas, verá que aquele contém muitas citações
do Velho Testamento. Isto indica que Maria era muito piedosa, muito semelhante aos pais de João
Batista. Como uma pessoa piedosa, Maria era instruída a respeito da palavra de Deus no Antigo
Testamento. Tiago, portanto, foi educado por uma mãe piedosa. Sem dúvida, a piedade de Maria
estava na dispensação do Velho Testamento, e, certamente, ela ensinou seus filhos a serem
piedosos nesse modo do Velho Testamento. Entrementes, Maria pode jamais ter visto a economia
neotestamentária de Deus.
Finalmente, Tiago creu no Senhor Jesus. Isto, sem dúvida, era uma grande mudança para
ele fazer. Porém, antes que Tiago cresse no Senhor, ele já pode ter sido piedoso no sentido
verotestamentário.
Podemos comparar este Tiago com Pedro, Tiago e João. João e Tiago eram irmãos e
também primos do Tiago que escreveu esta epístola, pois sua mãe era irmã de Maria, a mãe do
Senhor Jesus e deste Tiago. Como Pedro, João e Tiago eram pescadores galileus incultos. O
Senhor Jesus até mesmo chamou os irmãos Tiago e João de “filhos do trovão”. Depois da
ressurreição do Senhor, este Tiago tornou-se um dos apóstolos (Gl 1:19). Finalmente, ele se
tornou o presbítero líder na igreja em Jerusalém (At 12:17; 15:2, 13; 21:18). Por comparação,
Tiago pode ter sido mais piedoso e culto que Pedro, João e Tiago. Ele conhecia o Velho
Testamento muito bem, provavelmente, o Livro de Provérbios, em especial. Os que estavam em
Jerusalém tinham Tiago em alta conta, e ele se tornou a pessoa de maior influência entre os
crentes ali.
O fato que Tiago era o crente de maior influência em Jerusalém é provado por aquilo que
está registrado em Gálatas 2:11 e 12. Ali, vemos que antes que certas pessoas chegassem da
parte de Tiago, Pedro comia com os gentios. (Paulo não diz que eles chegaram de Jerusalém,
mas que eles chegaram da parte de Tiago). Depois que aqueles chegaram da parte de Tiago,
Pedro teve medo, afastou-se e se apartou. Isto indica que mesmo Pedro tinha medo de Tiago, e
prova também que Tiago era a influência mais alta em Jerusalém. O capítulo quinze de Atos
também prova que a influência de Tiago era prevalecente. Ademais, em Atos 21, é-nos dito que
quando Paulo foi a última vez para Jerusalém, ele foi ver Tiago. Atos 21 não diz que Paulo foi aos
presbíteros, mas que ele foi a Tiago, onde todos os presbíteros estavam reunidos. Tiago, portanto,
era o centro do presbiterato. Ele era prevalecente, e toda a situação estava sob sua influência.
Em Atos 21, podemos ver que o que era a influência de Tiago. Tiago mostrou a Paulo que,
em Jerusalém, dezenas de milhares criam no Senhor Jesus e eram zelosos da lei. Portanto, Tiago
Tradução não autorizada
31
encorajou Paulo a ir ao templo com certos homens que tinham feito voto. A palavra de Tiago, em
Atos 21, dá-nos uma visão do conteúdo intrínseco do seu escrito.
Tiago, definitivamente, cria no Senhor Jesus. Vários pontos, em sua epístola, provam isto.
Primeiramente, Tiago diz que fomos gerados pelo Pai das luzes, pela palavra da verdade (1:17-
18). Esta é a regeneração neotestamentária. Tiago também fala de receber com mansidão a
palavra implantada (1:21). Isto também é uma questão neotestamentária. Então, Tiago continua a
falar da lei perfeita, a lei da liberdade (1:25), e do Espírito que habita interiormente (4:5). No
capítulo cinco, ele se refere à igreja quando menciona os presbíteros da igreja. Em adição, em
2:1, Tiago fala da “da fé de nosso Senhor Jesus Cristo da glória”.
Entrementes, junto com essas questões positivas a respeito da economia neotestamentária
de Deus, Tiago traz à tona coisas do Velho Testamento. Por exemplo, ele fala da sinagoga. Ele
também mostra que, para ele, guardar a lei perfeita é uma questão de visitar os órfãos e viúvas.
Essa palavra está cheia do gosto do Antigo Testamento. Tiago não fala de viver Cristo, de andar
no Espírito, ou de ter uma vida para a edificação do Corpo de Cristo. Antes, suas ilustrações são
do Velho Testamento, ou têm um gosto verotestamentário. Até a maneira de Tiago orar era
conforme a maneira de Elias. Tiago encarrega os presbíteros a orarem pelo enfermo conforme o
modo que Elias orou no Antigo Testamento. De um modo similar, ele nos encarrega a esperar
pela volta do Senhor de uma maneira que é similar à perseverança de Jó e à paciência dos
profetas. Novamente, ambos os exemplos são tirados do Velho Testamento. Por conseguinte, o
que temos na Epístola de Tiago é uma mistura das coisas do Velho Testamento com a economia
neotestamentária de Deus.
Embora tenhamos todas as mensagens do Estudo-Vida sobre os escritos de Paulo, e
embora possamos ter visto o foco central da revelação divina no Novo Testamento, ainda podemos
estar numa atmosfera nebulosa. Podemos pensar que ter bom caráter significa que somos
piedosos. Podemos ter também um entendimento natural ou entendimento religioso do que é
piedade. Nossa visão de piedade pode não ser conforme a economia de Deus no Novo
Testamento. Mais uma vez, vemos a necessidade de uma visão clara da economia
neotestamentária de Deus.
Tradução não autorizada
32
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM OITO
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(8)
Leitura da Escritura: Tg 3:1-18
Nesta mensagem, chegamos ao capítulo três da Epístola de Tiago. Os versículos 1 a 12,
desse capítulo, dizem respeito ao refrear a língua, e os versículos 13 a 18, a proceder com
sabedoria.
REFREAR A LÍNGUA
É extremamente difícil refrear nossa língua. Por exemplo, você pode achar que não é
capaz de guardar-se de falar ainda que por uma hora. Contudo, se falhamos em refrear nossa
língua, somos tolos. Entretanto, se restringimos nossa língua, somos sábios. Sabedoria, na
perfeição cristã prática, está relacionada ao restringir nossa língua.
Em Tiago 3, duas palavras são cruciais ___ língua e sabedoria. Por anos, eu não fui capaz
de entender a última parte desse capítulo, os versículos concernentes à sabedoria. Eu não
conseguia entendê-los, porquanto não tinha a chave. Porém, agora, tenho visto que a chave é que
restringir nossa língua é a maneira para ter sabedoria. A tolice está relacionada ao muito falar, e
sabedoria está relacionada ao refrear nossa língua.
Em 3:1, Tiago diz: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que
havemos de receber maior juízo”. Mestres tendem a produzir ensinos diferentes, e isto produz
diferentes opiniões e causam problemas e divisões (ver 2 Tm 4:3; 1 Tm 1:3-4, 7; Ef 4:14).
No versículo 1, Tiago diz que os mestres receberão maior juízo. Tudo o que dissermos
será julgado, e seremos julgados por nossas palavras (Mt 12:36-37).
Embora necessitemos aprender a refrear nossa língua em nosso viver diário, todos
devemos ser encorajados a falar nas reuniões da igreja. Se isto se torna nossa prática, as
reuniões serão grandemente elevadas, a bênção virá, e os problemas serão solucionados.
Os problemas na vida matrimonial são, freqüentemente, por causa da língua. Se um
marido e a esposa refreassem suas línguas, muitos de seus problemas seriam solucionados.
Todavia, visto que alguns têm uma língua ingovernável, esta língua cria sérios problemas, e esses
problemas podem até resultar em divórcio.
Conforme minha experiência na vida humana, posso testificar que a melhor maneira de
evitar problemas é restringir nossa língua. A respeito do uso apropriado da nossa língua,
precisamos pedir sabedoria a Deus. A sabedoria da qual Tiago fala, no capítulo três, é uma
continuação daquela mencionada no capítulo um. Precisamos de sabedoria para saber como usar
nossa língua.
Em 1:19, Tiago diz: “Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio
para se irar”. Falar muitas vezes excita a ira. Contudo, se restringirmos nossa língua, também
limitaremos nossa ira. Por exemplo, suponha que você, de algum modo, está infeliz com certa
pessoa, e você lhe mostra algo errado que ela fez. Simplesmente, pelo falar-lhe dessa maneira,
você pode acender um “palito de fósforo” que é capaz de iniciar um grande “fogo”. Todavia, se
você se restringisse de falar-lhe a respeito desse assunto, sua ira não seria excitada. Por
conseguinte, em sua sabedoria, Tiago nos diz para sermos prontos para ouvir, tardios para falar,
tardios para nos irarmos.
Os irmãos casados necessitam praticar isto com suas esposas. Eles devem ser prontos
para ouvir suas esposas, mas tardios para falar-lhes. Por exemplo, se sua esposa reclama de algo
para você, você será sábio se a ouvir, mas é tardio para falar. Se você fala apressadamente, pode
excitar um fogo que pode causar sérios problemas.
Tradução não autorizada
33
ILUSTRAÇÕES DE UMA LÍNGUA DESENFREADA
Em 3:5 e 6, Tiago assemelha a língua a um fogo: “Assim, também a língua, pequeno
órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! E a
língua é um fogo. Como um mundo de iniqüidade está colocada entre os nossos membros a língua
que contamina o corpo todo, e incendeia o curso da vida, e é incendiada pelo fogo da Geena”.
Geena é o símbolo do lago de fogo ___ o inferno (Ap 20:15). O “fogo”, no versículo 5, é uma fagulha
com o poder de se espalhar, e o fogo, no versículo 6, é um fogo maligno da Geena que nos
contamina. Como uma fagulha, a língua espalha sua destruição, e, como um fogo maligno, ela
contamina todo o nosso corpo com males da Geena.
No versículo 6, a palavra grega para “curso” é trochos, que se refere, geralmente, a algo
redondo ou circular que se move ou rola, como uma roda. Usada figurativamente, indica um
circuito de efeitos físicos, um curso, como uma órbita ao redor do sol. A palavra grega para “vida”
é genesis, que significa origem, nascimento, geração; conseqüentemente, a roda do nascimento,
referindo-se figurativamente à nossa vida humana, posta em movimento em seu nascimento e
prosseguindo até seu término. A língua, como um fogo maligno da Geena, põe no fogo nossa vida
humana, como uma roda, desde nosso nascimento até nossa morte, de modo que o curso de toda
a nossa vida pode estar, totalmente, sob a contaminação e corrupção malignas da língua.
Nos versículos 7 e 8a, Tiago continua a dizer: “Pois toda espécie de feras, de aves, de
répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a língua, porém,
nenhum dos homens é capaz de domar”. Toda espécie de feras na terra, de aves no ar, de répteis
no pó, e de seres marinhos na água, tem sido domada pelo gênero humano, que é mais forte que
todas as espécies de animais. Entretanto, mesmo a natureza humana mais forte não é capaz de
domar a língua.
Em 8b, Tiago diz que a língua é um “é mal incontido, carregado de veneno mortífero”.
Como um mal incontido, a língua nunca pára de fazer o mal. Está carregada de veneno mortífero.
O mal e a morte andam juntos com a língua. Ela espalha o mal e a morte para contaminar e
envenenar todos os seres humanos. Ela é uma vergonha mesmo entre os cristãos.
Nos versículos 3 a 12, ao tratar com o problema da língua, Tiago, em sua sabedoria a
respeito da vida humana, usa vinte itens diferentes para suas ilustrações: freios na boca dos
cavalos, lemes de navios, fagulha, mundo de iniqüidade, fogo da Geena, roda do nascimento,
feras, aves, répteis, seres marinhos, gênero humano, mal incontido, veneno mortífero, fonte,
figueira, azeitonas, videira, figos, água salgada (amarga) e água doce. Ele era rico, um pouco
como Salomão, o sábio rei do Velho Testamento (1 Rs 4:29-34), na sabedoria concernente à vida
humana, mas não tanto na sabedoria a respeito da economia divina.
MANSIDÃO DE SABEDORIA
No versículo 13, Tiago diz: “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de
sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras”. Conforme o contexto, mansidão de
sabedoria deve se referir, aqui, ao se restringir no falar. Isto corresponde a Provérbios 10:19. Tal
mansidão equivale a pacífica e indulgente no versículo 17, em contraste com inveja amargurada,
sentimento faccioso, gloriar-se e mentir, no versículo 14.
No versículo 13, Tiago menciona ser sábio antes de ter entendimento. Se não temos
sabedoria, não podemos ter entendimento. Sabendo disto, em Efésios, Paulo orou para que Deus
nos concedesse espírito de sabedoria. Enquanto um homem sábio tem entendimento, uma
pessoa tola não é capaz de entender os outros.
SABEDORIA E NOSSO ESPÍRITO
O que é sabedoria? É muito difícil dizer o que é sabedoria, porquanto a sabedoria é
abstrata. O entendimento está na nossa mente, mas onde está a sabedoria? Conforme minha
experiência, a sabedoria está em nosso espírito. Isto significa que a sabedoria é encontrada não
em nossa mente, emoção, vontade, alma ou coração; a sabedoria está na parte mais profunda.
Tradução não autorizada
34
Quando exercitarmos nosso espírito, permanecermos no espírito em toda situação, e fizermos
coisas de acordo com o espírito, teremos sabedoria.
Quando alguns ouvem que a sabedoria está no espírito, podem dizer: “Tiago era um
homem que enfatizava a sabedoria na perfeição cristã prática. Por que ele não disse que a
sabedoria está em nosso espírito?” Embora Tiago não diga isso explicitamente, ele nos dá um
sinal de que a sabedoria está em nosso espírito. Em 3:17, ele fala da “sabedoria do alto”. Aqui,
“do alto” significa de Deus. Qualquer coisa que nos venha de Deus deve tocar nosso espírito.
João 4:24 diz que Deus é Espírito e que aqueles que O adoram devem adorar em espírito. Isto
indica que, a fim de contatar Deus, devemos usar nosso espírito. Semelhantemente, quando Deus
nos contata, Ele toca nosso espírito. Por esta razão, a sabedoria que vem de cima, de Deus, deve,
certamente, vir para nosso espírito. Ela não vem para nossa mente, alma ou coração; ela vem
para nosso espírito, nosso órgão que contata Deus. Portanto, é correto dizer que, aqui, temos um
sinal de que a sabedoria está em nosso espírito.
Visto que a sabedoria está no espírito, podemos ter sabedoria somente por
permanecermos em nosso espírito. Deus é a fonte da sabedoria, e Ele concede sabedoria.
Contudo, a sabedoria que vem de Deus alcança nosso espírito. Do mesmo modo que
necessitamos usar os órgãos apropriados para ver, ouvir, e comer, assim necessitamos usar o
órgão correto ___ nosso espírito ___ a fim de termos sabedoria.
A SABEDORIA DO ALTO
Nos versículos 14 e 15, Tiago continua a dizer: “Se, pelo contrário, tendes em vosso
coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a
verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca”. Por
“esta sabedoria”, no versículo 15, Tiago quer dizer a sabedoria de ter inveja amargurada e
sentimento faccioso para gloriar-se e mentir contra a verdade (v. 14). Ademais, no versículo 15,
“terrena” refere-se ao mundo, “animal” ao homem natural, e “demoníaca” ao Diabo e seus
demônios. Esses três sempre estão ligados um ao outro.
O versículo 17 diz: “A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica,
indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento”. Esta
sabedoria inclui mansidão, no versículo 13, e as virtudes humanas mencionadas no versículo 17.
Estas sãos as características da perfeição cristã prática segundo a visão de Tiago. Sua visão pode
ter estado de, algum modo, sob a influência dos preceitos do Velho Testamento a respeito do
comportamento, moralidade e ética do homem (Pv 4:5-8). Tal sabedoria não alcança a altura da
sabedoria a respeito do mistério escondido da economia neotestamentária de Deus concernente a
Cristo e à igreja (1 Co 2:6-8; Ef 3:9-11).
No versículo 17, Tiago diz que a sabedoria do alto é indulgente. Ser indulgente significa
ser gentil, tolerante e docemente moderada (Fp 4:5). Ser indulgente também significa ceder. Por
meio disso, podemos ver que a virtude da indulgência compreende um número de outras virtudes.
A primeira virtude incluída na indulgência é aquela de restringir nossa língua. Quando um irmão é
tentado a discutir com sua esposa, ele precisa indulgenciar ou ceder. Se ele é pronto para ouvir e
tardio para falar, ele será indulgente. A indulgência é uma das virtudes elevadas da perfeição
cristã prática.
Tiago também diz que a sabedoria do alto é tratável ou submissa, isto é, disposta a
submeter-se, satisfeita com menos que seu direito, fácil de lidar. Ser indulgente e tratável igualase
a mansidão no versículo 13. Ser tratável é ser flexível, capaz de se adaptar a qualquer espécie
de ambiente.
No versículo 17, Tiago também nos diz que a sabedoria do alto é plena de misericórdia e
de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Visto que essa sabedoria é imparcial, ela não toma o
lado de qualquer pessoa. O fato que essa sabedoria é sem fingimento significa que ela é honesta,
verdadeira, fiel, confiável, totalmente sem hipocrisia. Estas são as virtudes que resultam da
sabedoria que vem do alto para nosso espírito. Se desejamos ter esta sabedoria, precisamos orar
por ela. Esse é o ensino de Tiago.
Tradução não autorizada
35
A VISÃO DE TIAGO DA SABEDORIA COMPARADA COM A VISÃO DE PAULO
Neste ponto, precisamos comparar o que Tiago diz a respeito da sabedoria com o que
Paulo diz em suas epístolas. A sabedoria ensinada por Paulo era, verdadeiramente, o próprio
Cristo. Em 1 Coríntios 1:30 Paulo diz que Cristo tornou-Se, da parte de Deus, sabedoria para nós.
Entretanto, Tiago não mostra que a sabedoria que nos vem da parte de Deus é Cristo. Antes, sua
maneira de falar acerca da sabedoria é muito similar à maneira de Salomão no Livro de Provérbios.
Tiago estava saturado com a atmosfera do Antigo Testamento, e sua maneira de falar acerca da
sabedoria tem cor e sabor do Antigo Testamento. Quando Tiago fala a respeito da sabedoria, ele
não nos impressiona com Cristo. Quando ele nos diz que a verdadeira sabedoria vem do alto, de
Deus, sua palavra não tem a cor e o sabor do Novo Testamento. Não tem o sabor de Cristo.
Paulo, pelo contrário, ensina que a sabedoria é o próprio Cristo.
Tiago diz que se precisamos de sabedoria, devemos pedi-la a Deus, e Ele a dará
liberalmente. Conforme Tiago, sabedoria é algo dado por Deus. A visão de Paulo é diferente. Ao
invés de dizer que Deus nos dá sabedoria, Paulo diz que Cristo Se tornou, da parte de Deus,
sabedoria para nós. Isto implica uma transmissão de Deus a nós. Podemos usar como ilustração
a transmissão da eletricidade de uma usina de geração de energia para nossos lares. A usina não
nos fornece uma quantidade de energia em um contêiner. Não, a eletricidade da usina é
transmitida para nossos lares continuamente. Isto significa que há “comunhão” entre nossos lares
e a usina. Se a eletricidade fosse dada de alguma outra maneira, não haveria necessidade de
“comunicação” entre nossos lares e a usina. De maneira semelhante, ao invés de ser-nos dada, a
eletricidade celestial é continuamente transmitida para dentro do nosso ser. A fim de recebermos
essa transmissão, precisamos simplesmente ligar o “comutador” de nosso espírito. Contudo, se o
comutador permanece ligado, a transmissão acontecerá continuamente. Isso ilustra o
entendimento de Paulo de Cristo como nossa sabedoria.
O entendimento de Paulo da sabedoria é, certamente, muito mais profundo que o de
Tiago. Podemos ter a certeza de dizer que Tiago estava saturado com o elemento do Antigo
Testamento. Por um lado, podemos ser ajudados pela Epístola de Tiago para ver nossa
necessidade da perfeição cristã prática. Por outro lado, precisamos ver, a partir dos escritos de
Paulo, que a maneira adequada de receber sabedoria é orar por meio de “ligar” nosso espírito.
Quando nosso espírito estiver ligado, o Espírito de Deus será transmitido para dentro de nós. O
Espírito não transmite sabedoria para dentro de nós como algo separado de Cristo. Antes, o
Espírito transmite o próprio Cristo para dentro de nós como nossa sabedoria.
Verdadeiramente, não há qualquer necessidade de nós até mesmo usarmos o termo
sabedoria ou pedir sabedoria pelo nome. Precisamos, simplesmente, ligar nosso espírito e permitir
que o Espírito de Deus transmita as riquezas da Trindade Divina para dentro do nosso ser. Então,
devemos viver uma vida que é o próprio Cristo, uma vida que é sabedoria. Isto não é sabedoria
como algo dado a nós por Deus; é Cristo, a Pessoa viva, como sabedoria transmitida de Deus para
dentro do nosso espírito. O que quer que seja transmitido para dentro de nós de tal maneira é,
verdadeiramente, o próprio Cristo como o Espírito vivificante. Quando vivermos este Cristo pelo
ser um espírito com o Senhor, nosso viver será a totalidade da sabedoria.
Em 1 Coríntios 2:6 e 7a, Paulo diz: “Entretanto, expomos sabedoria entre os
experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se
reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério”. Esta sabedoria é para os
maduros. Em 1 Coríntios 1:24, Paulo diz que Cristo é sabedoria de Deus. Em Colossenses 2:3,
Paulo diz que em Cristo “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”. Visto
que a sabedoria está armazenada em Cristo como um tesouro, se não temos Cristo, não podemos
ter sabedoria.
Sabemos, do Velho Testamento, que Salomão também falou acerca da sabedoria. A
Bíblia diz que Deus deu sabedoria a Salomão. Entrementes, diferente de nós hoje, Salomão não
tinha Cristo transmitido para dentro dele para ser sua sabedoria. Visto que Tiago estava saturado
com o Velho Testamento, seu escrito acerca da sabedoria tem um sabor do Velho Testamento.
Quando lemos a palavra de Tiago a respeito da sabedoria, precisamos estar lembrados que Paulo
ensinou a respeito da sabedoria. O ensino de Paulo está focado na economia de Deus. Quando
lemos o que Tiago diz acerca perfeição cristã prática, especialmente o que diz acerca da
sabedoria, precisamos estar lembrados que Paulo ensina que Cristo é a sabedoria de Deus
Tradução não autorizada
36
transmitida para dentro do nosso espírito pelo Espírito vivificante. A Epístola de Tiago, portanto,
serve não somente como um equilíbrio e advertência, mas também como um lembrete para prestar
atenção à economia de Deus.
Temos mostrado que Tiago nos encoraja a orar por sabedoria. Contudo, visto que
exercitamos nosso espírito para contatar o Senhor pelo orar, na verdade, não necessitamos orar
especificamente por sabedoria. À proporção que estivermos contatando o Senhor no espírito,
Cristo tornar-Se-á sabedoria para nós. A fim de contatar o Senhor, precisamos exercitar nosso
espírito e orar incessantemente.
A oração adequada é a respiração espiritual. Precisamos aprender a como exercitar
nosso espírito na maneira de respirar o Senhor. Não importa o que estamos fazendo, precisamos
contatar o Senhor pelo aspirá-Lo. Se fizermos isto, a transmissão divina ocorrerá continuamente, e
as riquezas do Deus Triúno serão transmitidas para dentro do nosso espírito. É deste modo que o
próprio Cristo torna-Se nossa sabedoria.
UMA PALAVRA A RESPEITO DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Recentemente, alguns irmãos perguntaram-me por que o livro de Tiago está na Bíblia.
Eles queriam saber se essa epístola fora inspirada por Deus, visto que ela parece conter muito da
própria sabedoria de Tiago. Eu mostrei a esses irmãos que precisamos entender o que significa
dizer que a Bíblia é inspirada por Deus. O fato de a Bíblia ser divinamente inspirada não significa
que cada palavra na Bíblia é palavra de Deus. Por exemplo, as palavras da serpente a Eva, em
Gênesis 3, não são palavras de Deus. Da mesma forma, em Mateus 16, certas palavras faladas
por Pedro não foram as palavras de Deus também, mas palavras de Satanás faladas por meio da
boca de Pedro. O que, então, significa dizer que a Bíblia é a palavra totalmente inspirada pela
palavra por Deus? Significa que ela é de Deus, que o que quer que esteja registrado na Bíblia
está incluído ali. Por conseguinte, as palavras faladas pela serpente, em Gênesis 3, e as palavras
faladas por Satanás por meio de Pedro, em Mateus 16, foram registradas nas Escrituras pela
inspiração de Deus. A escrita desse registro foi plenamente inspirada por Deus, embora as
palavras que fossem faladas pela serpente e por Satanás não fossem em si mesmas inspiradas
por Deus. Se tivermos clareza a respeito disto, veremos que, na Epístola de Tiago, certas palavras
não foram faladas por Deus. Ao contrário, palavras tais como as “doze tribos” e “sinagoga” foram
faladas por Tiago, mas registradas pela inspiração de Deus para um propósito particular.
Junto com as quatorze epístolas de Paulo, necessitamos da Epístola de Tiago para
cumprir o propósito de equilibrar-nos na nossa vida cristã a respeito da perfeição cristã prática, e
também de advertir-nos da necessidade de ter uma visão clara da economia neotestamentária de
Deus.
Tradução não autorizada
37
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM NOVE
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(9)
Leitura da Escritura: Tg 4:1-10
Nesta mensagem consideraremos o que Tiago diz em 4:1-10 a respeito de lidar com
prazeres, o mundo, e o Diabo. Entretanto, antes de considerarmos esses assuntos, eu gostaria de
dar uma breve palavra adicional sobre o contraste entre a sabedoria que é revelada nos escritos
de Tiago e a sabedoria como revelada no escritos de Paulo.
DOIS NÍVEIS DE SABEDORIA
Em 1:5, Tiago diz: “Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que
a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida”. Depois, em 3:13, Tiago diz:
“Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno
proceder, as suas obras”. Depois, em 3:17, Tiago nos diz: “A sabedoria, porém, lá do alto é,
primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos,
imparcial, sem fingimento”. Todas essas coisas são características da perfeição cristã prática
conforme a visão de Tiago, que pode ter estado, de alguma maneira, sob a influência dos preceitos
do Velho Testamento a respeito do comportamento, moralidade e ética do homem (Pv 4:5-8). O
que Tiago diz a respeito da sabedoria está no nível do caráter humano. Esta sabedoria não atinge
a altura da sabedoria concernente ao mistério oculto da economia neotestamentária de Deus com
respeito a Cristo e à igreja (1 Co 2:6-8; Ef 3:9-11).
Em seu escrito a respeito de sabedoria, Tiago não diz uma palavra concernente a Cristo
como vida, ou concernente à igreja sendo edificada por meio da experiência das riquezas de
Cristo, para Sua expressão. Além do mais, em todo o livro de Tiago, o Espírito de Deus é
mencionado somente uma vez (4:5), e isto de uma maneira negativa. O espírito humano não é
mencionado de forma alguma. Por meio disso, vemos que três assuntos cruciais não são tocados
por Tiago em sua epístola: Cristo como vida, a edificação da igreja por meio das riquezas de
Cristo, e o espírito humano. A única menção do Espírito Santo de Deus por Tiago é em relação a
lutar contra a luxúria (4:5). Por causa da deficiência nesses assuntos, não há qualquer
possibilidade de Tiago atingir a altura da sabedoria que vemos nas epístolas de Paulo.
Em sua epístola, Tiago parece apresentar a sabedoria como algo dado a nós por Deus de
uma vez por todas. O entendimento de Paulo da sabedoria é muito mais elevado. Conforme
Paulo, a sabedoria é, na verdade, o próprio Cristo, a corporificação de Deus, que tem sido
instalado em nós, e que está agora sendo continuamente transmitido para dentro de nós. A
instalação foi feita de uma vez por todas, contudo a transmissão não é de uma vez por todas; é
contínua. Podemos usar a eletricidade como uma ilustração. A eletricidade é instalada em um
edifício de uma vez por todas. Contudo, uma vez que a eletricidade foi instalada, deve haver uma
transmissão contínua da eletricidade da usina elétrica para o edifício.
A sabedoria ensinada por Tiago é algo dado por Deus. Todavia, a sabedoria ensinada por
Paulo é Cristo transmitindo continuamente a Si mesmo para dentro de nós. Esta transmissão
divina é o dispensar divino. A eletricidade ser transmitida para dentro de um edifício significa que
ela é dispensada para dentro do edifício para ser usada de diferentes maneiras por aqueles que
estão no edifício. O princípio é o mesmo com Cristo como sabedoria.
Como a corporificação do Deus Triúno, Cristo foi instalado em nosso ser tripartido para ser
transmitido, dispensado, para dentro de nós todo o tempo, de modo que possamos viver uma vida
para expressar Cristo, e de modo que a igreja, o Corpo de Cristo, possa ser edificada como Sua
plenitude. Que alturas Paulo atinge em seu escrito a respeito de Cristo como nossa sabedoria da
parte de Deus!
Tradução não autorizada
38
É pela soberania do Senhor que a Epístola de Tiago vem depois das quatorze epístolas de
Paulo. Nas epístolas de Paulo, vemos uma sabedoria que está no nível mais elevado. Na Epístola
de Tiago, vemos uma sabedoria que está em outro nível, no nível do viver humano.
Quando considerarmos a figura desses dois níveis de sabedoria, saberemos onde
devemos estar. Devemos estar na economia de Deus e na perfeição cristã prática. Por um lado,
devemos ser para a economia de Deus. A economia de Deus é dispensar Cristo como a
corporificação do Deus Triúno para dentro de nós para a edificação da igreja como a plenitude de
Cristo. A perfeição cristã prática está relacionada a sermos completos e íntegros, em nossa
conduta, caráter e comportamento, de modo que tenhamos um testemunho positivo diante dos
outros, e mesmo à vista dos anjos e demônios. Se tivermos tal perfeição cristã prática, ninguém
poderá nos acusar. Para a economia de Deus, precisamos ser aqueles com a perfeição cristã
prática retratada por Tiago em sua epístola. Agora, podemos ver por que esses dois níveis de
sabedoria ___ um nas epístolas de Paulo e o outro na Epístola de Tiago ___ são desvelados no Novo
Testamento.
OS PRAZERES, O MUNDO E O DIABO
Em 4:1-10, Tiago fala a respeito de lidar com os prazeres, o mundo e o Diabo. Alguns
podem ficar incomodados pelo fato de usarmos a palavra “prazeres” num sentido negativo. Em
nossa vida da igreja, não temos prazeres ___ temos desfrute. De fato, nossa vida da igreja é um
desfrute. Este desfrute é uma coisa muito positiva, porém os prazeres mundanos são
extremamente negativos. Em 4:1-10, Tiago gradua os prazeres com o mundo e o Diabo. Uma das
virtudes da perfeição cristã é vencer os prazeres, o mundo e o Diabo.
Guerra, Contendas e Assassinatos
Em 4:1, Tiago diz: “Donde vêm as guerras, e donde vêm as contendas entre vós? não
vêm, porventura, disto, dos vossos prazeres que combatem nos vossos membros?” Os prazeres
aqui são prazeres da carne.
A palavra de Tiago, no capítulo quatro, está um tanto misturada e não é fácil de entender.
Por exemplo, no versículo 1, Tiago fala de guerras e contendas entre aqueles que recebem sua
epístola. Você crê que nos tempos antigos havia guerras e contendas entre os judeus crentes, em
Jerusalém, e entre aqueles que estavam espalhados no mundo gentio? Pelo menos até certo
ponto, eu não creio nisto. Como os crentes podiam viver contendendo, guerreando, uns com os
outros? Tiago diz que essas guerras e contendas vêm dos prazeres que combatem em nossos
membros.
Em 4:2, Tiago continua: “Desejais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter;
viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis”. Aqui, “desejais” significa ansiar,
cobiçar. Como devemos entender este versículo? No versículo 1, Tiago fala de dois tipos de
guerras, guerras entre os santos e guerras em nossos membros. Então, no versículo 2, ele diz:
“Viveis a lutar e a fazer guerras”. Ele também diz: “Matais e invejais”. Eu fico incomodado com o
que Tiago diz no versículo 2. Creio que este sentimento de ficar incomodado é por causa da
mistura de judaísmo com os ensinos do Novo Testamento nos escritos de Tiago. Tiago estava
saturado com as idéias, conceitos, ensinos, ordenanças e práticas da religião judaica. Ele estava
encharcado com o elemento dessa religião, e tinha vivido, por longo tempo, em sua atmosfera.
Ademais, ele entesourou as coisas do judaísmo. Nada obstante, Tiago foi profundamente
influenciado pelos ensinos do Novo Testamento. Isto significa que, com Tiago, havia dois
elementos, duas esferas e duas atmosferas. O resultado é uma mistura em seu pensamento, uma
mistura de judaísmo com os ensinos do Novo Testamento.
Embora eu tenha estudado 4:1-10, acho muito difícil cortar retamente esses versículos,
dividi-los adequadamente. A palavra de Paulo, em 2 Timóteo 2:13, a respeito do cortar retamente
a palavra da verdade, indica que não devemos dividir a Palavra na forma de ziguezague. Todavia,
quando chegamos ao livro de Tiago, simplesmente não podemos cortar ou dividir a Palavra numa
linha reta. Como exemplo desta dificuldade, eu chamaria sua atenção para a palavra “matais” em
4:2. Esta palavra incomoda-me muitíssimo, e não posso entender o que Tiago quer dizer com ela.
Certamente, Tiago não quer dizer que os crentes estavam, verdadeiramente, se matando um ao
Tradução não autorizada
39
outro. Entretanto, podemos espiritualizar a palavra “matais” aqui? Podemos facilmente entender o
que Paulo quer dizer em Romanos 8:13 quando ele fala de mortificar os feitos do corpo, porém
quem pode entender o que Tiago quer dizer por matar nesse versículo? Quem estava sendo
morto por quem?
Não é fácil rastrear o pensamento de Tiago nesses versículos. Ele diz que aqueles a quem
ele está escrevendo matam e são invejosos, não são capazes de obter, e contendem e guerreiam.
Este contender deve ter sido entre certas pessoas. Então, no fim do versículo 2, Tiago diz: “Não
tendes, porque não pedis”. Por um lado, Tiago diz: “Matais”; por outro, ele mostra que eles deviam
pedir. Isto significa que um assassino pode pedir, que um assassino pode orar? Eu só posso
apresentar este versículo para você e pedir a você que o analise e o interprete.
No versículo 3, Tiago continua a dizer: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para
esbanjardes em vossos prazeres”. Como devemos entender este versículo em relação aos
versículos precedentes? Não parece haver qualquer “pista” para nós determinarmos o
pensamento de Tiago.
A Amizade do Mundo
No versículo 4, Tiago diz: “Adúlteras, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade
contra Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus”. Aqui,
Tiago faz uma virada da questão de prazeres para a questão da amizade do mundo e inimizade
contra Deus. O escrito de Tiago aqui é maravilhoso; sua palavra é muito descritiva. No versículo
4, Tiago diz claramente que ser um amigo do mundo é ser constituído um inimigo de Deus.
Em 4:4, Tiago usa a palavra “adúlteras”. Deus e Cristo são nosso Marido (Is 54:5; 2 Co
11:2). Devemos ser castos e amar somente a Ele com todo o nosso ser (Mc 12:30). Se nosso
coração está dividido por amar o mundo, tornamo-nos adúlteras.
No versículo 4, Tiago usa as palavras “amizade” e “amigo” em relação ao mundo. A
amizade do mundo é o amor do mundo pelos prazeres da carne. O “mundo” é o sistema satânico
que é inimizade contra Deus. A palavra grega para mundo, kosmos, é usada para diversas coisas
no Novo Testamento. Em Mateus 25:34; João 17:15; Atos 17:24; Efésios 1:4 e Apocalipse 13:8,
ela denota o universo material como um sistema criado por Deus. Em João 1:29; 3:16 e Romanos
5:12, ela denota a raça humana caída corrompida e usurpada por Satanás como componentes de
seu sistema mundano maligno. Em 1 Pedro 3:3, ela denota adorno, ornamento. Aqui, em Tiago
4:4, como em 1 João 2:15; João 15:19 e 17:14, ela denota uma ordem, uma forma estabelecida,
um arranjo ordenado; daí, um sistema ordenado, estabelecido por Satanás, o adversário de Deus.
Por meio disto, vemos que o “mundo” não denota a terra. Deus criou o homem para viver na terra
para o cumprimento de Seu propósito. Contudo, Seu inimigo Satanás, a fim de usurpar o homem,
tem formado um sistema mundano anti-Deus na terra, pelo sistematizar a humanidade com coisas
tais como religião, cultura, educação, indústria, comércio, e entretenimento, por meio da natureza
caída dos homens em suas concupiscências, prazeres, buscas, e mesmo em sua indulgência nas
necessidades da vida, tais como alimento, roupa, habitação e transporte. Conforme o que Tiago
diz em 4:4, amar o mundo leva uma pessoa que ama a Deus a tornar-se inimiga de Deus.
O Espírito Intra-habitante
Em 4:5, Tiago continua a dizer: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme
que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” Quando Deus nos adquiriu para
sermos Sua esposa, Ele colocou Seu Espírito dentro de nós para fazer-nos um com Ele (1 Co 6:19,
16-17). Ele é um Deus zeloso (Ex 20:5), e Seu Espírito é zeloso por nós com o zelo de Deus (2 Co
11:2),ansiando, desejando zelosamente, para que não façamos amizade com Seu inimigo e
sejamos Seu amante ao mesmo tempo.
O versículo 5 é a única vez que Tiago menciona o Espírito intra-habitante de Deus. Sua
única menção do Espírito é negativa, a respeito de abolir a amizade do mundo. Ela não é positiva,
concernente à edificação do Corpo de Cristo.
A palavra grega traduzida “habitar” em 4:5 pode também ser traduzida “faz Seu lar”. O
Espírito intra-habitante faz seu lar em nós, de modo que Ele possa ocupar todo o nosso ser para
Deus (ver Ef 3:17), e levar-nos a ser totalmente para nosso Marido.
Tradução não autorizada
40
Em 4:5, Tiago se refere àquilo que “afirma a Escritura”. Entretanto, eu não sei a que
versículo nas Escrituras Tiago está se referindo. Eu não creio que qualquer mestre da Bíblia tenha
sido capaz de localizar o versículo específico nas Escrituras.
Os tradutores divergem sobre como traduzir as palavras gregas: “É com ciúme que por nós
anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós”. Eu creio que “é com ciúme que por nós anseia” é a
tradução mais correta. Este ansiar vem do amor. Por exemplo, um marido que ama sua esposa
está cheio de anseio por ela, e ficaria enciumado se ela fosse amar outro alguém. Ele não quer
que ela ame outro além dele.
Nos versículos 4 e 5, Tiago usa o casamento para ilustrar nosso relacionamento com
Deus. Deus é o Marido, e nós somos Sua contraparte. Como contraparte de Deus, devemos amá-
Lo. Se amamos qualquer coisa ou alguém no lugar Dele, tornamo-nos adúlteras. O Espírito intrahabitante
que Deus tem posto dentro de nós anseia manter-nos separadamente para Si mesmo.
Sempre que não desejarmos ser exclusivamente para Ele, mas desejarmos amar o mundo, este
Espírito intra-habitante não ficará somente ofendido, mas também ficará enciumado. Este é o
entendimento correto daquilo que Tiago quer dizer quando diz que o Espírito que habita em nós
anseia com ciúme.
Em 4:6, Tiago salta para a questão da graça: “Antes, Ele dá maior graça; pelo que diz:
Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. Falando logicamente, não parece haver
uma conexão entre os versículos 5 e 6. No versículo 6, temos uma citação de Provérbios 3:34
conforme a Septuaginta.
Nos versículos 7 a 10, Tiago diz que devemos estar sujeitos a Deus, resistir ao Diabo,
chegar-nos a Deus, purificar nossas mãos, limpar nossos corações, afligir-nos, lamentar e chorar,
converter nosso riso em pranto e nossa alegria em tristeza, e nos humilharmos na presença do
Senhor.
Quando consideramos 4:1-10, vemos que Tiago salta de um assunto para outro. Isto torna
difícil, para nós, seguirmos seu pensamento. É também difícil cortar retamente a Palavra nessa
porção.
Adúlteras, Inimigos e Pecadores
Embora seja difícil traçar o pensamento de Tiago, versículo a versículo, podemos ver
claramente que, em 4:1-10, Tiago está interessado nos três itens principais que são problemas
para nós: prazeres (v. 1), o mundo (v. 4) e o Diabo (v. 7). Essas questões devem ser totalmente
tratadas. Caso contrário, seremos adúlteras, inimigos e pecadores. Certamente, como aqueles
que amam o Senhor, não queremos ser adúlteras, inimigos de Deus e pecadores. Entretanto, se
os problemas de prazeres, o mundo e o Diabo não são tratados, podemos, por fim, tornarmo-nos
adúlteras, inimigos e pecadores.
Estou preocupado que alguns dentre nós já podem ter se tornado adúlteras, e inimigos de
Deus. Aqueles de quem se fala aqui são povo de Deus, pertencem a Deus, e nasceram de Deus.
Não obstante, sua condição atual é a de ser um inimigo de Deus. A razão por que eles são
inimigos de Deus é que há muito do mundo neles. Uma forte amizade tem sido edificada com o
mundo, o sistema satânico organizado pelo inimigo de Deus, Seu adversário. (O fato que Satanás
não é somente inimigo de Deus, mas também Seu adversário, significa que ele é um inimigo dentro
da esfera de Deus; por isso, um adversário).
Se um filho de Deus ama o mundo, e estabelece uma amizade com o mundo, o mundo
levá-lo-á a tornar-se um inimigo de Deus. Tal crente torna-se um inimigo de Deus, pois toma o
partido dos inimigos de Deus ao amar o mundo, o sistema satânico. Num sentido muito real, tal
pessoa deseja ser incorporado ao sistema satânico do mundo. Portanto, à vista de Deus, ele se
torna um inimigo. Além do mais, ele se torna um pecador. Por meio disto, vemos que, conforme a
condição verdadeira dessa pessoa, um filho de Deus pode ser uma adúltera, um inimigo de Deus e
um pecador.
Prazeres e Cobiças
A fim de não nos tornarmos adúlteras, inimigos e pecadores, precisamos tratar com os
prazeres, o mundo, e o Diabo. Os prazeres estão relacionados à cobiça. Se não tivéssemos
Tradução não autorizada
41
cobiça, não precisaríamos de prazer. A alegria, entrementes, não está relacionada à cobiça. Deus
é um Deus alegre, e a alegria é para nosso ser, não para nossa cobiça. É correto para nós sermos
alegres, contudo não é correto ter prazeres que estão relacionados à cobiça.
Aqueles que buscam prazer são aqueles que indulgenciam com sua cobiça. Em todo o
mundo, o domingo se tornou um dia de prazer. Este dia, falando no sentido geral, não é mais
considerado como o Dia do Senhor, o dia para o povo do Senhor ter comunhão com Ele, ficar com
Ele, adorá-Lo, desfrutá-Lo e descansar Nele. Aos domingos, as pessoas mundanas buscam
indulgenciar com suas cobiças por causa dos prazeres. Freqüentemente, a conversa na escola ou
trabalho, sobre uma manhã de domingo, está relacionada a coisas pecaminosas, mundanas,
realizadas no final de semana. Hoje, as pessoas do mundo indulgenciam com suas cobiças em
todos os tipos de prazeres.
Esta cobiça também está em nós. Se não vivermos no espírito, não teremos uma maneira
de vencer a indulgência para com as cobiças. Precisamos ter nosso espírito nutrido pela palavra
implantada. Cada manhã e também durante o dia, necessitamos ser nutridos pelo contatar a
palavra implantada, de modo que nosso espírito seja forte para resistir à cobiça e até vencê-la.
Tiago, um homem piedoso, não queria ver que os crentes estavam se tornando envolvidos
nos prazeres indulgentes da cobiça. Ele sabia que tais prazeres os constituiria adúlteras, inimigos
de Deus e mesmo pecadores. Ele sabia que todos esses prazeres estavam relacionados ao
mundo. Usar o fim de semana para buscar prazeres é amar o mundo. Um crente que passa seu
fim de semana de tal modo decairá muito espiritualmente. Pode até dar a impressão que ele
necessitará de um imenso “guindaste” para levantá-lo novamente.
Uma Trindade Maligna
Conforme 4:1-10, os prazeres estão relacionados ao mundo, e o mundo está ligado ao
Diabo. Aqui, temos uma trindade maligna que é contra a Trindade divina. Como cristãos, temos
um Deus Triúno, e enfrentamos um problema triúno. O problema triúno é a trindade diabólica da
cobiça, do mundo e do Diabo. Esta trindade é contrária à Trindade divina ___ o Pai, o Filho e o
Espírito. O Novo Testamento revela claramente que as concupiscências da carne são contra o
Espírito, que o mundo é contra o Pai, e que o Diabo é contra o Filho. Gálatas 5 diz que a carne
com suas concupiscências é contra o Espírito, Tiago 4 e 1 João 2 revelam que o mundo é contrário
a Deus o Pai, e 1 João 3 indica que o Diabo, Satanás, é contra o Filho, que veio para destruir as
obras do Diabo. Por meio disto, vemos que o Deus Triúno está lutando contra o problema triúno,
que a Trindade divina ___ o Pai, o Filho e o Espírito ___ é contrária ao mundo, ao Diabo, e à carne.
Se tivermos uma visão de olhos de pássaro de 4:1-10, veremos que, nesses versículos, as três
coisas principais são abrangidas ___ prazeres, o mundo e o Diabo.
Tradução não autorizada
42
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM DEZ
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(10)
Leitura da Escritura: Tg 4:6-17
Na mensagem anterior, consideramos os três principais problemas encontrados em 4:1-
10. Esses problemas são: prazeres, o mundo e o Diabo. Nesta mensagem, continuaremos a
considerar o que Tiago diz em 4:6-17.
MAIOR GRAÇA
No versículo 6, Tiago diz: “Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes”. O pronome implícito antes da palavra diz (verbo “dizer”
flexionado), neste versículo, refere-se à Escritura no versículo 5. A última parte do versículo 6 é
uma citação da Septuaginta, de Provérbios 3:34. Esse versículo diz: “Deus resiste aos soberbos,
mas dá graça aos humildes”. Conforme o contexto, isto significa ser orgulhoso para com Deus.
Ser orgulhoso para com Deus leva-O a nos resistir. Ser humilde é também para com Deus, e isto
O leva a dar-nos graça, conforme Ele deseja.
Precisamos aprender a nos chegar a Deus (v. 8) para receber maior graça. Ao invés de
sermos orgulhosos e resistirmos a Deus, devemos receber, com mansidão, a palavra implantada.
Uma pessoa que é orgulhosa não pode receber a palavra implantada. Se formos humildes,
receberemos a palavra implantada, e também receberemos maior graça.
SUJEITAR-SE A DEUS
No versículo 7, Tiago continua: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele
fugirá de vós”. Sujeitar-se a Deus é ser humilde para com Deus (v. 10; 1 Pe 5:6).
Ser orgulhoso para com Deus é tomar o lado do inimigo, o Diabo. Ser humilde para com
Deus, isto é, sujeitar-se a Deus, é resistir ao Diabo, isto é, oferecer resistência ao Diabo. Esta é a
melhor estratégia para combater o inimigo de Deus; isto sempre o leva a fugir de nós.
A carne implícita no versículo 1, o mundo no versículo 4, e o Diabo no versículo 7 são os
três maiores inimigos dos crentes. Eles estão relacionados um ao outro: a carne está contra o
Espírito (Gl 5:17), o mundo está contra Deus (1 Jo 2:15), e o Diabo está contra Cristo (1 Jo 3:8). A
carne indulgencia com os prazeres por amar o mundo, e o mundo nos usurpa para o Diabo. Isto
anula o propósito eterno de Deus em nós.
No versículo 8, Tiago continua a dizer: “Chegai-vos a Deus, e Ele Se chegará a vós outros.
Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração”. Aqui, como em
1:8, Tiago usa a expressão “ânimo dobre”, mente dobre. Em 1:8, ser de ânimo dobre está
relacionado ao duvidar em oração. Deus fez o homem somente uma alma com uma mente e uma
vontade. Quando um crente duvida em oração, ele se torna duas almas, como um barco com dois
timões, instável na direção. Em 4:8, ser de ânimo dobre é uma questão de ter o coração dividido
por dois partidos ___ Deus e o mundo. Isto torna as pessoas adúlteras (v. 4) e pecadoras, que
necessitam que seus corações sejam limpos e suas mãos purificadas, de modo que possam
chegar-se a Deus e Deus possa chegar-Se a eles.
No versículo 9, Tiago diz: “Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em
pranto, e a vossa alegria, em tristeza”. Este versículo é uma solene admoestação à esposa
adúltera de Deus, que, sob a usurpação do Diabo, indulgencia consigo mesma nos prazeres
carnais pelo amar o mundo.
Tradução não autorizada
43
No versículo 10, Tiago conclui esta seção: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele
vos exaltará”. Esta palavra, como uma conclusão desta seção (vs. 1-10), é uma exortação contra
as contendas e desejos mencionados nos versículos 1 a 3.
NÃO FALAR CONTRA OS IRMÃOS
Nos versículos 11 e 12, Tiago dá-nos uma palavra sobre não falar contra os irmãos:
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal
da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Um só é Legislador e
Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que julgas o próximo?” Note
que, nestes versículos, Tiago menciona a lei quatro vezes. No versículo 12, ele se refere a Deus
como o Legislador. A palavra de Tiago, aqui e em 2:8-11, com respeito à lei do Velho Testamento,
e suas palavras, em 1:25 e 2:12, com respeito à lei perfeita da liberdade podem indicar que, em
seu entendimento, não há distinção entre guardar a lei do Velho Testamento e viver pela lei
perfeita da liberdade, a lei interior de vida. Contudo, conforme a revelação divina em todo o Novo
Testamento, há uma distinção definida, clara, entre as duas. Guardar a lei do Velho Testamento
meramente nos faz justos com Deus e os homens, de modo que possamos ser justificados pela lei.
Contudo, viver pela lei interior de vida (Hb 8:10-11; Rm 8:2) é viver e exaltar Cristo (Fp 1:20-21)
para a edificação de Seu Corpo a fim de expressá-Lo (Ef 1:22-23), e para a edificação da casa de
Deus para satisfazê-Lo (1 Tm 3:15). Isto é para o cumprimento do alvo eterno de Deus, conforme
Sua economia neotestamentária. Embora nos tornemos perfeitos pelo guardar a lei do Velho
Testamento, ainda somos carentes do alvo eterno de Deus. Somente o viver pela lei de vida
interior serve para isto. Tal viver, espontânea e inconscientemente, cumpre mais do que é exigido
sob a lei do Velho Testamento (Rm 8:4), até ao padrão da constituição do reino, como revelado
nos capítulos cinco a sete do Evangelho de Mateus.
CONFIANDO NÃO NA VONTADE DO EGO, MAS NO SENHOR
Até aqui, temos coberto nove aspectos das virtudes práticas da perfeição cristã: suportar
provações pela fé (1:2-12), resistir à tentação como nascidos de Deus (1:13-18), viver uma vida de
temor a Deus pela palavra implantada conforme a lei perfeita da liberdade (1:19-27), não fazendo
acepção de pessoas entre os irmãos (2:1-13), sendo justificados pelas obras em relação aos
crentes (2:14-26), refreando a língua (3:1-12), agindo em sabedoria (3:13-18), tratando com os
prazeres, o mundo, e o Diabo (4:1-10), e não falando contra os irmãos (4:11-12). Na próxima
seção (4:13-17), temos outra virtude da perfeição cristã prática: não confiar na vontade do ego,
mas no Senhor.
No versículo 13, Tiago diz: “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a
cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros”. Este versículo começa
com as palavras “atendei agora”. Tiago usa esta expressão uma segunda vez em 5:1, onde ele
fala aos ricos. O que a expressão, “atendei agora”, significa? Ela pode ser uma expressão
idiomática de alguma forma equivalente a dizer: “Ouvi-me”.
Ao ler o versículo 13, precisamos prestar atenção ao tempo futuro. Contender por
prazeres carnais (v. 1), fazer amizade com o mundo (v. 4), falar contra um irmão, isto é, julgar a lei
(v. 11), sair para fazer negócio conforme a própria vontade, e jactar-se arrogantemente (v. 16) são
todos sinais da confiança ímpia e presunçosa de uma pessoa que se esquece de Deus. Tiago
ensinou tudo isto baseado, provavelmente, em sua visão a respeito da perfeição cristã prática.
Uma vez mais, eu gostaria de mostrar o contraste entre a ênfase de Tiago sobre a
perfeição cristã prática e a ênfase de Paulo, em suas epístolas, concernente à experiência de
Cristo para a produção da igreja. Se tivermos uma visão clara desta comparação, veremos a
necessidade de avançar do nível humano, enfatizado no livro de Tiago, para o nível divino,
enfatizado nas epístolas de Paulo. No nível divino, conhecemos Cristo, experienciamos Cristo e
possuímos Cristo para a edificação da igreja, Seu corpo, como Sua expressão. Espero que o livro
de Tiago nos ajudará a ver este contraste.
Nos versículos 14 e 15, Tiago continua: “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a
vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso,
devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”. A
Tradução não autorizada
44
palavra de Tiago aqui soa, novamente, de alguma forma, como o matiz do Velho Testamento (ver
Sl 90:3-10). Em todo caso, sua palavra estimula um temor da vontade própria de alguém e uma
confiança em Deus, como expresso no versículo 15.
Em 4:16 e 17, Tiago conclui: “Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes
pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna. Portanto, aquele que sabe que deve
fazer o bem e não o faz nisso está pecando”. A palavra “arrogantes”, no versículo 16, também
significa caráter pretensioso, vanglória.
A palavra “portanto”, no versículo 17, indica que este versículo é uma palavra conclusiva
para todas as exortações nos versículos precedentes. Esta palavra conclusiva indica que se os
recipientes foram ajudados pelo escrito de Tiago e, contudo, não fizerem como ele escreveu, isto
lhes é pecado.
UMA MÁXIMA
Muitos cristãos entesouram 4:13-17, especialmente a palavra de Tiago nos versículos 14 e
15. No versículo 14, Tiago diz: “Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se
dissipa”. Esta afirmação pode ser considerada um provérbio. Então, no versículo 15, Tiago nos
encoraja a dizer: “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”.
Aqui, Tiago está dizendo que ao invés de declarar que hoje ou amanhã iremos a certo lugar,
passaremos um tempo ali, negociaremos, e teremos lucros, simplesmente devemos dizer: “Se o
Senhor quiser...”
A palavra de Tiago no versículo 15 soa muito similar a uma máxima. Quando eu era
jovem, eu tinha o pensamento de fazer um marco com esta máxima nele para lembrar-me sempre
de dizer: “Se o Senhor quiser”. Embora eu ainda aprecie este dito, posso reconhecer que ele tem
um matiz do Velho Testamento.
Os cristãos, algumas vezes, usam este versículo em cartas escritas, dizendo que eles irão
a certo lugar ou farão algo particular “se o Senhor quiser”. Conheço, por experiência, que esta
frase pode ser-nos uma proteção. Por exemplo, posso ser convidado a certo lugar e aceito o
convite. Todavia, em minha carta de aceitação, posso adicionar a frase “se o Senhor quiser”. Isto
me protege no sentido que, se, eventualmente, eu não puder ir lá como planejado, não posso ser
condenado por outros por não ir. Por conseguinte, dizer “se o Senhor quiser” pode ser uma
proteção.
GUIADOS PELO ESPÍRITO
O que Tiago diz nesses versículos é diferente, em tom, do que é encontrado em outras
partes no Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo. Talvez você possa pensar em
certos versículos escritos por Paulo que são similares à palavra de Tiago em 4:15. Não obstante, o
tom básico do escrito de Paulo é diferente, pois ele nos exorta a andar segundo o Espírito. Por
exemplo, em Gálatas 5:16, Paulo diz: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à
concupiscência da carne”. Então, em Gálatas 5:25, Paulo continua a dizer: “Se vivemos pelo
Espírito, andemos também pelo Espírito”. Além do mais, em Romanos 8:4, Paulo nos diz que “a
exigência justa da Lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o
Espírito”.
No Livro de Atos, vemos que Paulo era guiado pelo Espírito e andava no Espírito. Atos
16:6 diz que eles foram “impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia”. Então, o
versículo 7, diz que o Espírito de Jesus não lhes permitiu ir para Bitínia. Aqui, vemos que quando
Paulo estava viajando para a pregação do evangelho, ele era restringido e dirigido pelo Espírito.
Em outras ocasiões, Paulo ficou revoltado em seu espírito (At 17:16), foi impulsionado no espírito
(At 18:5), e resolveu no espírito (At 19:21).
Dizer: “Se o Senhor quiser”, é certamente objetivo, e está muito de acordo com o tom do
Velho Testamento. Porém, ser guiado pelo Espírito, andar no Espírito e fazer aquilo que nosso
espírito nos constrange a fazer são processos subjetivos e estão muito mais de acordo com o Novo
Testamento.
Eu certamente não tenho qualquer intenção de depreciar Tiago ou sua epístola.
Entrementes, devo, fielmente, mostrar que, depois de muitos anos estudando este livro, aprendi
Tradução não autorizada
45
que esta epístola é muito judaica e tem uma forte cor, tom, gosto e atmosfera do Velho
Testamento. Se não tivéssemos as quatorze epístolas de Paulo, poderíamos ser influenciados
pelo livro de Tiago para voltar ao judaísmo. Embora apreciemos e necessitemos da ênfase de
Tiago sobre a perfeição cristã prática, ainda precisamos ter clareza de que muito de sua epístola
tem o tom, a cor e atmosfera do Velho Testamento.
Tradução não autorizada
46
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM ONZE
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(11)
Leitura da Escritura: Tg 5:1-11
UMA PALAVRA AOS RICOS
Nesta mensagem, consideraremos 5:1-11. Os versículos 1 a 6 podem ser considerados
uma seção parentética, e essa seção pode ser endereçada, conforme seu conteúdo, à classe rica
entre os judeus em geral, visto que Tiago considerava seus recipientes as doze tribos dos judeus
(1:1). Em 5:1, Tiago diz aos ricos: “Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai por vossas
misérias, que sobre vós hão de vir”.
Nos versículos 2 e 3, Tiago diz aos ricos que suas riquezas estão corruptas, e as suas
roupagens, comidas de traça, seu ouro e a sua prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem
há de ser por testemunho contra eles e há de devorar, como fogo, as suas carnes. Em seguida, no
versículo 4, ele continua a dizer: “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram
até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos”. Como em Romanos 9:29, “Senhor dos Exércitos” é o
equivalente do título divino em hebraico, Jeová Sebaote, que significa Jeová das hostes, dos
Exércitos (1 Sm 1:3). Tal título carrega um caráter, cor, tom e sabor judaicos. Isto é uma
confirmação adicional do fato que Tiago ainda se preocupava muito com as coisas judaicas.
No versículo 5, Tiago continua a dizer: “Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes
vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança”. Aqui, “engordado o
vosso coração, em dia de matança” indica que eles satisfaziam seu desejo glutônico em prazeres,
mesmo em dia de matança (Jr 12:3), isto é, no dia do juízo, quando eles estavam para ser mortos
como animais pelo juízo de Deus. Isto implica que eles estavam num estupor, inconscientes de
suas misérias vindouras, seu miserável destino (5:1).
No versículo 6, Tiago diz: “Tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça
resistência”. Neste versículo, “o justo” é um coletivo com o artigo usado para a espécie. Ele não
se refere diretamente a qualquer pessoa, mas retrata a morte do Senhor Jesus, que é o Justo (At
7:52; 3:14).
É difícil dizer a quem 5:1-6 está endereçado. Existem algumas divergências entre os
mestres bíblicos a respeito desse ponto. É muito certo que esses versículos não foram
endereçados meramente aos crentes. Eu creio que 5:1-6 está endereçado ao povo judeu de uma
maneira geral.
Este entendimento é confirmado pelo fato que, segundo 1:1, esta epístola está
endereçada “às doze tribos que se encontram na Dispersão”. O conceito de Tiago provavelmente
era que os crentes judeus deviam ser considerados como sendo ainda parte do povo judeu.
Portanto, ele endereçou sua epístola aos crentes judeus, mas também a todos os judeus. Isto
pode ajudar-nos a entender por que Tiago endereçou esta epístola às doze tribos.
Se a Epístola de Tiago está endereçada tanto aos crentes judeus quanto ao povo judeu
em geral, isto pode ajudar-nos a entender o que Tiago diz no capítulo quatro sobre guerras,
contendas, e assassinato (vs. 1-2). Entre os judeus, provavelmente, havia contendas e até
assassinatos. Isto pode significar que, em 4:1-2, Tiago fala a respeito de contendas entre os
judeus que se originavam com suas lascívias.
Como um todo, o escrito de Tiago é, até certo grau, ambíguo. Visto que ele estava sob a
densa nuvem dos conceitos judaicos, sua visão não era clara. Além do mais, pelo menos até certo
ponto, Tiago era simpático com o judaísmo. Por um lado, nesta epístola, Tiago ainda mantém
Tradução não autorizada
47
certos conceitos do Velho Testamento. Por isso, seu escrito é uma mistura. Como temos
mostrado, o título Senhor dos Exércitos, em 5:4, aponta para o caráter judaico deste livro.
AGUARDANDO A VINDA DO SENHOR COM PACIÊNCIA
Depois da seção parentética, em 5:1-6, temos uma palavra a respeito do aguardar a vinda
do Senhor com paciência (5:7-11). Isto também é uma virtude prática da perfeição cristã.
Aguardar a volta do Senhor não é uma questão do Velho Testamento. Antes, é uma
questão plenamente do Novo Testamento. Isto mostra que depois de falar aos judeus, em 5:1-6,
Tiago agora fala aos cristãos, aos crentes, em 5:7-11. Primeiro, ele fala aos ricos dentre os judeus,
e, em seguida, fala aos cristãos sobre aguardar a volta do Senhor. Eu acho difícil crer que Tiago
pudesse escrever desta maneira. Não obstante, isto é o que encontramos em 5:1-11.
Em 5:7, Tiago diz: “Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o
lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas
chuvas”. As palavras gregas para pacientes e paciência, nesses versículos, são makrothumia
(substantivo, como em Hb 6:12; Rm 2:4; 2 Tm 4:2; 1 Pe 3:20) e makrothumeo, como em Tiago
5:7-8. Paciente expressa paciência para com as pessoas, como para com aqueles que
perseguiam os profetas (v. 10).
A palavra grega para “vinda” em 5:7 é parousia, presença. A vinda de Cristo será Sua
presença com Seus crentes. Esta parousia começará com Sua vinda para os ares e terminará
com Sua vinda à terra. Dentro de Sua parousia, haverá o arrebatamento da maioria dos crentes
para os ares (1 Ts 4:15-17), o tribunal de Cristo (2 Co 5:10), e o casamento do Cordeiro (Ap 19:7-
9).
No versículo 8, Tiago continua: “Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração,
pois a vinda do Senhor está próxima”. Enquanto estamos aguardando a vinda do Senhor com
paciência, Ele, como o verdadeiro semeador (Mt 13:3), está também aguardando, com paciência,
nossa maturidade em vida como a primícia e a seara do Seu campo (Ap 14:4, 14-15). Nossa
maturidade em vida pode encurtar o período de nossa paciência e de Sua paciência.
O versículo 9 diz: “Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis
que o juiz está às portas”. Este versículo mostra que o Senhor voltará não somente como o Noivo
para encontrar a noiva (Mt 25:1, 6; Ap 19:7-8), mas também como o Juiz para julgar todas as
pessoas. Primeiro, o Senhor julgará Seus crentes em Seu tribunal (1 Co 4:4-5; 2 Co 5:10).
Precisamos buscar maturidade em vida para encontrar o Senhor e estar preparados para sermos
julgados por Ele.
No versículo 10, Tiago continua: “Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência
os profetas, os quais falaram em nome do Senhor”. Este é um desenvolvimento adicional dos
versículos 7 e 8 a respeito do sofrimento e da paciência dos crentes fiéis. Tiago usa os profetas
como exemplo. Os profetas falaram em nome do Senhor. Falar em nome do Senhor mostra que
os profetas eram um com o Senhor. Por isso, seu sofrimento e paciência eram com o Senhor e
para o Senhor. O sofrimento e paciência dos crentes fiéis devem ser o mesmo.
No versículo 11, Tiago diz: “Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes
ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna
misericórdia e compassivo”. Neste versículo, “perseveraram” e “paciência” são traduções das
palavras gregas hupomeno, verbo, e hupomone, substantivo, como em Romanos 5:3 e 2 Coríntios
1:6. Esta perseverança expressa paciência para com as coisas, tais como as coisas que afligiam
Jó.
Nossa Necessidade de Crescer em Vida
Em 5:7, Tiago usa a ilustração de um agricultor aguardando com paciência o precioso fruto
da terra. Temos visto que o Senhor Jesus é, verdadeiramente, o verdadeiro Agricultor, o único
Agricultor. Visto que estamos aguardando Sua vinda, Ele, como o verdadeiro Agricultor, está
aguardando nossa maturidade. Podemos orar: “Senhor, volta rapidamente”. Entretanto, Ele pode
dizer: “Meus filhos, amadureçam mais rápido. Enquanto você está aguardando Minha volta, Eu
estou aguardando sua maturidade. Você sabe por que tem passado aproximadamente dois mil
Tradução não autorizada
48
anos e Eu ainda não voltei? A razão é que Meu povo ainda não está maduro. Somente sua
maturidade pode apressar Minha volta. Você exercita sua paciência, e Eu exercito Minha
paciência”.
É uma grande ajuda para nós percebermos que, embora sejamos sérios acerca do
aguardar a volta do Senhor, precisamos crescer em vida. A maior parte dos cristãos hoje vê a
volta do Senhor de uma maneira totalmente objetiva, de uma maneira que não tem nada que ver
com nossa condição espiritual ou crescimento espiritual. Sua expectativa é que, um dia, o Senhor
repentinamente virá, e que Sua vinda não terá nada a ver com sua maturidade. Pode ser que os
conceitos que muitos cristãos sustentam a respeito da volta do Senhor estejam, na verdade,
levando-O a retardar Sua vinda.
A ilustração do agricultor em 5:7 implica que o agricultor está aguardando a safra
crescendo no campo amadurecer. Conforme Apocalipse 14, o Senhor está aguardando a seara
ficar madura. Quando a seara no campo estiver madura, Ele voltará. Essa seara será o resultado,
o produto, do Senhor semear a Si mesmo como uma semente. Isto foi cumprido durante a primeira
vinda do Senhor, e está descrito em Mateus 13. Precisamos perceber que é o amadurecimento da
seara que apressará a volta do Senhor.
Paciência e Perseverança
Nesses versículos, Tiago fala tanto de paciência quanto de perseverança. Ele usa os
profetas como exemplo de paciência e Jó como exemplo de perseverança. Como diferenciaremos
paciência de perseverança? Depois de muito estudo, concluí que paciência é uma questão de
longanimidade para com as pessoas. Quando somos perseguidos precisamos de paciência.
Portanto, paciência é uma expressão de nossa longanimidade para com pessoas. Os profetas
foram perseguidos, contudo eles foram pacientes para com seus perseguidores. Perseverança, ao
contrário, é uma expressão de nossa longanimidade para com as coisas que nos afligem. Por
conseguinte, quando Jó sofreu aflição, ele mostrou perseverança. O sofrimento de Jó não foi o de
perseguição, mas o de calamidades.
Em seu escrito, Tiago usa as palavras gregas para paciência e perseverança. Enquanto
estamos aguardando a volta do Senhor, precisamos tanto de paciência quanto de perseverança,
pois encaramos sofrimento de duas fontes. Essas fontes são pessoas que nos perseguem e o
ambiente que nos aflige. Por exemplo, um irmão pode sofrer um acidente, e seu carro novo pode
ficar danificado. Para isso, ele não precisa de paciência; ele precisa de perseverança. O carro
não tem feito nada para persegui-lo, contudo ele, de verdade, sofre em conseqüência da aflição de
um ambiente específico. Para essa aflição, ele necessita de perseverança. No entanto, se esse
irmão é maltratado por seu chefe, ele precisará de paciência para com seu chefe. Porém, se ele
perder seu emprego, sofrendo como resultado daquela aflição do ambiente, ele, uma vez mais,
precisará de perseverança. Precisamos exercitar a paciência para com as pessoas e a
perseverança para com as aflições do ambiente.
Para a volta do Senhor, precisamos de paciência, perseverança e crescimento em vida. À
proporção que estamos exercitando paciência para com aqueles que nos perseguem e
perseverança para com as aflições, precisamos crescer em vida. Então poderemos dizer: “Ó
Senhor Jesus, volta logo. Senhor, não podes ver que eu estou crescendo em vida? Hoje, estou
crescendo mais rapidamente que ontem. Visto que estou crescendo, Senhor, eu Te peço para
acelerar Tua volta”. Você já orou desta maneira? Eu duvido que muitos cristãos tenham orado
desta maneira a respeito da volta do Senhor.
Precisamos perceber que a vinda do Senhor está relacionada a nosso crescimento em
vida. Se cumprirmos a condição do crescimento em vida, o Senhor cumprirá a condição de voltar
logo. Por conseguinte, precisamos crescer em vida, e, enquanto estamos crescendo, precisamos
exercitar a paciência e a perseverança. Esta é a maneira adequada de aguardar a volta do
Senhor.
A Parousia do Senhor
Anteriormente, nesta mensagem, mostramos que a palavra grega para “vinda” em 5:7 e 8
é parousia, que significa presença. A parousia do Senhor durará um período de tempo, pelo
Tradução não autorizada
49
menos três anos e meio, a duração da grande tribulação. A parousia é, provavelmente, para
começar um pouco mais cedo que a tribulação, e pode acabar um pouco antes do fim da grande
tribulação. É muito difícil para nós sabermos quando isto será, pois o Senhor Jesus disse que
somente o Pai sabe o tempo de Sua vinda. Isto significa que o tempo do começo da parousia do
Senhor é um segredo guardado confidencialmente no coração do Pai. Contudo, segundo o estudo
da profecia nas Escrituras, podemos dizer que a parousia começará um pouco mais cedo que o
início da grande tribulação.
A maior parte dos cristãos não entende a vinda do Senhor como sendo uma questão da
parousia, Sua presença, em um período de tempo. Ao invés, muitos crentes pensam que a vinda
do Senhor será algo como um acidente. Na verdade, a parousia do Senhor durará um período de
tempo. Conforme a palavra de Tiago, precisamos aguardar a vinda do Senhor, Sua parousia, com
paciência e perseverança. Ademais, enquanto estamos aguardando, precisamos crescer em vida
para a maturidade.
Tradução não autorizada
50
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM DOZE
VIRTUDES PRÁTICAS DA PERFEIÇÃO CRISTÃ
(12)
Leitura da Escritura: Tg 5:12-20
Nesta mensagem, consideraremos as duas últimas seções da Epístola de Tiago: falar
honestamente sem jurar (5:12) e práticas saudáveis na vida da igreja (5:13-20).
FALAR HONESTAMENTE SEM JURAR
Em 5:12, Tiago diz: “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem
pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não
cairdes em juízo”. Não devemos jurar, pois somos nada, e nada está sob nosso controle ou cabe a
nós (Mt 5:34-36). Jurar mostra o agir da nossa vontade própria e nosso esquecimento de Deus.
Mas deixar nosso sim ser sim e nosso não ser não é agir conforme a maturidade divina que temos
recebido por meio da regeneração, na percepção da presença de Deus, com a negação da
vontade própria e da natureza pecaminosa.
O que Tiago diz neste versículo lembra-nos da palavra do Senhor Jesus em Mateus 5:37:
“Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno”. Aqui, o
Senhor está dizendo que nossa palavra deve ser simples e verdadeira: “Sim, sim; não, não”. Não
devemos tentar convencer os outros com muitas palavras.
Em 5:12, Tiago diz que se nosso sim é sim e nosso não é não, não cairemos em juízo.
Nossa fidelidade e sinceridade genuínas, em nossas palavras, conforme a natureza divina de que
participamos, guardar-nos-á do juízo de Deus.
Uma vez mais, a palavra de Tiago acerca do juízo nos lembra de uma palavra falada pelo
Senhor Jesus. Em Mateus 12:36 e 37, o Senhor diz: “Digo-vos que de toda palavra frívola que
proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras, serás
justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado”. A palavra grega para “frívola” é argos,
composta de duas palavras: a que significa não, e ergon que significa trabalho. Uma palavra
frívola é uma palavra não trabalhadora, uma palavra inoperante, que não tem função positiva,
inútil, inaproveitável, infrutífera e estéril. No dia do juízo, aqueles que falam tais palavras darão
contas a respeito de cada uma delas. Visto que este é o caso, muitíssimo mais devemos prestar
contas por cada palavra maligna! Em Mateus 5:37, o Senhor nos dá uma séria advertência. Esta
advertência mostra-nos que devemos aprender a controlar e restringir nosso falar.
O que Tiago diz em 5:12 se encaixa com o assunto desta epístola ___ perfeição cristã
prática. Nosso modo de falar tem muito a ver com isto. Falar honestamente e com restrição é uma
virtude da perfeição cristã prática. Contudo, se somos relaxados em nosso falar, carecemos de
muita perfeição. Portanto, depois de nos dizer para não jurar, Tiago diz que nosso sim deve ser
sim e nosso não deve ser não, de modo que não caiamos em juízo.
Como um homem piedoso, Tiago jamais podia esquecer o juízo vindouro, e vivia sob este
juízo. Espero que todos tenhamos o entendimento de que o que quer que façamos será julgado.
Por exemplo, nosso falar ao telefone será julgado pelo Senhor. Quando algumas irmãs estão no
telefone, elas falam sem qualquer restrição. Aparentemente, não percebem que tudo que dizem
um dia será julgado conforme a palavra do Senhor em Mateus 12:36-37.
A respeito de jurar e falar irrestritamente, Tiago foi sério. Entretanto, certos crentes não
são sérios com relação a essas coisas. Para eles, parece que não haverá qualquer juízo. Eles
podem ter o conceito que, uma vez que tenham sido salvos da perdição eterna, não haverá mais
problemas. Contudo, sabemos, de acordo com o Novo Testamento, que todos os crentes terão
que prestar contas ao Senhor em Seu tribunal.
Tradução não autorizada
51
O que estava no coração de Tiago quando ele estava escrevendo esta epístola era a
questão da perfeição cristã prática. Por causa de seu interesse pela perfeição cristã, ele diz em
5:12: “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis”. Depois de dizer muito acerca da língua, no
capítulo três, ele dá essa palavra acerca de jurar em 5:12;
Qualquer pessoa que jure não é uma pessoa honesta. Aquele que jura é um mentiroso.
Qualquer pessoa que seja honesta não tem necessidade de jurar. A razão por que nós, cristãos,
não devemos jurar é que somos honestos. Qualquer pessoa que jure é uma pessoa que está
fingindo, e seu jurar é um sinal de que ela não é honesta. Jurar, portanto, é um sinal de
fingimento.
A razão básica para não jurar, entretanto, é que nada está sob nosso controle. Nem o céu
nem a terra são nossos. Na verdade, nem mesmo pertencemos a nós mesmos, e não podemos
controlar nada. Visto que nada está sob nosso controle, não devemos fazer juramento. Uma vez
mais, vemos que nosso falar necessita de ser restrito.
Em 5:12, Tiago mostra que não devemos falar excessivamente. O falar desnecessário
sempre causa problemas. Se falamos descuidadamente, podemos exagerar e não ser honestos.
Contudo, se nosso falar é restrito, podemos exercitar a nós mesmos para falar honestamente.
PRÁTICAS SAUDÁVEIS NA VIDA DA IGREJA
Orar
Em 5:13, Tiago avança para o assunto de práticas saudáveis na vida da igreja: “Está alguém
entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores”. Orar traz-nos a força do
Senhor para suportar sofrimentos, e cantar louvores nos mantém na alegria do Senhor. As
palavras gregas traduzidas “cante louvores” também significam cante salmos, ou toque um
instrumento de cordas. Quer oremos ou cantemos louvores, devemos contatar Deus. Em
qualquer ambiente e sob qualquer circunstância, humilhados ou exaltados, com dores ou alegres,
precisamos contatar o Senhor.
No versículo 14, Tiago continua: “Está alguém entre vós fraco? Chame os presbíteros da
igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor”. Neste
versículo, Tiago se refere a alguém que está fraco por causa da enfermidade. Fraqueza leva à
enfermidade (1 Co 11:30), e a enfermidade leva a mais fraqueza.
No versículo 14, Tiago encoraja aquele que está fraco a chamar os presbíteros da igreja.
Chamar os presbíteros da igreja para orar pela fraqueza por causa da enfermidade implica que não
há qualquer problema entre o que chama e a igreja representada pelos presbíteros; esta
restauração foi feita entre o que chama e a igreja, se a enfermidade é por causa do que chama ter
ofendido a igreja (ver 1 Co 11:29-32); e isto foi uma confissão completa de pecados um ao outro
pelo enfermo e pelos presbíteros (Tiago 5:16).
UNGIR COM ÓLEO NO NOME DO SENHOR
No versículo 14, Tiago fala de ungir com óleo no nome do Senhor. Duas palavras gregas
são traduzidas ungir: aleipho, a palavra usada aqui e em Jo 12:3, é o termo comum para aplicar
óleo; chrio significa ungir oficialmente para oficiar como sacerdote (At 10:38), rei (Hb 1:9), ou
profeta (Lc 4:18). Chrio em conexão com Christos (Cristo) é usada para a unção do Filho pelo Pai
(At 10:38). Ungir com óleo significa impartir o Espírito de vida, que tem sido derramado sobre o
Corpo de Cristo como o óleo ungidor (Sl 133:2), ao membro enfermo do Corpo, por meio da
representação dos presbíteros da igreja, para a cura do enfermo (1 Jo 5:16).
“Em nome do Senhor” significa unidade com o Senhor. A unção em 5:14 não é por meio dos
presbíteros somente, mas por eles serem um com o Senhor, representando tanto o Corpo de
Cristo quanto a Cabeça.
No versículo 14, temos a única menção direta da igreja no livro de Tiago. A única vez que
Tiago fala da igreja é em relação ao assunto negativo de curar a enfermidade. Ademais, a questão
de restaurar um irmão que está desviado da verdade é também uma questão relacionada à vida da
igreja. Conseqüentemente, o que Tiago diz a respeito da igreja envolve questões negativas: orar
pelo enfermo e restaurar o apóstata.
Tradução não autorizada
52
O conceito de Tiago estava cheio de coisas do judaísmo e não muito das coisas a respeito
da igreja. Em contraste com Tiago, Paulo estava permeado, saturado e encharcado com as
questões da igreja. Freqüentemente, em seus escritos, ele fala a respeito da igreja. Em suas
epístolas, Paulo escreve a respeito de Cristo, do Espírito, da vida e da igreja, de uma maneira
profunda. Contudo, nesta epístola, Tiago tem pouco a dizer sobre Cristo, o Espírito, vida ou a
igreja. Embora apreciemos a ênfase de Tiago sobre a perfeição cristã prática, devemos avançar,
por meio da ajuda do ministério de Paulo a respeito da economia de Deus, para ver que a igreja é
edificada com as riquezas do Cristo todo-inclusivo.
A Oração da Fé
Em 5:15, Tiago continua a dizer: “E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o
levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. A palavra grega traduzida
“oração” não está na forma costumeira da palavra para oração. Esta palavra é traduzida voto em
At 18:18 e 21:23.
No versículo 15, Tiago menciona tanto enfermidade quanto pecados. Cometer pecados é,
freqüentemente, a causa de enfermidade (Jo 5:14). Em tais casos, o perdão é sempre a causa da
cura (Mt 9:2, 5-7; Mc 2:5). Por esta razão, na primeira parte do versículo 16, Tiago diz: “Confessai,
pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados”.
Orando na Oração
Em 5:16b-18, Tiago diz: “Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. Elias era homem
semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, na oração, para que não chovesse
sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a
terra fez germinar seus frutos”. As palavras “orou, na oração” indicam que uma oração do Senhor
foi dada a Elias, na qual ele orou. Ele não orou em seu sentimento, pensamento, intenção, ânimo,
ou em qualquer espécie de motivação, a partir das circunstâncias ou situações, para o
cumprimento de seu próprio propósito. Ele orou na oração dada a ele pelo Senhor para o
cumprimento de Sua vontade.
No versículo 16, Tiago fala da eficácia da súplica do justo. Isto indica que no orar pelo
enfermo, precisamos orar no modo de uma súplica eficaz. Isto significa que não devemos orar
sem um encargo. Antes, precisamos orar como Elias orou.
No versículo 17, Tiago diz que, na oração, Elias orou para que não chovesse. Em outras
palavras, Elias orou em uma oração. A versão King James diz que Elias orou com instância.
Entretanto, orar, numa oração, realmente não significa orar com instância. Tiago não nos diz que
Elias orou com instância; ele diz que Elias orou numa oração.
Qual é o significado desta expressão, orar em uma oração? A oração que Elias orou foi
grande, pois ele orou para que não chovesse sobre a terra por três anos e seis meses. Isto é
muito maior que orar pela cura de uma pessoa enferma. Depois de três anos e meio, Elias orou
novamente, orando, dessa vez, para que o céu desse chuva. Elias pôde orar dessa maneira
porque Deus lhe dera uma oração, porquanto Deus dera-lhe o encargo de uma oração. Em outras
palavras, Elias teve o encargo de orar de uma maneira particular, e esse encargo era uma oração
dada a ele por Deus.
Não devemos orar segundo nossa memória, observação, ou nosso próprio encargo. Ao
contrário, devemos ter um encargo de Deus para orar por certa coisa, da mesma forma que Elias
recebeu o encargo de uma oração dada a ele por Deus. Deus deu a Elias uma oração, e, nessa
oração, Elias orou. Isto não é uma questão de orar com instância. É uma questão que Deus, em
Seu mover e conforme Seu plano, deu a Elias uma oração, e Elias recebeu o encargo de orar a
oração que Deus lhe dera. Portanto, Elias orou em uma oração.
Converter um Pecador à Verdade
Em 5:19 e 20, Tiago continua a dizer: “Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da
verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado
Tradução não autorizada
53
salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados”. Isto pode implicar que o enfermo no
versículo 14 se desviou da verdade e precisava se converter.
Segundo o contexto desses dois versículos, o pecador, no versículo 20, não é um pecador
incrédulo, mas um irmão crente que se desviou da verdade e se converteu do seu erro à verdade.
Conseqüentemente, a salvação de sua alma não se refere à salvação eterna da pessoa, mas se
refere à salvação dispensacional de sua alma do sofrimento da morte física sob a disciplina de
Deus.
Primeira de Pedro 1:5 e Hebreus 10:39 também estão relacionados à salvação da alma. A
salvação em 1 Pe 1:5 não é salvação da perdição eterna, mas salvação de nossas almas da
punição dispensacional do tratamento governamental do Senhor. Hebreus 10:39 fala do ganhar a
alma. No momento que cremos no Senhor Jesus e fomos salvos, nosso espírito foi regenerado
com o Espírito de Deus (Jo 3:6). Porém, devemos esperar até que o Senhor Jesus volte para
nosso corpo ser redimido, salvo e transfigurado (Rm 23-25; Fp 3:21). Quanto ao salvar ou ganhar
nossa alma, depende de como lidamos com ela no seguir o Senhor depois que estamos salvos e
regenerados. Se a perdermos agora por causa do Senhor, salvá-la-emos (Mt 16:25; Lc 9:24;
17:33; Jo 12:25; 1 Pe 1:9) e seremos salvos, ou ganhos, na volta do Senhor. Isto será um
galardão aos seguidores do Senhor que são vencedores (Mt 16:22-28).
Em 1:21, Tiago fala do salvar nossas almas. A salvação de nossas almas, conforme o
contexto desse capítulo, implica a perseverança nas provações do ambiente (vs. 2-12) e o resistir à
tentação da cobiça (vs. 13-21). A visão de Tiago concernente à salvação de nossa alma é, de
alguma forma, negativa e não tão positiva quanto àquela de Paulo, que diz que nossa alma pode
ser transformada, pela renovação do Espírito, à imagem do Senhor, de glória em glória (Rm 12:2;
Ef 4:23; 2 Co 3:18).
Em 5:20, o salvar a alma da morte não é uma questão de salvação da perdição eterna.
Antes, é uma questão da disciplina dispensacional pela morte física (1 Jo 5:16). No versículo 20,
“da morte” deve equiparar-se a “levantará” no versículo 15.
No versículo 20, Tiago diz que aquele que salva uma alma da morte cobrirá multidão de
pecados. “Cobrirá uma multidão de pecados” é uma expressão do Velho Testamento (Sl 32:1;
85:2; Pv 10:12) usada por Tiago para indicar que converter um irmão errado é cobrir seus pecados,
de modo que ele não seja condenado. “Cobrirá... pecados” deve equiparar-se a “pecados...
perdoados” no versículo 15, como no Salmo 32:1 e 85:2. Os pecados em 5:20 são os pecados
cometidos pelo irmão errado, que produziu a morte para ele (1:15).
Alguns escritores têm sugerido que em 5:19 e 20 Tiago está falando acerca da salvação de
um pecador perdido. Eles argumentam que o pecador, aqui, é uma pessoa perdida; que a
salvação da alma é uma questão de ganhar alma; e que morte equivale à morte eterna, isto é,
perdição eterna. Esta interpretação não é correta. No versículo 19, Tiago está falando a irmãos, e
a respeito de alguém entre os irmãos que podia estar desviado da verdade e então se converteu à
verdade. Isto mostra que esse alguém anteriormente estava na verdade. Se ele não tivesse
estado na verdade, como poderia ter se desviado da verdade? Visto que ele tem se desviado da
verdade, deve ter estado, anteriormente, na verdade. Ademais, o versículo 20 fala de um pecador
sendo convertido do erro do seu caminho. Isto também mostra que, uma vez que ele esteve na
verdade, ele tinha se desviado da verdade, e que, agora, ele está se convertendo à verdade.
Certamente, isto não se refere a um pecador não salvo. Sim, no versículo 20, Tiago usa a palavra
“pecador”, pois, à vista de Deus, um crente desencaminhado é um pecador temporariamente. O
fato de ele estar desviado é uma questão de pecar. Conseqüentemente, por que ele se desviou,
ele se torna, por enquanto, um pecador. Portanto, trazê-lo de volta à verdade é trazer um pecador
de volta à verdade. Este pecador, portanto, é um irmão apóstata.
Salvar uma Alma da Morte
Em 5:20, Tiago também diz que aquele que converte tal pecador, tal irmão apóstata, salvará
sua alma da morte. Precisamos prestar atenção ao fato que Tiago não diz “salva-o”, mas diz
“salva sua alma”. Precisamos diferenciar “salvá-lo” de “salvar sua alma”. O que temos no
versículo 20 é uma questão da salvação da alma.
Nesta epístola, Tiago já falou a respeito da salvação da alma. Em 1:21, Tiago diz: “Portanto,
despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em
Tradução não autorizada
54
vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma”. Salvar a alma não é uma questão
de salvação inicial; é uma questão do estágio progressivo da salvação, o estágio da transformação
(ver nota 55 em 1 Pedro 1). Aqueles que foram salvos inicialmente precisam receber mais da
palavra para que possam salvar suas almas. Conseqüentemente, conforme 1:21, depois de nossa
salvação inicial, precisamos ainda de uma salvação adicional, a salvação de nossa alma.
O salvar a alma em 5:20 não está relacionado a salvar a pessoa da perdição eterna; é salvar
sua alma de um certo tipo de sofrimento. Conforme 1 João 5, o pecado pode provocar a morte
física de uma pessoa por causa da disciplina de Deus. Um crente pode pecar e então ser
advertido por Deus. Se ele ignora esta advertência e continua em pecado, Deus pode discipliná-lo
e permitir-lhe tornar-se enfermo. Esta enfermidade é uma disciplina e também uma advertência
para se arrepender, abandonar esse pecado e desistir de uma vida de pecar. Se este crente não
se arrepende, Deus pode discipliná-lo mais, até o ponto que Ele abrevia sua vida física. Como
resultado, esse crente morre.
O fato que um crente pode morrer como resultado do pecado não significa que ele perecerá
eternamente. Uma vez que tenhamos sido salvos, somos salvos eternamente. No dia em que
cremos no Senhor Jesus fomos salvos de uma vez por todas, e nunca mais seremos perdidos.
Entretanto, se um crente permanece numa vida de pecado, ele pode ser advertido e disciplinado
por Deus por meio da enfermidade. Primeiro, Deus pode discipliná-lo com enfermidade como uma
advertência para voltar à verdade. Então, a igreja pode ter alguém para tentar trazer essa pessoa
de volta. Contudo, se essa pessoa permanece em pecado, isto pode forçar Deus a exercer mais
disciplina e permitir-lhe morrer.
Suponha que você tem o encargo de converter um crente desviado à verdade. Convertê-lo
é salvar sua alma da morte física. Esta é a interpretação adequada de 5:19-20.
O que Tiago diz nesses versículos não tem nada a ver com a perdição eterna ou salvação
eterna. A questão da salvação eterna foi plenamente resolvida no momento em que cremos e
fomos salvos. Nada obstante, se estamos desviados e voltamos a pecar, podemos sofrer
enfermidade como disciplina de Deus. Se não nos arrependemos, podemos sofrer uma morte
prematura.
Quando alguém morre, é a alma e não o corpo, que, especialmente, sofre. A morte física é
um sofrimento muito real para a alma. Ser salvo em nossa alma de tal sofrimento é ser levado de
volta à verdade. Isto é o que significa trazer de volta um pecador apóstata e, por meio disso,
salvar sua alma da morte física.
O que Tiago descreve nesses versículos é parte da vida da igreja. Entretanto, é um
aspecto negativo da vida da igreja. Nesta epístola, não podemos encontrar coisas positivas
cobertas por Tiago com respeito à vida da igreja. Embora o que Tiago diga a respeito da vida da
igreja seja do lado negativo, ainda podemos receber muita ajuda positiva daquilo que ele escreveu
nesse livro. Em particular, podemos receber ajuda a respeito da perfeição cristã prática.
Tradução não autorizada
55
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM TREZE
UMA VIDA QUE NÃO ESTÁ PLENAMENTE DE ACORDO COM E PARA A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
(1)
Leitura da Escritura: Tg 1:1, 17-18, 21, 25; 2:2, 9-10; 3:13, 17; 4:4-5
No Evangelho de Marcos vemos uma vida ___ a vida do Senhor Jesus ___ que está
plenamente de acordo com e para a economia neotestamentária de Deus. Em contraste, na
Epístola de Tiago, vemos uma vida que não está plenamente de acordo com e para a economia
neotestamentária de Deus. Nesta mensagem e na mensagem seguinte, consideraremos vários
pontos no livro de Tiago que mostram uma mistura da economia neotestamentária com a
dispensação do Velho Testamento.
Tiago era um homem piedoso, e, humanamente falando, ele era muito sábio. Contudo,
em exemplo após exemplo, vemos que Tiago estava muitíssimo ocupado com as questões do
Velho Testamento. Sem dúvida, ele estava saturado, encharcado, com o sentimento, sabor e
atmosfera do Velho Testamento. Não podemos encontrar uma indicação forte, com Tiago, que ele
passou pela dispensação do Velho Testamento plenamente para a economia do Novo Testamento.
Entretanto, conforme seus escritos, eu não creio que ele experienciou uma terminação e
sepultamento completos de si mesmo junto com todas as coisas do passado, tanto boas como
más.
AINDA MANTENDO AS DOZE TRIBOS DA
DISPENSAÇÃO DO VELHO TESTAMENTO
Em sua epístola, Tiago ainda mantém as doze tribos da dispensação do Velho
Testamento. Isto é mostrado pela maneira que Tiago inicia este livro: “Tiago, servo de Deus e do
Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão” (1:1). O fato que Tiago dirige
sua epístola às doze tribos na Dispersão pode indicar a falta de uma visão clara a respeito da
distinção entre cristãos e judeus, entre a economia neotestamentária e a dispensação
veterotestamentária. Tiago pode não ter tido clareza que Deus, no Novo Testamento, libertou e
separou os judeus crentes em Cristo da nação judaica. Portanto, a expressão “doze tribos”, em
1:1 é muito velha; é algo da dispensação do Velho Testamento.
Conforme os escritos de Paulo, os judeus crentes em Cristo foram chamados por Deus
para fora da velha dispensação. No Livro de Gálatas, Paulo até considera o judaísmo como o
presente século mau: “O qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente
século mau, segundo a vontade de Deus, nosso Pai” (1:4). Conforme o contexto de todo o Livro
de Gálatas, o presente século mau, em Gálatas 1:4, refere-se ao mundo religioso, o curso religioso
do mundo, a religião judaica. Isto é confirmado por Gálatas 6:14-15, onde a circuncisão é
considerada uma parte do mundo, o mundo religioso, que está crucificado para o apóstolo Paulo.
Portanto, Paulo mostra, no Livro de Gálatas, que Cristo Se deu a Si mesmo por nossos pecados,
para nos livrar do mundo religioso judaico, o presente século mau.
O presente século mau em Gálatas 1:4 é igual à “geração perversa” em Atos 2:40. No dia
de Pentecoste, Pedro disse às pessoas para se salvarem desta geração perversa. Como, então,
pôde tal pessoa piedosa como Tiago dirigir sua epístola, que foi escrita a judeus cristãos, às doze
tribos na Dispersão? Isto certamente era contrário à economia neotestamentária de Deus.
Tradução não autorizada
56
POSSUINDO A VIDA DIVINA POR MEIO DO NASCIMENTO
DIVINO
Em 1:17 e 18, Tiago diz: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do
Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança. Pois, segundo o Seu
querer, Ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das Suas
criaturas”. Estes versículos mostram que o Pai das luzes nos gerou para sermos as primícias de
Suas criaturas. Isto se refere ao nascimento divino, nossa regeneração (Jo 3:5-6), que é levada a
cabo conforme o propósito eterno de Deus. O fato que fomos gerados pela palavra da verdade
significa que a palavra é a semente da vida, pela qual fomos gerados (1 Pe 1:23). Por
conseguinte, Tiago mostra que possuímos a vida divina por meio do nascimento divino.
Por um lado, Tiago dirige sua epístola às doze tribos. Por outro, ele fala a respeito da vida
divina recebida por meio do nascimento divino. As doze tribos são algo totalmente do Velho
Testamento, ao passo que a vida divina, recebida por meio do nascimento divino, é, certamente,
um assunto do Novo Testamento. Que mistura existe no escrito de Tiago! Ele mistura o Velho
Testamento com o Novo Testamento. Como podiam os regenerados por Deus, nascidos de Deus
serem chamados as doze tribos? Como Tiago pôde falar às doze tribos e então dizer que Deus os
gerara para serem como que primícias de Suas criaturas? Não obstante, isto é o que Tiago fez
neste livro. Como podiam as doze tribos serem geradas por Deus para serem primícia? Quando
comparamos 1:1 com 1:17 e 18, vemos quão nebulosa era a situação com Tiago, como mostrado
por esta epístola.
Neste ponto, desejo dizer que não devemos ser atraídos por uma pessoa simplesmente
por que ela é piedosa. Por todos os séculos, muitas pessoas piedosas estiveram numa condição
nebulosa com respeito à economia de Deus. Elas estavam sob uma nuvem, veladas por sua
piedade. É-nos possível ser desencaminhados por uma pessoa piedosa da mesma forma que
Paulo foi desencaminhado pelo piedoso Tiago em Atos 21. Não é fácil evitar a influência de uma
situação que está nebulosa espiritualmente.
Em Atos 21, Paulo aceitou a sugestão de Tiago de ir ao templo com alguns que tinham
tomado voto e pagar as despesas por eles. Podemos pensar que, ao fazer isto, Paulo era aberto e
agia conforme sua palavra aos coríntios: “Para os judeus tornei-me como judeu, a fim de ganhar os
judeus; para os que estão debaixo da Lei, como se eu estivesse debaixo da Lei (não me achando
eu debaixo da Lei), a fim de ganhar os que estão debaixo da Lei” (1 Co 9:20). Contudo, em Atos
21, o Senhor não foi tão aberto quanto Paulo supostamente fora. No último dia do voto, o sétimo
dia, um distúrbio aconteceu e Paulo foi preso. Se lermos Atos 21 cuidadosamente, veremos que o
Senhor não concordou com o que estava acontecendo em Jerusalém, e Ele veio para tratar com
isso.
RECEBENDO A PALAVRA IMPLANTADA
Em 1:21, Tiago diz: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade,
acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma”.
Neste versículo, Tiago assemelha a palavra de Deus a uma planta de vida, plantada dentro do
nosso ser, e crescendo em nós para produzir fruto para a salvação de nossas almas. Isto
certamente é um assunto maravilhoso. Entrementes, isto também está misturado com as questões
do Velho Testamento no escrito de Tiago.
GUARDAR A LEI PERFEITA DA LIBERDADE NA PRÁTICA
DO VELHO TESTAMENTO
Em 1:25, Tiago diz: “Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da
liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será
bem-aventurado no que realizar”. A lei perfeita, a lei da liberdade, é uma coisa excelente. Esta é a
lei da vida inscrita em nossos corações (Hb 8:10), o padrão moral que corresponde àquele da
constituição do reino dos céus decretado pelo Senhor no monte (Mt 5___7). Embora guardar a lei
perfeita da liberdade seja uma coisa muito positiva, Tiago fala de guardar essa lei na prática do
Tradução não autorizada
57
Velho Testamento. Isto é indicado pelo que ele diz em 1:26 e 27: “Se alguém supõe ser religioso,
deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião
pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”. Aqui, vemos que Tiago encarrega
os crentes a guardar a lei perfeita da liberdade em relação a três coisas: refrear a língua, visitar os
órfãos e as viúvas, e guardar-se incontaminado do mundo. Nenhum desses é um item crucial na
economia neotestamentária. Por meio disto, vemos que Tiago não nos diz para guardar a lei
perfeita da liberdade na prática do Novo Testamento. Antes, por meio de nos encarregar a refrear
nossa língua, visitar os órfãos e viúvas, e guardar-nos incontaminados do mundo, ele está falando
das práticas do Velho Testamento.
Quando lemos o capítulo um de sua epístola, vemos que Tiago mantinha o conceito de
guardar a lei perfeita. Em 1:22, ele diz que devemos nos tornar praticantes da palavra e não
somente ouvintes. Então, em 1:25, ele diz que aquele que considera, atentamente, na lei perfeita,
e nela persevera, sendo operoso praticante, será bem-aventurado no que realizar. Tiago está
dizendo claramente que devemos ser praticantes da lei. Um praticante da lei, conforme Tiago, é
aquele que guarda a lei. Entrementes, ele não nos fala da maneira neotestamentária de guardar a
lei da liberdade. O Novo Testamento ensina que guardamos a lei da liberdade por meio de viver e
andar segundo o Espírito. Todo o Novo Testamento não é para nós guardarmos por nós mesmos;
é para nós vivermos pelo Espírito, de modo que possamos guardá-lo. Meramente guardar é uma
questão de fazer por nós mesmos, ao passo que viver é por meio do Espírito que habita
interiormente, que está em nosso espírito regenerado. Agora, não precisamos tentar guardar a lei
por nós mesmos, e não precisamos ser seus praticantes por nosso próprio esforço. O de que
precisamos é andar segundo o Espírito. Isto significa que, em vez de sermos aqueles que fazem
por si mesmos, devemos ser aqueles que vivem pelo Espírito. Há uma grande diferença entre
aquele que guarda a lei por si mesmo e aquele que vive segundo o Espírito.
Na Epístola de Tiago, não há muita coisa que seja segundo o conceito do Novo
Testamento. Ao invés, em grande escala, o conceito, nessa epístola, é aquele do Velho
Testamento. Sim, Tiago fala da lei da liberdade, contudo ele fala dela na maneira
veterotestamentária de guardar a lei de letras. Tiago pode ter pensado que a lei mosaica não era
completa, não era perfeita, mas que o ensino do Novo Testamento é perfeito. Tiago pode ter
entendido que o ensino do Novo Testamento é perfeito e nos dá liberdade. Assim, conforme
Tiago, precisamos guardá-lo; precisamos ser seus praticantes. Seu conceito de como cumprir a lei
não está claramente de acordo com o Novo Testamento. Sua maneira de manusear a lei era
conforme a maneira do Velho Testamento de guardar e praticar por nós mesmos, não de acordo
com a maneira do Novo Testamento de viver, andar, agir, e ter nosso ser conforme o Espírito.
Alguns leitores da Epístola de Tiago podem pensar que não há nada errado com ser um
praticante da lei perfeita. Eles podem dizer: “Tiago está certo ao dizer que devemos ser
praticantes da lei. Certamente, todos nós devemos ser praticantes da lei perfeita da liberdade”. Se
lemos a Bíblia dessa maneira, nós a lemos conforme o entendimento natural, não conforme a
iluminação do Espírito. Na verdade, todos os ensinos do Novo Testamento são definições do viver
e do habitar do Espírito todo-inclusivo dentro de nós. Tentar guardar esses ensinos ou fazê-los por
nós mesmos não é nossa necessidade; nossa necessidade é andar conforme e por meio do
Espírito que habita interiormente. Quando andamos conforme e por meio do Espírito, vivemos a lei
perfeita, a lei da liberdade; vivemos todo o Novo Testamento. Não guardamos o Novo Testamento
por nosso próprio esforço; vivemos pelo Espírito para que possamos guardá-lo. Fazer é algo que é
de nós mesmos, mas viver é pelo Espírito Santo. Esta é a razão por que Paulo diz em Gálatas
2:20: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”. O conceito
do Novo Testamento é este: não mais eu, mas Cristo vive em mim. A Epístola de Tiago não é
clara nessa questão. Tiago sabia que fomos nascidos de Deus, que Deus nos gerou pela palavra
da verdade. Não obstante, seu conceito a respeito do viver do povo de Deus, e em particular a
respeito da perfeição cristã prática, parece ser baseado no conceito do Velho Testamento.
Tradução não autorizada
58
MISTURANDO A ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA COM A
PRÁTICA DA DISPENSAÇÃO DO VELHO TESTAMENTO
RESTAURADA
Tiago misturava a prática da economia neotestamentária com aquela da dispensação do
Velho Testamento restaurada. Isto é mostrado por seu uso da palavra “sinagoga” em 2:2. Vimos
que a palavra grega sinagoga é composta de duas palavras: Sun, junto e ago trazer;
conseqüentemente, ajuntamento, congregação, assembléia. Isto chegou a denotar o lugar de
ajuntamento e era usada no Novo Testamento para denotar a congregação (At 13:43; 9:2; Lc
12:11) e o lugar de congregar (Lc 7:5) dos judeus. Em Jerusalém havia um número regular de
sinagogas de vários tipos de judeus (At 6:9).
As sinagogas não existiram antes do cativeiro babilônico dos filhos de Israel. Depois que
o templo foi destruído, as sinagogas foram formadas. Os judeus iam à sinagoga procurando o
conhecimento de Deus pelo estudo das Sagradas Escrituras (Lc 4:16-17; At 13:14-15). Quando os
judeus retornaram do cativeiro, eles trouxeram de volta, a seu próprio país, esta prática de se
reunir nas sinagogas. Esta era uma prática da dispensação do Velho Testamento restaurada
depois que os judeus foram restaurados da Babilônia. Em Jerusalém, havia sinagogas para os
judeus que haviam retornado de diferentes áreas e tinham suas próprias línguas e costumes.
Depois que eles voltaram para Jerusalém, estabeleceram sinagogas conforme essas línguas e
costumes. Esta foi a razão por que havia diferentes sinagogas entre os judeus em Jerusalém.
Em 2:1 e 2a, Tiago diz: “Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor da glória, em acepção de pessoas. Se, portanto, entrar na vossa sinagoga...” Em 2:1,
Tiago fala da fé de nosso Senhor Jesus Cristo, e, no versículo 2, da sinagoga. Isto mostra,
claramente, uma mistura da economia neotestamentária com a prática da dispensação
veterotestamentária depois da restauração da Babilônia. Aparentemente, Tiago não tinha qualquer
conceito acerca da distinção entre cristãos e judeus. Como usada por Tiago, a palavra sinagoga
pode indicar que ele considerava a assembléia e o local de fazer assembléia, dos crentes judeus,
como aquele das sinagogas entre os judeus, talvez uma sinagoga cristã. Isto pode indicar que ele
considerava os cristãos judeus ainda uma parte da nação judia, como o povo escolhido de Deus,
de acordo com o Velho Testamento. Se for assim, isto mostra que ele carecia de uma visão clara
a respeito da distinção entre o povo escolhido de Deus do Velho Testamento e os crentes em
Cristo do Novo Testamento. Que mistura séria é esta!
AINDA GUARDANDO A LEI DE LETRAS DO VELHO TESTAMENTO
Nos capítulos dois e quatro de sua epístola, vemos que Tiago ainda guardava a lei de
letras do Velho Testamento. Por exemplo, em 2:9 e 10, ele diz: “Se, todavia, fazeis acepção de
pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que
guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos”. Esta palavra mostra
que Tiago ainda praticava a guarda da lei do Velho Testamento. Isto corresponde à palavra em
Atos 21:20, falada por Tiago e os presbíteros, em Jerusalém, a Paulo. Muitos milhares de crentes
judeus ainda permaneciam em uma mistura da fé cristã e a lei mosaica. Tiago e outros
aconselharam Paulo a praticar essa mistura semi-judaica (At 21:17-26). Em Atos 21, Tiago
encorajou Paulo a guardar a lei. Ele não tinha consciência que a dispensação da lei acabara e a
dispensação da graça devia ser plenamente honrada, e que qualquer negligência da distinção
entre essas dispensações era contra a administração dispensacional de Deus, e seria um grande
dano ao plano econômico de Deus para a edificação da igreja como a expressão de Cristo.
Portanto, a Epístola de Tiago foi escrita sob a nuvem de uma mistura semi-judaica.
COMPORTANDO-SE PELA SABEDORIA COM SABOR DO VELHO
TESTAMENTO
Em sua epístola, Tiago enfatiza a importância da sabedoria. Em 1:5, ele diz: “Se, porém,
algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes
Tradução não autorizada
59
impropera; e ser-lhe-á concedida”. Tiago percebia que a sabedoria de Deus é necessária para a
perfeição cristã prática. Em 3:13, Tiago fala a respeito da mansidão de sabedoria: “Quem entre
vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as
suas obras”. Conforme o contexto do capítulo três, mansidão de sabedoria refere-se ao refrear-se
no falar. Em 3:17, Tiago continua a falar da sabedoria do alto, dizendo: “A sabedoria, porém, lá do
alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons
frutos, imparcial, sem fingimento”. Esta sabedoria inclui a mansidão no versículo 13 e as virtudes
humanas mencionadas no versículo 17, todas as quais são características da perfeição cristã
prática conforme a visão de Tiago.
O que Tiago diz acerca da sabedoria tem um sabor do Velho Testamento. Conforme o
entendimento de Tiago, a sabedoria que é do alto pode ter sido muito semelhante à sabedoria
dada por Deus a Salomão. A sabedoria de Salomão não veio de baixo, do mundo, do Egito; sua
sabedoria veio do alto, de Deus.
O tipo de sabedoria da qual Tiago fala é a sabedoria para o comportamento humano. Esta
sabedoria tem um sabor do Velho Testamento, e não tem nada a ver com a sabedoria do Novo
Testamento. No Novo Testamento, a sabedoria de Deus é uma questão de viver Cristo, de ter
Cristo como tudo. Em 1 Coríntios 1:30, Paulo diz que Cristo se nos tornou, da parte de Deus,
sabedoria. Além do mais, a sabedoria do Novo Testamento não é para a edificação de nosso
caráter ou perfeição cristã; é para a edificação da igreja, o Corpo de Cristo. Se você ler 1 Coríntios
1 e 2, Efésios 1 e 3, e Colossenses 2, verá que há uma grande diferença entre essas duas
categorias de sabedoria ___ a sabedoria do Velho Testamento para o comportamento humano e a
sabedoria do Novo Testamento para ter Cristo como tudo, para que a igreja possa ser edificada.
Muitos cristãos apreciam o tipo de sabedoria encontrada no livro de Tiago. A razão por
que eles apreciam esse tipo de sabedoria é que eles não vêem as questões cruciais de Cristo
como vida e a edificação da igreja. Entre os cristãos hoje, poucas mensagens são dadas acerca
de desfrutar Cristo como tudo de modo que a igreja, o Corpo de Cristo, possa ser edificada. Ao
invés, os crentes têm um alto respeito pela Epístola de Tiago. Entrementes, podemos ver que há
uma grande discrepância entre a sabedoria na Epístola de Tiago e a sabedoria de Deus revelada
nas epístolas de Paulo.
TER O ESPÍRITO QUE HABITA INTERIORMENTE SOMENTE PARA
TRATAR COM O MUNDO
Em 4:4 e 5, Tiago diz: “Adúlteros, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra
Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Acaso julgais
que é em vão que a Escritura diz: Com zelos anela por nós o Espírito que ele fez habitar em nós?”
Esta é a única vez que Tiago menciona o Espírito que habita interiormente, e isto, negativamente,
a respeito de abolir a amizade do mundo, não positivamente, a respeito de viver Cristo para a
edificação do Corpo de Cristo. Portanto, Tiago não fala do Espírito que habita interiormente,
porém fala do Espírito somente em relação a lidar com o mundo.
A respeito do Espírito, há uma grande diferença entre o livro de Tiago e as epístolas de
Paulo. Paulo tem muito a dizer a respeito do Espírito que habita interiormente. Por exemplo, em
Romanos 8, o Espírito que habita interiormente nos leva a ter vida em nosso espírito, em nossa
mente, e, finalmente, em nosso corpo mortal. Desta maneira, o Espírito que habita interiormente
faz com que nosso ser tripartido seja plenamente saturado com a vida divina. Naturalmente, em
Gálatas 5, Paulo também fala da luta do Espírito contra a carne: “A carne milita contra o Espírito, e
o Espírito, contra a carne” (v. 17). Em outra parte, em Gálatas, Paulo fala do Espírito do Filho: “E,
porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba,
Pai!” (4:6). Recebemos o Espírito do Filho para que Cristo seja formado dentro de nós (Gl 4:19).
Que grande assunto é ter Cristo formado em nós! Por conseguinte, o Espírito do Filho não é
meramente para nós vencermos a carne e lidar com o mundo, mas é para Cristo ser formado
dentro de nós. Aqui, vemos uma ênfase positiva a respeito do Espírito que não é encontrada no
livro de Tiago.
Tradução não autorizada
60
ESTUDO-VIDA DE TIAGO
MENSAGEM QUATORZE
UMA VIDA QUE NÃO ESTÁ PLENAMENTE DE ACORDO COM E PARA A
ECONOMIA NEOTESTAMENTÁRIA DE DEUS
(2)
Leitura da Escritura: Tg 4:15; 5:7, 13-20; At 21:15-24
Nas mensagens anteriores, começamos a mostrar como, na Epístola de Tiago, vemos
uma vida que não está plenamente de acordo com e para a economia neotestamentária de Deus.
Até aqui, temos coberto oito características de tal vida, como se encontram nesse livro: manter
ainda a dispensação das doze tribos do Velho Testamento, possuir a vida divina por meio do
nascimento divino, receber a palavra implantada, manter a lei perfeita da liberdade na prática do
Velho Testamento, misturar com a prática da dispensação do Velho Testamento restaurada,
manter ainda a lei de letra do Velho Testamento, comportar-se pela sabedoria com o sabor do
Velho Testamento, e ter o Espírito que habita interiormente apenas para lidar com o mundo.
Nesta mensagem, consideraremos algumas outras características de uma vida que não
está plenamente de acordo com e para a economia neotestamentária de Deus.
AGINDO COMO OS SANTOS DO VELHO TESTAMENTO
Segundo 4:15, Tiago queria que disséssemos: “Se o Senhor quiser, viveremos, e faremos
isto ou aquilo”. Muitos cristãos gostam muito dos versículos 13 a 17 do livro de Tiago. Em 4:13,
Tiago mostra que não devemos dizer: “Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos
um ano, e negociaremos, e teremos lucros”. Em seguida, no versículo 14, Tiago continua a dizer:
“Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Pois nada mais sois que um vapor
que aparece por um pouco, e logo se desvanece”. Portanto, deveríamos dizer: “Se o Senhor
quiser...” Entretanto, este modo de viver é conforme a maneira do santos do Velho Testamento.
Os santos do Novo Testamento, pelo contrário, devem ser guiados pelo Espírito. Em Romanos
8:14, Paulo diz: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”. Ser
guiado pelo Espírito de Deus é muito diferente de dizer que faremos isto ou aquilo “se o Senhor
quiser”. Os santos do Novo Testamento são aqueles que são guiados pelo Espírito em seu viver
diário. Suponha que um irmão diga: “Se o Senhor assim quiser, eu amarei minha esposa”; ou que
uma irmã diga: “Se o Senhor assim quiser, eu serei sujeita a meu marido”. Esta não é a maneira
do Novo Testamento. Alguém que segue a maneira do Velho Testamento poderia dizer: “Se o
Senhor quiser, irei fazer compras amanhã. Mas se o Senhor não quiser assim, o que posso fazer a
não ser ficar em casa?” Em vez disto, todos nós devemos aprender, em nosso viver, a ser guiados
pelo Espírito. Dia a dia, e mesmo, momento a momento, devemos ser guiados pelo Espírito que
habita interiormente.
MISTURADO COM OS JUDEUS DA DISPENSAÇÃO DO
VELHO TESTAMENTO
Temos visto que, em sua epístola, Tiago parece não fazer uma distinção clara entre
cristãos e judeus, entre a economia do Novo Testamento e a dispensação do Velho Testamento.
Ele dirige essa epístola às doze tribos (1:1), e até usa o termo “sinagoga” (2:2) para indicar um
local de reunião para os cristãos judeus. Então, em uma seção parentética (5:1-6), Tiago parece
falar à classe rica entre os judeus em geral. Por conseguinte, dizemos que, aqui, temos uma
mistura com os judeus da dispensação do Velho Testamento.
61
AGUARDANDO A VOLTA DO SENHOR COM A
PACIÊNCIA DOS PROFETAS DO VELHO TESTAMENTO
E A PERSEVERANÇA DOS SANTOS DO VELHO TESTAMENTO
Em 5:7, Tiago diz: “Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor”. Aguardar a
vinda do Senhor com paciência é maravilhoso, e isto certamente é uma questão do Novo
Testamento. Entrementes, ao falar sobre aguardar a volta do Senhor, Tiago não teve o conceito
do Novo Testamento. Ao invés, ele usa os profetas como exemplo de paciência e Jó como
exemplo de perseverança. “Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os
quais falaram em nome do Senhor. Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes
ouvido da paciência de Jó e vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna
misericórdia e compassivo”.
O ensino de Tiago acerca de aguardar a volta do Senhor é muito diferente daquele do
Senhor Jesus e do apóstolo Paulo. Em Mateus 24:42, o Senhor diz: “Portanto, vigiai, porque não
sabeis em que dia vem o vosso Senhor”; e em Mateus 24:44, Ele diz: “Por isso, ficai também vós
apercebidos; porque, à hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá”. Aqui, vemos que, a
respeito de Sua vinda, o Senhor nos diz para vigiar e ficar apercebidos. Então, em Lucas 21:36, o
Senhor nos dá esse encargo: “Vigiai, pois, a todo tempo, orando”. A respeito da vinda do Senhor,
Paulo também nos encarrega a vigiar: “Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo
contrário, vigiemos e sejamos sóbrios” (1 Ts 5:6).
Os profetas e santos do Velho Testamento estão muito afastados de nós. Hoje,
entretanto, temos o Deus Triúno interiormente. Os profetas e santos do Velho Testamento podem
ter tido paciência e perseverança, contudo, hoje temos o Deus Triúno interiormente para ser nossa
perseverança e paciência enquanto aguardamos o Senhor Jesus.
PRATICANDO A VIDA DA IGREJA DE UM MODO
MISTURADO
Orando por um Crente Enfermo Ungindo-o no Nome do
Senhor
Em sua epístola, Tiago fala a respeito da prática da vida da igreja; entretanto, essa prática
é de um modo misturado. A primeira prática relacionada à vida da igreja coberta por Tiago em
5:13-20 é a prática de orar por um crente enfermo ungindo-o no nome do Senhor: “Está alguém
entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com
óleo, em nome do Senhor” (v. 14). Devemos admitir que é maravilhoso orar por um irmão enfermo
e ungi-lo com óleo no nome do Senhor.
Orando no Modo do Velho Testamento
Embora Tiago fale uma boa palavra a respeito de oração em 5:14-16, seu modo de orar é
aquele dos profetas do Velho Testamento. Isto é provado pelo fato que ele usa a oração de Elias
como exemplo: “Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com
instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu. E
orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos”. Podemos admirar essa
oração, e penso que ela é excelente. Paulo, no entanto, não fala dessa maneira. Antes, Paulo nos
diz para orar sempre no espírito (Ef 6:18). Orar no espírito é muito melhor, mais doce, e mais rico
que orar na oração. Este é orar no modo do Velho Testamento; aquele é orar no modo do Novo
Testamento. No caso de Elias, o Senhor deu-lhe uma oração particular como um fardo, e Elias
orou para que não chovesse. Conseqüentemente, orou na oração dada a ele pelo Senhor.
Contudo, hoje, temos o Espírito intra-habitante habitando em nosso espírito e intercedendo por nós
(Rm 8:26), e não precisamos de oração ou fardo especiais, porquanto podemos orar em nosso
espírito incessantemente (1 Ts 5:17).
Se não temos luz da parte do Senhor, podemos apreciar grandemente o que Tiago diz a
respeito da oração. Todavia, se formos iluminados pelo Senhor, veremos que o modo de orar
Tradução não autorizada
62
descrito por Tiago é o modo do Velho Testamento. Por isto, vemos que o escrito de Tiago nos tira
da prática do Novo Testamento e nos leva de volta á prática do Velho Testamento.
Convertendo um Irmão Desviado ao Arrependimento
para o Perdão no Modo do Velho Testamento
Em 5:19-20 Tiago fala de converter um irmão desviado ao arrependimento para o perdão:
“Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele
que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de
pecados”. Mesmo a palavra de Tiago sobre restaurar um irmão desviado está no modo do Velho
Testamento. O que ele diz acerca de cobrir uma multidão de pecados é quase uma citação do
Velho Testamento. O Salmo 32:1 diz: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo
pecado é coberto”. O Salmo 85:2 diz: “Perdoaste a iniqüidade do Teu povo; cobriste todos os seus
pecados”. Além do mais, Provérbios 10:12b diz: “O amor cobre todas as transgressões”. Esses
versos mostram claramente que, no Velho Testamento, perdoar pecado é cobri-lo. No Novo
Testamento, entretanto, perdoar pecado é esquecê-lo (Hb 8:12). Portanto, vemos uma vez mais,
dessa vez a respeito da prática da vida da igreja no modo misturado, que o conceito de Tiago de
restaurar um irmão desviado ao arrependimento para o perdão é conforme o modo do Velho
Testamento.
A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
Depois de considerar todas as questões na Epístola de Tiago que nos mostram uma vida
que não está de acordo com e para a economia neotestamentária de Deus, devemos continuar a
considerar um problema maior ___ o problema da inspiração das Escrituras. Visto que temos
mostrado muitíssimas falhas do livro de Tiago, alguns podem querer saber se essa epístola é
inspirada por Deus, se ela é soprada por Deus. Em 2 Timóteo 3:16, Paulo diz: “Toda a Escritura é
inspirada por Deus”. Por conseguinte, precisamos explicar cuidadosamente qual é nossa atitude
para com a inspiração das Escrituras em relação ao livro de Tiago.
Primeiro, cremos definitivamente que toda a Escritura é soprada por Deus, isto é, inspirada
por Deus. Cremos que cada palavra de cada livro da Bíblia foi soprada por Deus.
Segundo, embora cada linha e palavra da Escritura sejam inspiradas por Deus, isto não
significa que cada palavra nesse Livro santo seja a palavra de Deus, mas devemos ser muito
cuidadosos em nosso entendimento dessa questão. Na Bíblia, há uma grande quantidade de
palavras que não são palavras de Deus. Podemos dar vários exemplos para tornar essa questão
clara.
Em Gênesis 3:1, 3-5, temos palavras faladas pela serpente. Primeiro, a serpente
perguntou à mulher: “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?” (v. 1). Em
seguida, a serpente continuou a dizer: “É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia
em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do
mal (vs. 4-5). Essas palavras faladas pela serpente são, verdadeiramente, palavras proferidas pelo
Diabo, Satanás.
No Livro de Gênesis, temos também palavras faladas por pessoas malignas. Por
exemplo, em Gênesis 4:23-24, Lameque jactou-se para suas mulheres: “Ada e Zilá, ouvi-me; vós,
mulheres de Lameque, escutai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e
um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de Lameque, porém, setenta
vezes sete”. Por todo o Velho Testamento, muitas outras palavras foram faladas por malfeitores e
por aqueles que são inimigos de Deus e de Seu povo. Com certeza, nenhuma dessas palavras
são palavras de Deus.
Podemos citar mais exemplos do Livro de Jó e de Salmos. No Livro de Jó, muitas coisas
são faladas por Jó e por seus amigos, todos os quais eram piedosos. O jovem Eliú também era
uma pessoa piedosa. Finalmente, o próprio Deus entrou para falar e repudiou muitas das coisas
que tinham sido faladas por Jó e por seus amigos. Deus não reconheceu muitas das palavras
daqueles homens piedosos como Suas palavras. Em vez de ser a palavra de Deus, muitas das
palavras faladas por Jó e por seus amigos eram meramente humanas. Além do mais, nos Salmos,
Tradução não autorizada
63
certas palavras são meramente as elocuções de homens, ao passo que outras são,
verdadeiramente, a palavra de Deus.
No Novo Testamento, também encontramos palavras que não são a palavra de Deus.
Segundo o Evangelho de Mateus, o sumo sacerdote exigiu que o Senhor Jesus dissesse a Seus
investigadores se Ele era ou não o Cristo, o Filho de Deus (Mt 26:63). Depois que o Senhor Jesus
deu a Sua resposta, o sumo sacerdote declarou: “Blasfemou! Que necessidade mais temos de
testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia!” (v. 65). Ademais, o povo gritava: “Crucifica-O!
Crucifica-O!” (Jo 19:6). Certamente, conquanto os evangelhos foram soprados por Deus,
inspirados por Deus, as palavras do sumo sacerdote e do povo não são palavras de Deus.
Como registrado nos evangelhos, Pedro também disse certas coisas que não são a
palavra de Deus. Recebendo uma revelação do Pai, em Mateus 16:16, Pedro declarou: “Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo”. Entretanto, depois que o Senhor continuou a falar sobre Sua morte,
Pedro tomou-O e começou a reprová-Lo, dizendo: “Deus tal não permita, Senhor; isso de modo
algum te acontecerá” (Mt 16:22). Certamente, o que Pedro disse aqui não era a palavra de Deus.
Isto é provado pelo fato que o Senhor Se voltou e disse a Pedro: “Arreda, Satanás! Tu és para mim
pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (v. 23).
Realmente, o que Pedro disse nem era mesmo sua própria palavra; era uma palavra que veio de
Satanás.
Em Mateus 17:4, temos outro exemplo de uma palavra falada por Pedro que não é a
palavra de Deus: “Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua,
outra para Moisés, outra para Elias.” Aqui, Pedro falou de um modo absurdo, e sua palavra
certamente não era a palavra de Deus.
Outros exemplos de palavras faladas por Pedro que não são palavras de Deus podem ser
encontradas em Mateus 26:33, 70, 72 e 74. Depois que o Senhor Jesus disse aos discípulos que
todos eles se escandalizariam Nele, Pedro disse: “Ainda que venhas a ser um tropeço para todos,
nunca o serás para mim” (v. 33). Entretanto, quando ele foi questionado acerca de estar com
Jesus, ele o negou três vezes, dizendo: “Não sei o que dizes” (v. 70). Novamente, ele negou com
juramento: “Não conheço tal homem” (v. 72). Essas palavras foram faladas por Pedro, contudo
elas foram instigadas pelo Diabo, o maligno. Embora essas palavras estejam registradas nos
evangelhos e tenham sido sopradas por Deus, não são a palavra de Deus.
Avancemos para o Livro de Atos. Sem dúvida, quando Pedro se levantou no Dia de
Pentecostes, tudo que ele falou foi a palavra de Deus. Porém, no capítulo vinte e um de Atos,
temos o registro de palavras que não são palavras de Deus. Em Atos 21:20 e 21, Tiago e os
outros presbíteros disseram a Paulo: “Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os
judeus que creram, e todos são zelosos da lei; e foram informados a teu respeito que ensinas
todos os judeus entre os gentios a apostatarem de Moisés, dizendo-lhes que não devem
circuncidar os filhos, nem andar segundo os costumes da lei”. Perceba que Tiago mostra que
esses judeus eram todos zelosos pela lei. Então, Tiago e os outros prosseguiram para fazer a
seguinte proposta a Paulo: “Estão entre nós quatro homens que, voluntariamente, aceitaram voto;
toma-os, purifica-te com eles e faze a despesa necessária para que raspem a cabeça; e saberão
todos que não é verdade o que se diz a teu respeito; e que, pelo contrário, andas também, tu
mesmo, guardando a lei” (vs. 23-24). De quem é essa palavra? É a palavra de Deus? Não, esta
é uma palavra falada por presbíteros piedosos, dos quais Tiago era o líder. Não devemos pensar
que, apenas porque esses homens eram piedosos, o que eles falaram aqui é a palavra de Deus.
Em 1 Coríntios 7, Paulo diz: “Com respeito às virgens, não tenho mandamento do Senhor;
porém dou minha opinião, como tendo recebido do Senhor a misericórdia de ser fiel” (v. 25).
Depois de dar sua opinião a respeito da questão, Paulo concluiu: “Penso que também eu tenho o
Espírito de Deus” (1 Co 7:40). Aqui, vemos que Paulo primeiro falou sua própria opinião. Por fim,
ele teve a ousadia de dizer: “Eu também tenho o Espírito de Deus.” Você pensa que Tiago e os
outros presbíteros, em Jerusalém, poderiam ter falado tal coisa em Atos 21? Depois de mostrar a
Paulo quantos milhares de crentes judeus eram zelosos pela lei, e depois de encorajá-lo a ir ao
templo com aqueles que haviam aceitado voto, poderiam Tiago e os outros presbíteros ter ousadia
para dizer: “E eu creio que nós também temos o Espírito de Deus?” Não, eles certamente não
poderiam ter dito isto. O que foi falado por Tiago e os outros presbíteros, em Atos 21, não foi a
palavra de Deus; ao invés, foi a palavra de homens piedosos.
Tradução não autorizada
64
Tanto em Atos 21 quanto na Epístola de Tiago, temos palavras faladas por Tiago, um
homem piedoso. Se entendermos a natureza do capítulo 21 de Atos, conheceremos a posição da
Epístola de Tiago. Em Atos 21 e no livro de Tiago, temos as palavras de um homem piedoso.
Guardar a lei é piedoso, e cumprir um voto e pagar a despesa necessária para os outros é também
piedoso. Em sua epístola, Tiago escreveu de uma maneira piedosa a respeito de muitas coisas:
visitar as viúvas, e os órfãos, guardar-se a si mesmo incontaminado do mundo, cumprir a lei
perfeita da liberdade, dizendo “se o Senhor quiser”, a respeito do futuro, encorajando os crentes a
orar conforme o exemplo de Elias. A palavra de Tiago a respeito dessas coisas pode ser piedosa,
mas não é palavra de Deus. Não obstante, esse livro está incluído entre os escritos sagrados, que
foram soprados por Deus, inspirado por Deus.
Da mesma forma que os capítulos um e dois de Gênesis foram soprados por Deus, assim,
o capítulo três de Gênesis também foi soprado por Deus. Embora certas palavras em Gênesis 3
não sejam palavras de Deus, todo o capítulo foi soprado por Deus. Deus inspirou este registro
com um propósito. Se não tivéssemos o registro do falar da serpente, como se encontra em
Gênesis 3, não poderíamos conhecer a sutileza da serpente. Portanto, Deus soprou esse registro
a fim de expor a sutileza do inimigo.
O princípio é o mesmo a respeito da palavra de Pedro ao Senhor Jesus em Mateus 16:22.
Se essa palavra não tivesse sido registrada, não seríamos capazes de saber como um crente, uma
pessoa que amava o Senhor ao máximo, e que recebeu do Pai a revelação elevada a respeito
Dele, poderia ainda ser instigado pelo inimigo, Satanás, a falar algo contrário à economia de Deus.
A palavra de Pedro, nesse versículo, verdadeiramente não é a palavra de Deus. Contudo, esse
registro foi soprado por Deus com o propósito de mostrar-nos a instigação e sutileza malignas do
inimigo de Deus.
De modo semelhante, embora certas palavras na Epístola de Tiago sejam as palavras de
Tiago e não as palavras de Deus, Deus inspirou a escrita dessa epístola com um propósito
específico. Parte desse propósito é para que possamos perceber que é possível, mesmo a um
homem piedoso, ter um véu a respeito da economia neotestamentária de Deus. Se o livro de
Tiago não fosse parte das Escrituras, haveria um buraco, uma lacuna, na Bíblia. Sem Atos 21 e o
livro de Tiago, provavelmente nenhum de nós jamais pensaria que um homem piedoso poderia ter
um véu e estar coberto em relação à economia de Deus. Se não tivéssemos Atos 21 e a Epístola
de Tiago, jamais imaginaríamos que um homem piedoso pudesse ter tal carência com respeito a
uma visão clara da economia neotestamentária de Deus. Por conseguinte, devemos ser
agradecidos por termos o livro de Tiago para ajudar-nos a perceber que não é adequado
simplesmente ser piedoso, santo, escriturístico, espiritual e vitorioso. Talvez, isto possa ter sido
adequado para que alguém fosse santo no Velho Testamento, porém não é suficiente para sermos
um membro de Cristo do Novo Testamento, um filho genuíno de Deus regenerado por Ele. Isto
deve ajudar-nos a entender por que a Epístola de Tiago está incluída como parte das Escrituras
sopradas por Deus. Essa epístola foi incluída com o propósito de mostrar-nos que é possível para
um homem piedoso estar muito longe da economia neotestamentária de Deus.
Eu percebo que, pelo falar francamente a respeito das falhas da Epístola de Tiago com
respeito à economia neotestamentária de Deus, corro o risco de ser acusado injustamente de não
crer que toda palavra na Bíblia é soprada por Deus, inspirada por Ele. Entretanto, se todas essas
mensagens do Estudo-Vida de Tiago, especialmente esta mensagem, forem lidas
cuidadosamente, ficará claro que não há base para se dizer tal coisa. Não temos a menor dúvida
acerca da inspiração divina da Bíblia. Pelo contrário, temos o entendimento adequado a respeito
da inspiração das Escrituras. Cremos que toda a Bíblia, cada palavra na Escritura, é soprada por
Deus. Não obstante, nem toda palavra na Bíblia é a palavra de Deus. Como temos visto, muitas
palavras registradas nas Escrituras são palavras de Satanás, de homens malignos, de opositores
de Deus, e são até mesmo o falar absurdo de homens piedosos. Ademais, todas as palavras das
Escrituras foram sopradas por Deus e registradas com um propósito específico. Em Gênesis 3, o
propósito é expor a sutileza do inimigo. Em Atos 21 e no livro de Tiago, o propósito é mostrar-nos
a possibilidade de que uma pessoa piedosa pode carecer da visão clara, celestial da economia
neotestamentária de Deus. Louvado seja o Senhor que tudo na Bíblia é o sopro de Deus, e tudo
foi registrado para servir a um propósito específico! Agradecemos a Deus pelas Escrituras
sopradas por Ele.